Sim, no fundo a guerra é entre a Ucrânia e o espírito imperialista da extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, o maior empreendimento político depois do Império Romano. Mas a URSS durou menos de século nos 15 países liderados pela Rússia, e onde, até o último dia de ditadura “do proletariado”, houve investimento prioritário em armamentos e racionamentos no consumo básico do povo.

A pretensão de Putin é a volta do imperialismo russo, anexando territórios ucranianos com pretexto de serem habitados por russos, como, antes da Segunda Guerra, a Hitler anexou os pequenos Sudetos, com o pretexto de serem habitados (há séculos) por alemães e também a Áustria de língua alemã.

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Os russos porém se mudaram para os territórios ucranianos buscando vida melhor, como tantos migrantes pelo mundo. Justificar com isso a ocupação de outro país seria como a Itália invadir o Sul do Brasil porque vive aqui a maioria dos 30 milhões de brasileiros descendentes de italianos.

Mas, se é certo que agora 77% dos russos foram às urnas e destes 87% votaram em Putin, a grande maioria do povo russo apoia seu neo-imperialismo – embora se possa objetar o que não poderá ter feito com as urnas um regime que, como na Venezuela e na Nicarágua, não aceita observação internacional e manipula o Judiciário e os militares.

Certo é que a Rússia esperava conquistar rapidinho toda a Ucrânia e viu sua empáfia ser complicada pela estratégia guerrilheira e dura resistência ucranianas, causando baixas tão altas que obrigaram a Rússia a convocar 300 mil novos reservistas. A Ucrânia chegou a contratacar, tendo porém de se conter diante das linhas de defesa russas - ou seja, o invasor passou a se defender.

Entretanto, tantas perdas russas desautorizam sua retirada: é preciso vencer para justificar tantas perdas, enquanto a Ucrânia pede mais ajuda para não ser derrotada por um cessar-fogo que implique em ceder seus territórios - o que seria prenúncio de futura invasão, como a atual foi precedida pela invasão da anexada Criméia em 2014.

Os otimistas podem ver que, conforme Brecht, “as coisas estão como estão, por isso mesmo assim não ficarão”.

Os pessimistas podem ver que, até para defender seu próprio futuro contra o imperialismo russo, a OTAN poderá entrar na guerra diretamente – e Putim, com a obsessão dos imperialistas, poderá cumprir a ameaça de usar armas atômicas. Então a lógica militar dos aliados ocidentais poderá visar a cabeça do monstro, Moscou, mesmo que a Rússia venha a usar apenas bombas de efeito pretensamente limitado à Ucrânia, já que a radiação não costuma respeitar fronteiras como vimos com Chernobil.

Se há algum prognóstico a arriscar, é que os imperialismos territoriais não cabem mais no mundo (substituíveis porém pelos imperialismos digitais...). Não vamos voltar à URSS, mas para isso só Deus sabe quanto deverá sofrer a terra-avó das democracias, a Europa.

Devia haver um exame psíquico para candidatos a governantes, que pudesse identificar preventivamente e obstar os Putins... E agora só nos resta aguardar o que dirão os grandes falantes da História, os fatos. Mas que se salvem Moscou, Paris, Berlim, Londres e Londrina.

* A opinião do colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina.