Começou a vigorar, em março deste ano, a lei que estimula o consumo de peixe entre os estudantes da rede estadual do Paraná. Na prática, a mudança poderá reforçar o cardápio dos cerca de 1 milhão de alunos, visto que o peixe já faz parte da merenda.

Angelo Mortella, gerente do Departamento de Nutrição e Alimentação do Fundepar (Instituto Paranaense de Desenvolvimento Educacional), explica que a ampliação do peixe no cardápio depende do orçamento aprovado na Lei Orçamentária Anual. Ainda não há uma projeção imediata de aumento no consumo entre os alunos.

Por ano, o Estado adquire cerca de 600 toneladas de peixe para a merenda dos estudantes. “O produto é adquirido para todos os alunos e a aceitabilidade é de praticamente 100%”, destaca o gerente.

Mortella explica que a modalidade de compra para atender a novos produtores funcionaria de duas formas: por pregão eletrônico (pessoa jurídica), desde que atendam aos requisitos do edital, ou como cooperativa ou associação, por meio de Chamada Pública, também atendendo a exigências.

“O governo estadual tem investido pesado na segurança alimentar dos nossos alunos, inclusive com a oferta de peixe no cardápio, assim como com o Programa Mais Merenda, que oferta três refeições, por turno, aos estudantes de escolas públicas paranaenses”, completa.

BENEFÍCIOS

O presidente da Comissão Técnica de Aquicultura do Sistema Faep/Senar-PR, Edmilson Zabott, considera que a nova lei deverá beneficiar principalmente os produtores que não são integrados a uma cooperativa ou a uma planta frigorífica. “Essas plantas normalmente adquirem o peixe e vendem para grandes mercados”, pontua.

Zabott acrescenta que o produtor deve ser estimulado a montar uma pequena agroindústria na sua propriedade, se juntando com um, dois ou três vizinhos, para poder atender a demanda de determinado município. “Esse processo é fundamental para agregar valor ao seu produto, em comparação a uma venda para o atravessador”, compara.

Segundo ele, um dos desafios é a preparação das merendeiras. “Já levamos para a Federação da Agricultura e para o Senar essa preocupação de levar treinamento dessas profissionais para o preparo dos peixes”, destacou.

Ele cita que, na região de Maringá, já há uma produtora que desenvolveu uma cartilha para a produção de alimentos à base de peixe para bebês. “Vamos levar ao governo para que conheça esse projeto e também passe a investir na formação das merendeiras”, pontua. A estimativa é que haja mais de 5 mil produtores de pescados no estado, sendo a tilápia o carro-chefe.

PRODUTIVIDADE

O criador de tilápia Marcos Aurélio Pereira, de Toledo, relembra que já vendeu tilápia para a merenda escolar do governo do Estado por dois anos consecutivos, em 2022 e 2023. Para tanto, foi necessário aumentar a capacidade produtiva.

“Vender para um estado como o Paraná nos dá acerteza de que vamos receber de maneira pontual e com preço justo. Além disso, é um ótimo volume que nos dá segurança para novos investimentos e para o crescimento da cultura da tilápia”, destaca.

A expectativa do criador é comercializar 12 mil toneladas de tilápia neste ano, volume 30% maior que o movimentado em 2023 – 9 mil toneladas.

REDUÇÃO DOS PREÇOS

“O mercado atualmente está muito bom por conta da redução do preço dos insumos utilizados para fabricação de ração, principal custo na criação. Com isso, as margens melhoraram”, explica.

O filé de tilápia é comercializado atualmente para grandes redes de supermercados, além de grandes distribuidoras e redes de restaurantes.

“Os maiores desafios atualmente se referem à burocracia dos órgãos ambientais e à liberação de outorgas, pois a legislação ainda não equaliza as culturas e vê a criação de tilápia como grande consumidora de fonte hídrica. Mas, na verdade,quase toda água utilizada na criação de tilápia é devolvida ao meio ambiente”, destaca.

Dedicada à criação de tilápia há 30 anos, a família de Marcos foi evoluindo a tecnologia ao longo dos anos. Ele relembra que antes a tilápia demorava 12 meses para ficar pronta para o abate. “Sem ração específica, sem aeradores, sem alimentadores. O trabalho era muito manual.”

O criador destaca que hoje há rações específicas capazes de engordar uma tilápia em até 8 meses para abate. “Temos também aeradores e alimentadores automáticos que auxiliam na produtividade”, conclui.

NO TOPO

O estado brasileiro que mais produz peixe de cultivo continua a ser o Paraná. Segundo a Associação Brasileira de Piscicultura, foram 194,1 mil toneladas produzidas em 2022, volume 3,2% maior do que as 188 mil toneladas de 2021.

A tilápia foi o carro-chefe, com 187,8 mil toneladas, representando quase 97% da produção de peixes em território paranaense. Sozinho, o estado representa 22,5% da produção nacional.