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A CIDADE FUTURA 5m de leitura

As 300 de Londrina

O colunista Marco Rossi escreve sobre as 300 colunas publicadas na Folha de Londrina

ATUALIZAÇÃO
15 de agosto de 2023

Marco A. Rossi
AUTOR

Imagem ilustrativa da imagem As 300 de Londrina

Há pouco mais de 6 anos encarei o desafio de escrever uma coluna semanal na Folha de Londrina. Antes disso, por quatro anos, eu narrei minhas crônicas numa estação de rádio diariamente. E lá atrás, no início deste século, publiquei 31 textos num periódico de Cornélio Procópio. Durante todo esse tempo, eventualmente, redigi alguma coisa para a própria Folha e para o extinto Jornal de Londrina.

Como acadêmico, considero fundamental esse meu lado de “intelectual público”. Não aceito o encastelamento e acho temeroso ter como interlocutores apenas meia dúzia de pares na universidade. Ao escrever para grandes veículos, atrevo-me a influenciar o debate coletivo, a opinar sobre temas que atingem diretamente as pessoas. Acredito até na ilusão de fazer alguma diferença nesse processo, provocando discussões e modificando posicionamentos aparentemente inflexíveis.

Hoje “A Cidade Futura” chega ao número 300. Fiz uma breve pesquisa e constatei que não são muitas as iniciativas abertamente de esquerda que chegaram tão longe. É bastante coisa. Seria o suficiente para que nascessem e morressem grandes paixões, tivessem início e fim horrendas guerras, fossem desenroladas revoluções populares, formasse-se um médico como Josué de Castro, um professor como Paulo Freire, um arquiteto como Oscar Niemeyer ou um jornalista do quilate de um Vladimir Herzog.

O tom geral da coluna tem sido o da crítica àquilo que o filósofo francês Gilles Lipovetsky chama de “felicidade paradoxal”, ou seja, um sentimento que se regozija de uma vida material cada vez mais abundante, assim como de respostas precisas a problemas milenares, e, ao mesmo tempo, cria indivíduos isolados e desolados, suscetíveis ao efêmero e enganoso. Nesse sentido, defendi sem pestanejar o espírito republicano, a vida democrática e a urgência de uma alternativa socialista ao capitalismo. Como ensinou Walter Benjamin, o mais recorrente dos pensadores por aqui, ou puxamos o freio de mão, ou experimentamos a barbárie.

Em 300 textos, expus os livros de que mais gosto, os filmes que despertam em mim grandes sensações e os discos que compõem a trilha sonora da minha vida. A cultura é para mim a base do processo civilizatório, o espelho que nos reflete, o caminho que pode desnudar grandes transformações, ensejar novas mentalidades, salvar-nos da mediocridade. Aqueles que desabonam a produção cultural e fazem cara feia para as artes costumam defender armas de fogo, disseminar intolerância e votar nos piores exemplares do gênero humano – os tipos capazes de dilacerar a saúde e a educação públicas, venerar torturadores, roubar e vender joias e serem aplaudidos como heróis por multidões carentes de calor humano, solidariedade e amor real.

É difícil estimar, num cenário impróprio e protagonizado por atores hostis e violentos, quanto ainda pode durar uma proposta como “A Cidade Futura”. De qualquer maneira, é gratificante colher palavras elogiosas e abraços apertados na rua, uma resposta a este trabalho feito de modo honesto, gratuito e voltado, exclusivamente, para a esperança. Por ora, esperancemos!

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A opinião do colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina.

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