Imagem ilustrativa da imagem Um ano do primeiro registro de Covid-19 em Londrina
| Foto: Roberto Custódio

Dia 17 de março de 2020, na FOLHA: “Sesa confirma primeiro caso de coronavírus em Londrina”. Há um ano, houve a confirmação da Secretaria de Estado da Saúde de que a pandemia havia chegado na cidade. Como o resto do mundo, Londrina não ficou impune: isolamento, medidas restritivas, home office, decretos, desemprego, manifestações, luto. Um ano que fica para a história.

No último fim de semana, a FOLHA publicou caderno especial contando o desenvolvimento da pandemia na cidade. Um ano de Pandemia em Dados mostra como o coronavírus evoluiu nesse período, impactando a rotina do londrinense.

Consequências que ninguém previa seguir por tanto tempo. “No hospital, ninguém imaginava que pudesse durar um ano. Quando começaram a diminuir os casos em outubro, a gente achou que em dezembro estaria mais tranquilo, chegamos a ter essa expectativa”, conta Fátima Hirth Ruiz, que é enfermeira no HU (Hospital Universitário de Londrina) e no Samu.

Durante esse período, a enfermeira atuou na linha de frente contra a Covid-19 na cidade, retornando ao setor de MI (Moléstias Infecciosas) do HU há duas semanas. Foi ela que também atendeu os primeiros casos na cidade. “Lembro de uma família, a filha e o pai ficaram internados e os vizinhos estavam preocupados com a mãe, mas ela não chegou a ter Covid-19", recorda.

Essa família ficou marcada na memória da enfermeira. A filha foi intubada no mesmo dia que chegou ao hospital, ficou um mês na UTI e teve alta, mas não sem sequelas. O pai foi intubado três dias depois da internação da filha, mas não resistiu.

Ruiz recorda que as primeiras notícias de óbito por Covid-19 geraram muita comoção na cidade. “Acho que era um medo geral, todo mundo noticiando que morreu um, morreu outro, nós já sabíamos de morte no exterior e aqui ainda não sabia nada a respeito”, afirma.

PRIMEIRA MORTE

Londrina registrou a primeira morte no dia 3 de abril. Nesse dia, estabelecimentos comerciais, escolas, igrejas entre outros serviços não essenciais estavam fechados há quase duas semanas. O primeiro decreto começou a valer no dia 22 de março, deixando a cidade vazia, e se estendeu até o dia 20 de abril.

Nesse período, a cidade mudou, foi implantado o Disque-Coronavírus, as igrejas passaram a acolher pessoas em situação de rua, o movimento “fique em casa” se intensificou e restaurantes clássicos fecharam as portas definitivamente. Foram levantadas campanhas de doação para pessoas em vulnerabilidade social e para equipar hospitais, na busca de respiradores e EPIs (Equipamentos de Proteção Individual).

Com tanta novidade e pouca informação sobre o vírus, a enfermeira lembra que funcionários dos hospitais tinham receio e pediam para trocar de setor. “O receio ainda existe, obviamente, continua presente, porque sempre tem algo novo. A gente vê hoje que tem cepa nova, com a infecção mais agressiva, mas apesar do receio, sempre existiu precaução”, afirma.

Com os números crescendo, o governo do Estado decretou o fechamento comércio em todo o Paraná, incluindo Londrina. Em julho, o HU abriu o Hospital de Retaguarda, um mês depois, a cidade foi classificada com a bandeira vermelha, quando se tem alto risco de infecção.

Apesar da redução dos números de outubro, a cidade voltou a bater recordes de infecção em dezembro. “É assustador, triste e angustiante. Ficar na expectativa que vai diminuir e parece que está secando gelo.” A declaração não é sobre aquele momento, é sobre a situação atual.

Fátima Hirth Ruiz, enfermeira que atuou na linha de frente e a primeira vacinada em Londrina: "A gente está bem cansada, mas não pode perder a fé"
Fátima Hirth Ruiz, enfermeira que atuou na linha de frente e a primeira vacinada em Londrina: "A gente está bem cansada, mas não pode perder a fé" | Foto: Isaac Fontana/Frame Photo/Folhapress

PRIMEIRA VACINA

Os índices agora avançam com velocidade, ainda que no caminho também tenham chegado boas notícias, como a chegada do primeiro lote de vacinas em janeiro. A enfermeira estava lá, em posição de honra. Ela foi a primeira pessoa a ser vacinada da cidade. À época, deu entrevista dizendo que “A palavra que define é esperança”.

“E eu ainda tenho (esperança). Quero que cheguem mais vacinas, que o pessoal mais velho seja imunizado, que vão diminuindo as idades até chegar na moçada. Eu ainda tenho esperança, a gente está bem cansada, esgotada, mas não podemos perder a fé, manter esse sentimento para seguir em frente, resistir”, declara.

Ruiz ressalta que depois da chegada da vacina também houve aumento da infecção. Nos últimos meses a cidade está passando pela superlotação dos hospitais e desgaste das equipes. Um novo decreto estadual foi publicado para conter a infecção. A falta de oxigênio é uma preocupação atual.

DESCRENÇA DA POPULAÇÃO

Para ela, mais que vacina, é preciso conscientização. “Quando alguém sabe onde eu trabalho, pergunta: ‘mas é tudo isso mesmo?’. Sim, o hospital está lotado! Não é mais o pessoal idoso que está sofrendo, a gente vê pessoas cada vez mais jovens internadas e evoluindo para forma mais grave mais rápido ainda. Há uma descrença da população”, lamenta.

Já com as duas doses da vacina tomadas, a enfermeira afirma que não é o momento de se descuidar. “Eu tomei, mas os cuidados continuam. Infelizmente, se não houver precaução, é provável que isso tudo vá se estender por mais um ano aí”, comenta.

Um ano de desgaste e dor, sem previsão para terminar. No dia 17 de março de 2021, na FOLHA: “Londrina tem 41.834 casos confirmados e 817 mortes por coronavírus.”

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