| |

Folha Rural 5m de leitura

Na região de Maringá, Jandaia do Sul lidera número de marcas de aguardente no Brasil

Município na região de Maringá possui 19 marcas registradas no Ministério da Agricultura

ATUALIZAÇÃO
09 de outubro de 2021

Lucas Catanho - Especial para a FOLHA
AUTOR

Com pouco mais de 20 mil habitantes, Jandaia do Sul (PR), na região de Maringá, concentra o maior número de marcas de aguardente do País. Dados são de um relatório elaborado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, relativos ao ano passado. Localizado na região de Maringá, o município possui 19 marcas de aguardente, igualando-se a São Roque do Canaã (ES).

Barris onde a Cachaça Companheira é envelhecida, em Jandaia do Sul
 

Quase metade das marcas de aguardente do Paraná estão em Jandaia do Sul, sendo que a cidade puxa o Estado para cima, fazendo ele ocupar a 6ª posição no ranking nacional, com 43 marcas ao todo. 

O território paranaense fica atrás de São Paulo (161 marcas), Minas Gerais (139), Santa Catarina (111), Espírito Santo (94) e Rio Grande do Sul (68). De 2019 para 2020, o Paraná desempatou e ultrapassou o Ceará no número de marcas.

O diretor do Departamento de Fomento à Agropecuária e ao Meio Ambiente de Jandaia do Sul, Geraldo Cesar Semensato, explica que características como um bom clima e o solo próprio para o cultivo da cana são atrativos que incentivam a produção de aguardente.

“O latossolo roxo é rico em nutrientes, favorecendo o desenvolvimento e a doçura da cana. Além disso, temos temperaturas entre 10 e 20 graus no inverno, o que facilita a fermentação da cana-de-açúcar”, enumera.

O diretor relembra que as famílias Zan e Romani, pioneiras na produção artesanal de cachaça entre o final da década de 1960 e início da década de 1970, abriram caminho para a cidade se tornar uma potência quando o assunto é aguardente.

“Hoje temos a Cachaça Companheira, única produtora; a Cachaça Moretti, sendo que a Companheira produz e engarrafa para ela, e o Grupo Missiato, dono da marca Jamel, que compra a commodity, industrializa e vende”, enumera.

Devido ao grande potencial, a Prefeitura de Jandaia do Sul já estuda a realização de uma Festa Municipal da Cachaça realizada anualmente para fomentar a divulgação e a valorização do produto.

ESTOPIM

A vontade de fazer cachaça surgiu nas aulas durante a faculdade em 1978, quando o empresário Natanael Carli Bonicontro cursava engenharia química na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. “Vi que a cachaça podia ser uma bebida de alta qualidade”, relembra.

O desejo de produzir cachaça saiu do papel 15 anos depois, quando Natanael plantou cana em uma propriedade de Jandaia do Sul e montou o engenho que produziu a primeira cachaça em 1994. 

Engenho esse que se tornou um negócio que contempla todas as fases de produção: da plantação de 5 hectares de cana-de-açúcar, passando pelo processamento, envase, até o copo para saborear as cachaças.

Toda a produção de cana-de-açúcar se dá na propriedade para ser transformada em cachaça
 

Nesses 27 anos, os prêmios obtidos pela qualidade da Cachaça Companheira foram inúmeros. 

Entre as principais premiações figuram: Cachaça do Ano de 2014, obtido na Expocachaça em Belo Horizonte por conseguir obter a maior nota da história do concurso com a Companheira Extra Premium 8 anos, além dos destaques no Ranking da Cúpula da Cachaça, o mais conhecido do país, com ênfase para o 1º lugar de todo o concurso e a melhor cachaça da categoria Extra Premium em 2020.

Hoje, a Cachaça Companheira já dispõe de uma extensa gama de produtos – 16 cachaças, 5 licores e a Amelinha, um coquetel alcoólico feito com cachaça armazenada em tonel de umburana por 2 anos, com mel, cravo e canela.

“A mais premiada é a Companheira Extra Premium 8 anos, que nos deu visibilidade. Anualmente, escolhemos o melhor barril da adega e engarrafamos a Companheira Single Barrel no Dia Nacional da Cachaça [13 de setembro]. O barril selecionado tem cachaça envelhecida por 18 anos. Temos também uma cachaça de alta qualidade em garrafas âmbar de 600 ml, a Gatinha, para penetrar no mercado com preço bem competitivo”, lista.

 

Ele conta que a seca prejudicou a produção de cachaça neste ano, mas a expectativa é extremamente positiva para 2022, com a projeção de produzir 50 mil litros da bebida. “Estamos com o mercado em crescimento, mesmo na pandemia.” 

O empresário explica que, para se fazer cachaça, são necessários apenas dois ingredientes: a cana-de-açúcar e a água. O canavial é próprio, com uma variedade de cana ideal para a produção. 

“A cana tem que estar madura no inverno, o que ajuda muito no controle do processo fermentativo, sendo que a temperatura deve estar entre 25 e 33 graus, o que se consegue com o aquecimento do caldo de cana a ser fermentado – uma vez que as temperaturas ambientes locais ficam entre 10 e 20 graus.”

Ele acrescenta que, em locais com temperatura ambiente alta, exige-se um controle bacteriológico rigoroso para evitar a contaminação decorrente da fermentação. 

 

“A água usada no processo é proveniente de um poço semiartesiano que temos. As boas terras e as condições ambientais de Jandaia do Sul são excelentes para produção de cachaça de alta qualidade.”

NACIONAL

Hoje, os produtos são vendidos em empórios, lojas de bebidas e supermercados, além do site www.cachacacompanheira.com.br, com comercialização em nível nacional.

“A loja da fábrica, em Jandaia do Sul, é muito importante. Temos recebido visitantes, mas com a pandemia ficou prejudicado. Com relação à exportação, iniciamos a venda para Portugal há 4 anos. A pandemia paralisou este trabalho, mas estamos recomeçando.”

O negócio que começou apenas com a família hoje já conta com 9 funcionários. As filhas de Natanael, Raquel e Sara, dividem as atribuições da gestão.

 

“A Cachaça Companheira é produzida por um processo único. A colheita da cana é feita manualmente, no inverno, onde a temperatura ambiente é baixa o suficiente para impedir a formação de colônias de bactérias. As dornas de fermentação são de aço inoxidável e fechadas”, conclui. A destilação é feita em um equipamento 100% de cobre, projetado por Natanael, engenheiro químico de formação.

CACHAÇA OU AGUARDENTE?

Apesar de serem similares, a cachaça e a aguardente são produtos distintos. Cachaça é o nome da bebida feita da cana-de-açúcar. Ela é produzida pela destilação do vinho de cana. 

Para o líquido ser chamado de cachaça, deve ser usado o caldo fresco da cana-de-açúcar, a garapa. O rum, por exemplo, também é feito da cana-de-açúcar, mas do melaço, um subproduto da indústria de produção de açúcar. Para o Ministério da Agricultura, a cachaça também deve ter graduação alcoólica entre 38% e 48%.

Já a aguardente é o nome de qualquer bebida obtida a partir da fermentação e destilação de vegetais doces, podendo também ser de cana. Tequila, por exemplo, é uma aguardente de agave. A cachaça é uma aguardente de cana. E o uísque é uma aguardente de cereais. 

Pela legislação brasileira, a graduação alcoólica da aguardente vai de 38% a 54%. Ou seja, se um destilado do vinho de cana feito da garapa tiver 49% de teor alcoólico, deve ser chamado de aguardente e não cachaça. 

Assim, toda cachaça é uma aguardente, mas nem toda aguardente é cachaça. Ao serem adicionadas ervas e/ou especiarias, ela é denominada aguardente composta. 

RANKING

No caso da produção de cachaça, o Paraná ocupa a 8ª posição em nível nacional quanto ao número de marcas, com 183 ao todo, segundo o relatório do Ministério da Agricultura. Fica atrás de Minas Gerais (1.908), São Paulo (705), Rio de Janeiro (404), Rio Grande do Sul (324), Santa Catarina (248), Espírito Santo (234) e Paraíba (197 marcas).

LEIA TAMBÉM:

Paraná abate 5,7 milhões de cabeças de frango por dia

PUBLICAÇÕES RELACIONADAS