Enfim, férias
Não tem preço a sensação de aposentar a bolsa a tiracolo e desligar o alarme do despertador sem se importar se são 8, 9 ou 10h
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sábado, 27 de abril de 2024
Não tem preço a sensação de aposentar a bolsa a tiracolo e desligar o alarme do despertador sem se importar se são 8, 9 ou 10h
Celia Musilli
Finalmente, você está ali, tirando o tênis e o jeans, a camisa e o orçamento apertado, olhando o saldo bancário que dobrou para depois mirrar, se você não se lembrar que no mês seguinte ao relaxamento terá apenas um holerite com centavos. A menos que você seja do tipo que chuta o balde das finanças, a ideia é "aproveitar com moderação", ainda que a vontade seja sair pelo mundo sem limites ou para aquela viagem sonhada até engolir o estouro do cartão de crédito na volta. Eu, hein?
Mas não tem preço a sensação de aposentar a bolsa a tiracolo, tirar as botas para dias frios, a sandália para os dias quentes, desligar o alarme do despertador sem se importar se são 7, 8, 9 ou 10 horas em plena segunda-feira. A ordem é esquecer a pressa para se lembrar que:
- Tirar férias é chegar ao fim do rally depois da tempestade.
- Ao Pico da Bandeira depois dos precipícios.
- Subir numa árvore com 60 anos.
- Empinar papagaio em dia de vento.
- Calçar o chinelo no escuro.
- Subir as escadas sem perder o fôlego.
- Ficar bem-vestida de short e camiseta.
- Fazer um gol de bicicleta.
- Atravessar a nado o rio Paranapanema.
- Cozinhar um galo até que fique macio.
- Fazer fogueira na chuva.
- Contornar a ira e os desaforos daquela fulaninha que usa politicamente seus textos sem permissão.
- Planar de asa-delta sem treino.
- Guardar a tocha olímpica do excesso de trabalho.
- Fazer do longo feriado uma nova experiência de vida.
Olhar pelo retrovisor aqueles 365 dias que se passaram, cheios de eventos, lançamentos, shows, festivais, políticas culturais na agenda malhada de tanto manuseio, não tem preço.
É preciso sorrir quando você finalmente vê na estrada a placa onde está escrito "férias", ainda que sejam apenas 30 dias até voltar a nado para a outra margem do rio chamado Carreira dos Atirados, Profissão dos Estressados ou Plantão dos Domingos Vencidos.
Até a volta!