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CÉLIA MUSILLI 5m de leitura

O valor de divagar e trabalhar para si mesmo

Ser livre é deixar-se levar pelos pensamentos em vez de conduzi-los a ferro e fogo para um objetivo

ATUALIZAÇÃO
18 de janeiro de 2024

Celia Musilli
AUTOR

Imagem ilustrativa da imagem O valor de divagar e trabalhar para si mesmo

De tanto assumir  compromissos, esquecemos de fazer coisas realmente  importantes. De tanto trabalhar para os outros, esquecemos de trabalhar para nós mesmos, isso inclui a pausa criativa para ver a borboleta no jardim ou a primeira estrela a surgir naquele ritmo de contemplação,  quando  tudo em volta desaparece,  e fica aquele pontinho sinalizando que o universo é infinito desde a primeira "hora da estrela."

No dia a dia, com tantas exigências de quem trabalha para os outros, esquecemos de trabalhar para nós  mesmos, mas como um relógio  antigo, para ter função existencial também precisamos de corda.

Dar corda a si mesmo no tempo da automatização, quando temos tudo ao alcance com um toque  digital, é fundamental.  Porque desaprendemos a lentidão  do fazer aos poucos para sentir-se vivo a cada minuto, concentrados em pequenas  tarefas como dar espaço à nossa atividade criativa, é  o que se chama "respiro", a concessão para existir.

Isso vale para jornalistas e todo tipo de profissionais voltados mais para o coletivo. Cotidianamente, muitas vezes suportamos as expectativas de quem só se vê seu próprio umbigo, querendo manter-se em evidência - porque a imprensa põe em evidencia - e os egos dilatados dão espaço a reclamações e grosserias, enquanto trabalhamos como pessoas humanas, demasiadamente humanas, e sem tempo.

Dar corda a mim mesma significa escrever pelo menos um texto por dia, mastigado como o pão  no café  da manhã,  quando os pensamentos  se concentram no erguer e abaixar da xícara. 

Nessa hora, vale olhar pela janela  para ver nuvens que vão  e vêm, num prenúncio  de chuvas ou dia de sol intenso, queimando como um deserto particular em nossa pele.

Segue-se um passeio curto, o bom dia ao porteiro  para comentar  o "de sempre" e necessário, a pausa antes de abrir a agenda  e observar que haverá  compromissos até às  9 da noite. Mas ainda são  9 da manhã, o dia que engatinha é  luminoso, e o instante é  de pura imaginação. 

Consagro o hábito de escrever na cama, usando o celular como faço nesta quinta-feira, e os pensamentos  fluem melhor do que quando  assumo a persona ocupada diante do computador.

Ser livre é  deixar-se  levar  pelos pensamentos  em vez de conduzi-los a ferro e fogo para um objetivo. Só  nesta pausa,  em que trabalhamos mais por nós  mesmos, sem cobranças, é  possível se alinhar ao céu  e perder-se em nuvens como exige a poesia de existir sem pressa. 

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