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Câmeras com 'visão 3D' equipam smartphones

Sensor que permite que as câmeras dos dispositivos móveis façam um 'mapa tridimensional' do cenário tem diversas aplicações possíveis

ATUALIZAÇÃO
24 de setembro de 2019

Mie Francine Chiba - Grupo Folha
AUTOR

No modelo da LG, com o uso do ToF é possível abrir aplicativos, capturar telas, aceitar ou rejeitar chamadas e controlar o volume de mídias
 

Os mais recentes lançamentos de smartphones escondem no seu interior um recurso com um nome diferente: ToF, ou Time of Flight, que pode ser traduzido como “tempo de voo”. Trata-se de um sensor que emite pulsos de luz led infravermelha (a mesma emitida por controles remotos) ou laser e permite que a câmera “enxergue” de forma tridimensional. Isso é possível porque o sensor mede a distância do aparelho para objetos ou pessoas à sua frente. A distância é calculada a partir do tempo que a luz infravermelha leva para “viajar” do aparelho até “bater” nos objetos ou pessoas. O cálculo é feito em apenas uma fração de milésimo de segundos. Dessa forma, a câmera é capaz fazer um “mapa tridimensional” do cenário.

“Com isso, é uma câmera que mede a profundidade. Com o processamento dessa imagem, a gente consegue medir a distância da câmera para objetos, área, volume ou até mesmo tirar fotografias tridimensionais”, explica Marcelo Zuffo, professor da USP (Universidade de São Paulo) e membro do IEEE (Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos).  

Segundo Zuffo, a ToF começou a ser usada nos smartphones apenas recentemente, com o barateamento da tecnologia. Até então, tinha, por exemplo, aplicações militares. 

A tecnologia também é utilizada nas práticas esportivas, para medir o alcance no tiro esportivo e distâncias no golfe; na robótica, para que os robôs “enxerguem”, e em carros autônomos e na aviação, impede que carros e aviões colidam entre si, acrescenta Fabrício Habib, gerente geral de Produtos Móveis da LG Electronics do Brasil. “Isso abre um mundo de oportunidades.”

Mas o ToF também já estava em produtos bastante conhecidos do público, como o Kinect, da Microsoft. O sensor é usado pelo aparelho para que o Xbox, console da Microsoft, possa reconhecer os movimentos e a posição do jogador.

Os sensores TOF conseguem atingir uma boa extensão, com alta precisão e leituras rápidas, além de não consumir muita energia, afirma Fabrício Habib, gerente de Produtos Móveis da LG
 

“Parte da razão para os sensores TOF terem entrado no radar dos smartphones tem relação com o fato de eles conseguirem atingir uma boa extensão, com alta precisão e leituras rápidas – tudo isso em um componente que não chega perto de ser grande e que não consome muita energia. É a combinação perfeita para colocar algo dentro de um celular”, comenta Habib. O ToF está presente no modelo G8S ThinQ da marca, que é considerado o primeiro com o dispositivo acoplado à câmera frontal do smartphone. 

Nos aparelhos da Samsung, o recurso está presente no Note10. “A tecnologia em si já existe há algum tempo. Mas como os sensores estão cada vez menores, foi possível colocar num smartphone pelo tamanho e consumo baixo de bateria”, afirmou Renato Citrini, gerente sênior de Produto da Divisão de Dispositivos Móveis da Samsung Brasil.

Apesar de imperceptível aos olhos – e mãos – do usuário, o ToF pode ter aplicações interessantes. No momento, o sensor é utilizado pelos smartphones principalmente para gerar efeitos nas fotos, como o conhecido efeito bokeh, que destaca os objetos ou pessoas em primeiro plano e deixa o fundo desfocado. Por meio do sensor ToF, o efeito é aplicado nas fotos com mais precisão, afirmam as fabricantes, já que o dispositivo permite que a câmera consiga determinar melhor o que está mais próximo e o que está mais distante. “O sensor é melhor aplicado no efeito desfocado das fotos, pois funciona de forma que o objeto principal é 'separado' do fundo (background)”, explica o gerente da LG.

“Antes do ToF, o efeito bokeh era feito pelo processamento da foto sem nenhum tipo de medição real da distância. O resultado não era tão bom, nem tão preciso”, afirma Daniel Dias, gerente de produtos da  Huawei Consumer Business Group Brasil. 

No modelo da LG, o ToF associado à câmera frontal permite que o usuário dê comandos ao smartphone por meio da detecção de gestos. É possível abrir aplicativos, capturar telas, aceitar ou rejeitar chamadas e controlar o volume de mídias usando o recurso. Também possibilita fazer o desbloqueio do celular pelo reconhecimento do padrão de veias da mão à prova de fraude por meio de imagens em 2D, e independentemente da luminosidade do ambiente.

Em demonstração no lançamento do Samsung Note10, um bicho de pelúcia foi escaneado em três dimensões pela câmera com sensor ToF e aplicado a vídeos em que o bicho “dançava” de acordo com os movimentos de uma pessoa em uma aplicação de Realidade Aumentada.

Porém, no futuro, a ideia é que o ToF tenha outros tipos de aplicações. “Essa tecnologia no futuro vai permitir que o celular possa fazer muito mais coisas com a câmera do que a gente pode imaginar. Escaneamento 3D de objetos, processamento tridimensional de fotos, dentre outras possibilidades”, destaca o professor da USP, Marcelo Zuffo.

“O sensor no smartphone pode ser usado para ajudar a fazer um mapeamento facial do usuário e contribuir para aumentar a segurança em aplicações que usam o desbloqueio facial”, exemplifica Daniel Dias, da Huawei Consumer.

Para Citrini, da Samsung, o sensor pode ser utilizado para medir objetos e espaços por meio do smartphone. Assim, o usuário pode medir uma mesa e, com Realidade Aumentada, saber se o móvel caberá em um cômodo da sua casa, por exemplo. Vai depender da criatividade dos desenvolvedores o surgimento de novas aplicações para a tecnologia.

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