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Célia Musilli 5m de leitura

Caetano Veloso, 80 anos: a trilha sonora da minha vida inteira

Ele celebra aniversário em live aberta a todos neste domingo, às 20h25, no Globoplay, com transmissão simultânea no Multishow

ATUALIZAÇÃO
08 de agosto de 2022

Celia Musilli - Editora
AUTOR

Imagem ilustrativa da imagem Caetano Veloso, 80 anos: a trilha sonora da minha vida inteira

Neste domingo (7), ele faz 80 anos.

Incontáveis as vezes em que ouvi Caetano, senti Caetano, me apaixonei com Caetano, sempre ao meu lado, ou melhor,  nos meus ouvidos, sensibilizando o verbo que deságua em "caetanear."

A paixão começou na infância, ouvindo e cantando "Alegria, Alegria", um marco, o início, um indício de que o Brasil , então na ditadura militar, tinha um lado muito mais feliz.

"Alegria, Alegria", enquanto o exército perseguia pessoas nas ruas. "Alegria, Alegria" profetizando um tempo que seria muito maior com a Tropicália, com aquele bando feliz, colorido, compondo as canções mais bonitas que me acompanhariam numa trilha sonora que durou mais que os casamentos. "Sobre a cabeça os aviões, sob meus pés os chapadões, meu nariz".

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Nascia uma nova ordem, o inverso da crueldade dos tanques nas ruas, com homens duros sendo obrigados a ver uma outra nação nascendo mais feliz. Ele já havia escrito a música "Terra" na prisão. Depois, isso tudo valeria o exílio para a tribo da Tropicália.

Dizem que Caetano no exílio em Londres, triste com a distância, nunca se conformou em estar fora do País, longe dos seus amores e contrariado compôs uma obra-prima: "London, London." Foi quando começamos a ver discos-voadores:  "While my eyes Go looking for flying saucers in the sky."

Ele voltaria definitivamente ao Brasil em 1972. João Gilberto deu o mapa num telefonema: "Ouça bem, você vai desembarcar no Rio, todas as pessoas vão sorrir pra você." E João o convidou para participar de um especial na televisão.

Mais tarde, nos anos 1980, ele continuaria ídolo de várias gerações. Viriam pérolas como "Vocé é Linda", "Trem das Cores", "Eclipse Oculto", "Menino do Rio"." Caetano requebrando com seu corpo eternamente flexível, seus pés de samba de Santo Amaro da Purificação, sinalizava  à nação que o amor era grande, muito maior do que se supunha.

O amor do homem pela mulher, da mulher pelo homem, da mulher pela mulher, do homem pelo homem. Com todos os seus amores ele deflagrava a revolução. Não a dos tanques nas ruas, mas a do corpo  no corpo, da mente com a emoção. Revolução! E os "bons costumes" nunca mais seriam os mesmos, graças também a ele. E graças a Deus!

Cantei todas essas canções, em rodas de violão no meio universitário de Londrina, adentrando os anos 1990 com a trilha sonora dos meus amores. Olhares compridos para o moço que cantava comigo, que parecia se apaixonar também, mas o amor era outro, ele era homossexual e foi uma das minhas grandes paixões. Cantamos juntos todos as músicas de Caetano, era essa a celebração de nosso amor. E foi como sempre foi: "É proibido proibir!"

Caetano faz 80 anos.  Imagino hoje se sua canção-tema será "Oração ao Tempo", na voz deste "senhor tão bonito".

Ou será  aquela outra que me  lembra meu pai se despedindo da vida: "O homem velho deixa a vida e morte para trás (para trás)/ Cabeça a prumo, segue rumo e nunca, nunca mais (nunca mais)/ O grande espelho que é o mundo ousaria refletir os seus sinais/ O homem velho é o rei dos animais."

Caetano rei profetiza também a eternidade, que não está na duração da vida, está na duração da arte, como veremos neste domingo (7), em live aberta a todos na Globoplay, com transmissão simultânea  no Multishow, às 20h30. A festa ao vivo - com direito a algumas cenas no Fantástico - é a celebração de seu aniversário, cantando e dançando com os filhos Moreno, Zeca e Tom, com a irmã  Maria Bethânia.. 

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Na festa, ele estará fazendo o que gosta, com os passos miúdos do samba baiano, do coco regado a tantos talentos que se condensaram neste leão fabuloso que atrás de si deixa um rastro de luz e de canções.

De tantos amores e desamores sobram poemas, isso é maior que a dor. Obrigada pela trilha da minha vida inteira.

Salve, Caetano! No samba com seus filhos, eternamente baiano e brasileiro, como rei dos animais e rei dos ancestrais. Amém! 

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