O telefonema derradeiro foi na sexta-feira passada, dia 20. A última casa de três dispensou os serviços da diarista Lilian Paula da Silva, 29, casada, três crianças para alimentar. Os avisos surgiram como a pandemia, altamente contagiosos e um a um chegaram trazendo notícias ruins. Por conta do isolamento social decorrente do novo coronavírus, trabalhadores informais não encontram alternativas para o sustento. Muitos deles estão no Residencial Vista Bela, zona norte de Londrina, onde a Amvibe (Associação de Mulheres do Vista Bela) está pedindo doação de alimentos.

Imagem ilustrativa da imagem Associação de mulheres do Vista Bela pede doação para moradores
| Foto: Roberto Custódio

“Meu marido monta artes visuais, cola adesivos de estandes em feiras, mas a firma fechou, porque ele não pode viajar e a ExpoLondrina 2020 foi cancelada. Quando começou o isolamento, ele tinha acabado de voltar de um trabalho no Rio Grande do Sul e até agora ele não recebeu as diárias que ele fez por lá”, comenta Silva. O que era pouco, ficou mais difícil. Com os dois isolados em casa, não há indício de solução a não ser depender de ajuda para viver com as três crianças em casa. “Eu recebo R$ 100 de um auxílio do governo, mas este mês não veio. Recebemos um kit com alimentos da escola também, uma vizinha me ajuda, às vezes as associações”, comenta.

A Amvibe é uma delas. Mediante tantas famílias do bairro que já sofriam com desemprego, agora, com a dispensa dos trabalhos por conta do novo coronavírus, as mulheres da associação promoveram a campanha #1portodosetodospor1 para pedir ajuda. “Nós temos 21 famílias cadastradas e temos mais 18 em lista de espera, mas tem muito mais gente precisando aqui com essa situação”, afirma Rita de Cássia Barbosa, presidente da Amvibe.

Elas pedem itens da cesta básica e produtos de higiene pessoal e limpeza. “É muito difícil, porque temos muitas famílias que vivem de ‘bicos’ e não podem trabalhar, estão em quarentena para evitar a disseminação do vírus e estão tentando fazer alguma coisa, mas não descobriu ainda como ganhar dinheiro nesse momento. Se o próprio comércio está fechado e está com dificuldade, você imagina esse pessoal autônomo”, menciona.

Como Cyntia de Carvalho, 34, que desempregada, passou a trabalhar como diarista para contribuir com a renda da família. Ela também foi dispensada, mas o marido, servente de pedreiro, está conseguindo trabalhar. “Ele foi demitido da firma em dezembro do ano passado, era servente registrado, agora está fazendo ‘bico’ em obra, ele recebe R$ 60 por dia”. R$ 60 por dia para cinco pessoas que vivem na casa. “Quando tem melhora financeira, eu faço salgadinho e vendo”, acrescenta.

Ela também faz parte da associação e revela como a situação está preocupando os vizinhos. “O primeiro impacto que a gente teve foi aquele do isolamento, tomando cuidado para não transmitir o vírus para ninguém, agora estamos de mãos atadas financeiramente, porque ninguém tem o que fazer”, afirma a diarista.

Quando foi entrevistada, no início da semana, a diarista disse que como o marido continuava trabalhando, se sentia privilegiada em comparação a outros moradores. “A gente está conseguindo, comprando o que é primordial, pega o dinheiro do dia e compra, mas estamos com condomínio, luz e outras contas atrasadas. Mas tem gente que não tem de onde tirar, não tem como, por mais que a gente esteja isolado, eu falo com os vizinhos pelo celular e vejo que para mim está ruim, mas tem gente muito pior", lamenta.

SERVIÇO - Interessados em realizar doações de alimentos e produtos de higiene e limpeza para a Amvibe podem entrar em contato pelo WhatsApp ou telefone da Rita de Cássia Barbosa: (43) 99933-8877.