Faz quase sete anos que escrevo semanalmente na Folha de Londrina. É uma tarefa que exige olhar atento, percepções aguçadas, envolvimento por inteiro. A responsabilidade de escrever para possíveis milhares de leitores chacoalha o escritor, pode até envaidecê-lo, mas não supera a necessidade de cuidar da escolha de cada palavra, de pensar mil vezes antes de defender uma ideia, de jamais ter medo de assumir uma posição. Honestamente, sem nenhuma vaidade nem qualquer ilusão, trabalho com a certeza de estar do lado certo da história.

No começo, em 2017, a missão de contribuir para um jornal de grande circulação me intimidou. Vivíamos, para agravar as coisas, uma época que já abastecia a polarização ideológica atual, com sentimentos miúdos à flor da pele e uma absurda coleção de loucuras sendo repetida minuto após minuto por lunáticos que estavam no poder ou lambendo as botas daqueles que logo chegariam lá. Era o tempo dos terraplanistas, dos astrólogos bêbados, dos que ostentavam orgulho de ser preconceituosos e cultivar rancor e ódio. Como encarar essa realidade, sendo declaradamente um sujeito de esquerda e um consciente defensor de um mundo que, um dia, supere a barbárie que nos liquida?

A motivação desde o início foi compor o debate público, influenciar ideias, debater temas que se referem à vida real das pessoas. O nome da coluna, aliás, extraí de um conhecido texto de Antonio Gramsci, de 1917, um século antes de minha estreia por aqui. Gramsci, o comunista sardo, escreveu: “Sou resistente, vivo, sinto na virilidade da minha consciência pulsar a atividade da cidade futura que estou ajudando a construir. Nela, cadeia social não pesa para poucos, cada acontecimento não é devido ao acaso, à fatalidade, mas é obra inteligente dos cidadãos”. Movido pela crença de estar fazendo coisa semelhante em Londrina, na penúltima curva terceiro-mundana, venho escrevendo nesta FOLHA a minha “A cidade futura”.

Muitos me perguntam se não é infrutífero escrever para um jornal na era da internet, na qual quase ninguém lê impressos e os veículos tradicionais de imprensa sofrem pesada represália de redes sociais e influenciadores digitais. Ainda que também ocupem os espaços virtuais, os veículos “antigos”, digamos assim, têm de concorrer com mentiras, textos lacradores, memes, bobagens de toda sorte. Mas é exatamente essa insistência em fazer circular algo minimamente confiável, enraizado na verdade dos fatos, que me instiga a escrever na “grande mídia”, digamos assim também.

Ao longo desses últimos anos, pude, feliz da vida, ver minha coluna ser trabalhada em sala de aula, investigada em textos acadêmicos e tornar-se objeto de discussões no campus da UEL e nas ruas plurais de Londrina. Uns apreciam, outros tripudiam. Mas o debate está dado, e é isso que importa.

Não tenho nem quero ter bola de cristal. Não sei até onde este espaço irá. Desejo apenas, enquanto ele durar, que eu possa alimentar, democraticamente, minha visão de mundo e partilhá-la com todos aqueles que namoram a esperança. Esses amantes merecem um futuro que não esteja no passado.

* A Cidade Futura voltará a ser publicada em fevereiro de 2024, o colunista está em férias.

* A opinião do colunista não reflete, necessariamente, a ada Folha de Londrina.