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A CIDADE FUTURA 5m de leitura

Um voto público na esperança

O que está em jogo nas eleições para a presidência da República é a adoção de um novo olhar sobre a vida brasileira

ATUALIZAÇÃO
27 de setembro de 2022

Marco A. Rossi
AUTOR

Imagem ilustrativa da imagem Um voto público na esperança

No próximo domingo (2), ocorrerão as mais importantes eleições presidenciais desde o advento da Nova República, em meados da década de 1980. É claro que a votação para os governos estaduais e para a composição das assembleias e do Congresso Nacional também é decisiva: o modo como a política se fará nas casas legislativas e nos executivos da federação dará o tom daquilo que se revelará no âmbito maior da nação. Política, sabemos, é o consenso possível que brota do dissenso inevitável.

Mas o que está em jogo nas eleições para a presidência da República é a adoção de um novo olhar sobre a vida brasileira. Nos últimos anos, desde que setores hoje expressivos do conservadorismo e da extrema-direita ganharam evidência, fortaleceu-se o ódio generalizado, inviabilizou-se o fazer político pautado na sobriedade e no equilíbrio democrático. Neste período eleitoral, por exemplo, a violência vem regendo os ânimos. É como se houvesse um abismo separando dois mundos afetivos – o problema é que a Guerra Fria já acabou, junto com suas paranoias ideológicas, há mais de 30 anos...

São muitos os sintomas desta nova era de discórdias e ressentimentos. Em todo o espectro político viceja um mal-estar que toma conta das ideias e impede a crença nas saídas públicas e pactuadas. Se é verdade que a diversidade deve caracterizar a democracia, é indubitável que sem inclinações na proteção do bem comum inviabiliza-se a política. É isto que se espraia hoje: o individualismo, a alienação, a convicção de que o outro é um inimigo. No lugar do discurso responsável e da ação consequente, ganha espaço o palavrório sem sentido nem propósito, recheado de bizarrices e alucinações.

Aprendi com Hannah Arendt que o desejo de compreender é uma atividade para toda a vida e exige que sejamos capazes de fazer as pazes com a história. Só assim podemos observar o presente com acuidade e projetar, corajosamente, o futuro, mirando a criação de um espaço público no qual todos possamos ver e ser vistos, ouvir e ser ouvidos. Compreendo, portanto, que é momento de dar um basta na raiva, nos segredos centenários, na maldade, na cegueira diante das necessidades mais prementes de educação, saúde, ciência e cultura. Ao mesmo tempo, é hora de optar pela defesa incondicional da democracia, das liberdades singulares e coletivas, do meio ambiente, das terras indígenas e quilombolas, da agroecologia, das escolas e universidades públicas, do incentivo à produção artística, da valorização da sensibilidade. Cresce a cada dia a grande corrente em favor desses ideais de felicidade e bem-estar.

Existem momentos preciosos em que podemos exercer a cidadania. Instantes que se prolongam no tempo, trazem consequências, invadem nossos corações com força para seguirmos em frente. Na democracia, o voto é um desses momentos milagrosos. Ele não basta, uma vez que devemos permanecer atentos sempre, mas preenche um pedaço em nós destinado à capacidade e à urgência de fazer o bem.

Em nome disso tudo, domingo, dia 2, eu vou votar na esperança!

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A opinião do colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina.

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