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CÉLIA MUSILLI 5m de leitura

O teatro é a provocação que rasga nossa roupinha de domingo

O teatro é quente, o teatro é um êxtase que nos transforma mesmo na plateia, de onde ninguém sai igual

ATUALIZAÇÃO
17 de junho de 2023

Celia Musilli
AUTOR

Imagem ilustrativa da imagem O teatro é a provocação que rasga nossa roupinha de domingo

A cidade de vidraças embaçadas, vultos mal vestidos e ruas onde baixa a neblina, ganha atmosfera artística neste mês junho quando começa o FILO - Festival  Internacional  de Londrina.

Aplausos  chegam aqui pelas décadas,  pulam muros do tempo, cortinas que se abrem  ao terceiro  sinal  quando,  magicamente, corpos conhecidos e desconhecidos ganham expressões teatrais e começa  uma aventura  de outro mundo. 

Entrar no teatro nos aproxima da filosofia e da poesia,  costuradas num texto  ou nas linguagens  sem palavras. Um Pirandello que se levanta da poltrona  escura,  um Shakespeare sacudindo  a poeira, Dario Fo revelando  mistérios  de trás pra frente. E o teatro nacional, sem Molière, continua desnudando as noivas de Nelson Rodrigues, mas casa-se com tupinambás, como mostra a diversidade do FILO 2023 no qual culturas e migrações se cruzam, numa temática que aponta os deslocamentos humanos em situações extremas.  

No teatro brasileiro há  uma força que me arrebata desde "O Rei da Vela", nas fronteiras oswaldianas que Zé  Celso penetrou tão  bem que vi como se copula com a arte e com os  mistérios gozosos. Porque o teatro  é sexy, filho das bacantes, o teatro  é  quente,  o teatro  é  um êxtase  porque nos transforma mesmo na plateia, de onde ninguém sai igual. O teatro é aquela provocação que rasga nossa roupinha de domingo.

Senhoras e senhores, está  aberta a temporada  que põe  mais arte  e palhaços  na rua. A temporada  na qual engolidores de fogo e malabaristas dos semáforos não  podem ser punidos  pela CMTU. Na verdade, não poderiam em qualquer mês  do ano. Mas o festival nos dá a chance de rasgar  o verbo. 

Que Londrina - Cidade dos Festivais, como a batizei num sopro de inspiração  pagã, respire a arte. E que a arte nunca seja confiscada  em sua  cidadania. 

Que a resistência  do FILO - esse velho de guerra, aos 55 anos - seja também  nossa resistência  no mês em que o frio trinca ossos e o teatro nos aquece. 

Pulem o muro. Evoé!

Vida longa  aos festivais!

* A opinião da colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina.

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