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A CIDADE FUTURA 5m de leitura

A resistência

ATUALIZAÇÃO
22 de junho de 2021

Marco A. Rossi
AUTOR

Para Hannah Arendt

Toda história produz resistência. Não há evento que não gere oposição. No dia em que desaparecerem os indignados e os inconformados, a história desaparecerá.

Por mais duros e difíceis que sejam velhos e novos tempos, lá está a resistência, pequenos ou grandes grupos humanos que almejam diferentes caminhos, propõem alternativas em meio à resignação, ao medo, à desesperança.

Resistir é um verbo de múltiplas conjugações. Resiste-se a padrões e generalizações; a gritos e estrangulamentos; a sorrisos falsos e abraços forçados; a miudezas e avarezas; ao poder e seus gaiatos dependentes. Resistir, portanto, é movimento abrangente e sempre oportuno. Ao resistir, o sujeito se humaniza, clareia o refúgio escuro das ideias proibidas e produz raios em céu azul.

Por ser verbo múltiplo e possibilidade de ação de vasto alcance, resistir é também predicado da pluralidade (a presença de todos num mundo só) e qualidade incontornável da diversidade (um único mundo partilhado por muitas presenças).

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Quanto maior o peso opressor da história (desejo de fazer o mundo todo palco de um só tipo de presença), no entanto, mais coesa e universal se faz a resistência. Para não deixar que o tempo se encerre nem tiranos triunfem, a resistência é capaz de integrar suas distintas parcelas, superando tensões e adiando as inevitáveis crises, para abrir horizontes de liberdade e prometer dias de sol, noites de lua.

Há um quê de clandestinidade em todo ato de resistência. Mesmo quando tolerados ou tidos por legais, os resistentes condenam o eixo da ordem, denunciam privilégios, atacam as injustiças. A resistência se opõe ao status e não aceita o mundo em seu estado de normalidade. A realidade dos normais é para poucos, detesta muitos, exclui a maioria – a resistência só pode, então, ser força insurgente, personagem marginal da história oficial.

É na rebeldia de todo trabalhador, dos homens e das mulheres que fabricam o universo com força e inteligência, que a resistência encontra seu habitat. Toda vez que o mundo do trabalho se expande por lutas e conquistas de direitos, a resistência se amplia, a história ganha novos capítulos, novos cenários, inéditas personagens.

A resistência, portanto, é o único e verdadeiro motor do tempo.

(Crônica originalmente escrita em 2014)

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Os artigos publicados não refletem, necessariamente, a opinião da Folha de Londrina.

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