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Marco Rossi - Cidade Futura 5m de leitura

Compaixão também se aprende na escola

ATUALIZAÇÃO
24 de maio de 2022

Marco A. Rossi
AUTOR

Imagem ilustrativa da imagem Compaixão também se aprende na escola

Assim o Dicionário Houaiss descreve o significado de “compaixão”: “sentimento piedoso de simpatia para com a tragédia pessoal de outrem, acompanhado do desejo de minorá-la; participação espiritual na infelicidade alheia que suscita um impulso altruísta de ternura para com o sofredor”.

É bem possível que esse seja o sentimento que mais nos faz falta nos dias que correm. Diante do aumento progressivo de toda sorte de desigualdade, optamos por questões menores, frugais ou absurdas, cientes de que estamos a fazer a coisa certa.

Em sua última coluna na "Folha de São Paulo", Alexandre Schneider acertou o ponto: enquanto milhões de pessoas passam fome e famílias inteiras vagam pelas ruas, pauta-se no Congresso a educação domiciliar. Além do caráter inapropriado do próprio assunto a se discutir, ele passa por cima da ideia de compaixão. Mais do que nunca, é preciso que estejamos juntos, dividindo espaços, trocando ideias, compartilhando esperanças. A aposta no isolamento é uma opção fora do lugar, como já se disse sobre ideias políticas importadas no Brasil.

Sou professor há mais de 25 anos. Passei por colégios, ensino profissionalizante, cursinhos e cheguei cedo, no ano 2000, ao ensino superior. Em todo esse tempo, vi que é em sala de aula que ocorrem os grandes momentos na vida de um estudante. Descobre-se a amizade; fortalece-se a singularidade; expressa-se a necessidade do trabalho comum. Eu diria até um pouco mais: na escola, em qualquer um de seus níveis, surge a figura do outro como interlocutor, cuja presença ao longo de uma vida poderá nos dizer o que somos e o que queremos ser, na concordância ou na discordância – sempre de modo justo e civilizado.

É evidente que o suporte familiar é fundamental. Ter em casa quem nos estimule e ensine é um aspecto vital na formação do caráter de todas as pessoas. Mas é na escola, espaço da diversidade e da pluralidade, que contrastamos nossa personalidade, encontramos lacunas em nosso jeito de ser e pensar, percebemos quanto estamos ou não sintonizados com as ideias em produção e circulação. Nesse espaço de convívio e permutas, olhamos para fora e desenvolvemos os traços urgentes da solidariedade. Se déssemos mais valor às escolas, haveria menos gente erguendo placas em que se lê “fome” nos faróis.

Falei em compaixão porque a vejo como antídoto a essas sanhas por apartações. O sofrimento do outro, numa vida em sociedade, deveria ser parte de nossos sofrimentos também. Do mesmo modo, aquilo que se ensina a todos deve ser ensinado a mim também, por uma única razão: dividiremos este mundo, queiramos ou não. A educação escolar exige esse compromisso com a comunidade, hoje tão polarizada exatamente por ausência de um olhar terno, humilde, de semelhante para semelhante.

O desejo por uma educação domiciliar responde a uma misteriosa forma de não querer ser parte do todo, de se sentir distante de uma realidade em que fome, desemprego e indiferença matam. A compaixão – que se aprende nas escolas – diz não a essa visão das coisas.

Leia mais: https://www.folhadelondrina.com.br/folha-2/lei-municipal-fortalece-o-empreendedorismo-nas-escolas-3205764e.html

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