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Domingos Pellegrini 5m de leitura

DOMINGOS PELLEGRINI - “Querendo se aprende tudo”

ATUALIZAÇÃO
29 de abril de 2022

Domingos Pellegrini
AUTOR

Imagem ilustrativa da imagem DOMINGOS PELLEGRINI - “Querendo se aprende tudo”
Roberto Ramos Cotrim, jornaleiro que na Avenida do Café toca uma das últimas bancas de rua em Londrina
 

Sobrevalente é palavra que crio, para quem não só não se deixa vencer como se vale das crises e desafios - como Roberto Ramos Cotrim, jornaleiro que na Avenida do Café toca uma das últimas bancas de rua em Londrina. Tivemos bancas inesquecíveis, e umas poucas continuam embutidas no comércio aqui e ali, a do Roberto é na frente de supermercado. Abre às sete da manhã e fecha às sete da noite, vendendo poucos jornais e revistas, mas muita coisa mais.

Já experiente no ramo, ele comprou a Banca Cambará há seis anos, quando já se via bem que não seriam mais bom negócio bancas de jornais e revistas, mas, diz Roberto, “isto é menos de vinte por cento do que a banca rende hoje”. Ele acha que é assim porque “antes, a gente via na tevê a notícia e no dia seguinte ia comprovar no jornal, hoje tá tudo no celular”. Ele viu os jornais e revistas “afinando, conforme ia faltando publicidade, e muitos morrendo por falta de leitores”. Por isso, são poucos os jornais na banca, e as revistas que se vê são sobre tevê e seus famosos,  mas revistinhas há muitas, de quadrinhos, de loteria, de palavras cruzadas, de horóscopo, de jogos, de entretenimento, revistinhas a rodo. Entretanto as revistas eróticas sumiram, porque também “tá tudo no celular”.

Feito trincheira na luta diária, o balcão de atendimento, de metro apenas, resiste a qualquer crise oferecendo na sua pequena vitrine desde paçoquinhas a acessórios e peças de celular, facas artesanais e sorteios de raspadinha, chips e pilhas, tantas pequenices e miudezas que crescem quando a gente precisa delas e não tem, mas a banca tem. E a gente do bairro tem a banca pra desde deixar recado até imprimir por exemplo um atestado. Você fotografa por zap, envia, ele imprime e te manda de volta de moto, pagamento pix e pronto.  

A banca também presta serviços, desde recarga de celular a informações de endereços e pessoas da vizinhança, até porque Roberto trata seus clientes  pelo nome.

Quem quiser enriquecer da noite para o dia também pode se servir da banca, pois vende bolões de loteria não só para o bairro nem apenas para a cidade, mas para clientela cadastrada da região. Quando Roberto comprou a banca, ela nem telefone fixo tinha, mas hoje é tudo tão tec que, ele calcula, sem o zap, perderia o grosso do faturamento.

Nisso, chega alguém querendo consertar celular, sim, ele conserta. Aprendeu “assuntando, perguntando, mexendo, querendo, né, pra aprender é preciso querer”.

Aprendeu principalmente que é preciso estar “antenado em tudo na telinha, porque é na telinha que tudo passa”.

Ele carregou pilhas do jornal "O Estado de S. Paulo", o Estadão, que “domingo chegava a meio palmo de grossura, com vários cadernos de classificados”, e hoje  “na telinha a gente pode comprar o que quiser em qualquer parte do mundo com fotos e avaliações do produto”. Pra sobrevaler entre tantas mudanças, Roberto foi mudando tanto que “hoje nem sei o que sou, porque jornaleiro é o que menos sou aqui, vendendo e fazendo tanta coisa, mas sei que dá certo”.

Você é um sobrevalente, Roberto.

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