O Paraná é o maior produtor de carne de frango do País: volume de abates cresceu 6,6% no 2º trimestre deste ano em comparação ao mesmo período do ano passado
O Paraná é o maior produtor de carne de frango do País: volume de abates cresceu 6,6% no 2º trimestre deste ano em comparação ao mesmo período do ano passado | Foto: Celso Pacheco/06/08/2088

Maior produtor de carne de frango do País, o Paraná viu o volume de abates crescer 6,6% no 2º trimestre deste ano em comparação ao mesmo período do ano passado. Ao todo, o Paraná abateu quase 514 milhões de cabeças de frango entre abril e junho, média de 5,7 milhões de cabeças por dia.

Os dados são da Pesquisa Trimestral do Abate de Animais, elaborada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Esse volume proveniente dos abates realizados no Paraná representa um terço do total de cabeças de frango abatidas em todo o Brasil nesse período, que ultrapassou 1,5 bilhão de cabeças.

“A tendência é que a atividade continue a crescer, em resposta à crescente demanda nacional e internacional”, destaca o veterinário Roberto de Andrade Silva, analista do Deral (Departamento de Economia Rural) – órgão da Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento.

O VBP (Valor Bruto da Produção) do frango no Paraná, a riqueza produzida pela atividade, saltou de R$ 17,2 bilhões em 2019 para R$ 21,7 bilhões em 2020, uma variação real de 17%.

FAMÍLIA

O produtor Ilton Perez está na atividade de criação de frangos há 35 anos – ele nasceu dentro do aviário. O trabalho na propriedade de 10 alqueires em Londrina deverá resultar na produção de aproximadamente 800 toneladas de frango neste ano, marca semelhante à obtida no ano passado.

“Neste ano sentimos um expressivo aumento no custo de produção puxado principalmente pela energia elétrica. O preço pago pelo frango teve uma ligeira melhoria, mas não acompanhou o custo, reduzindo o lucro”, diz. Em agosto de 2020, o quilo era vendido a R$ 3,16; em agosto deste ano, subiu para R$ 3,50.

Para obter o máximo desempenho da produção, Ilton aposta no bom acompanhamento técnico, nutrição de qualidade, uma boa matriz de pintinhos e tecnologia nos aviários.

“A fase mais importante é a inicial, sendo necessário um aquecimento impecável que se inicia com 35 graus, além de uma cama com qualidade. Com esse conforto, há possibilidade de um desenvolvimento inicial satisfatório. Se você tem uma boa arrancada inicial, tem tudo para um lote satisfatório.”

Ilton trabalha em parceria com uma empresa integradora, sendo que a remuneração gira em torno de 10% do total de carne produzida.

A integradora absorve os custos de ração, pintinhos e assistência técnica, além de medicamentos e logística. “Cabe a nós, integrados, o custo de aquecimento, da energia e da mão de obra”, explica.

Segundo ele, além dos altos custos de produção, outro desafio hoje é a escassez de mão de obra e o alto investimento necessário para fazer novas instalações. “Sem mencionar o desafio diário para produzir com qualidade e sanidade.”

Hoje, Ilton conta com três galpões, totalizando 4 mil metros quadrados, e mão de obra totalmente familiar por enquanto.

“Estamos investindo R$ 3 milhões via financiamento pelo BNDES para uma nova plataforma completamente moderna, com 6 mil metros quadrados. Pretendemos, a partir de 2022, estar com 10 mil metros quadrados de área de alojamento, abatendo 700 mil aves ao ano e mais de 2 milhões de quilos”, conclui.

ACESSÍVEL

O frango é um alimento de alto valor nutritivo a preços acessíveis aos consumidores, quando comparado com outras fontes de proteína de origem animal (carnes de peixes, bovinos, suínos, leite e produtos derivados). “É também um fator de agregação de valor para a produção de milho e soja do estado do Paraná.”

Primeiro produtor e primeiro exportador de frango do Brasil, o Paraná prossegue destacando-se no contexto nacional, com participação de 40,2% do volume exportado pelo Brasil e com 39,3% do faturamento, tendo como outros principais produtores e exportadores os estados de Santa Catarina (23,4% em volume e 25,0% em faturamento) e Rio Grande do Sul (16,4% do volume e 15,4% em faturamento).”

Segundo o IBGE, foram abatidas no país 5,996 bilhões de cabeças de frango no ano passado em todo o país, uma elevação de 3,3% em relação ao mesmo período de 2019 (5,805 bilhões).

Tal número de animais abatidos resultou num volume acumulado de carcaças da ordem de 13,766 milhões de toneladas de carne de frango, uma alta de 1,8% em relação ao ano de 2019 (13,517 milhões de toneladas).

No Paraná, principal estado na criação e exportação de carne de frangos de corte, em 2020 foram abatidos 2 bilhões de aves, 6,1% a mais que no ano anterior (1,885 bilhão de aves).

Esse expressivo número resultou na produção de 4,495 milhões de toneladas de carne de frango, volume superior em 3,9% ao resultado de 2019 (4,326 milhões de toneladas).

SUL

No ano passado, os três estados do Sul abateram 60,7% do frango nacional, o que representou 3,637 bilhões de aves abatidas e uma produção de 8,050 milhões de toneladas de carne de frango (58,5% do total nacional de 13,766 milhões de toneladas).

Depois do Paraná, no ranking do abate de frangos de corte e produção de carnes, vêm Santa Catarina (13,7%), Rio Grande Sul (13,6%), São Paulo (10,4%) e Minas Gerais (7,4%).

Apesar das estatísticas bastante expressivas apresentadas, o analista do Deral defende o fortalecimento da avicultura de corte no Paraná, por meio de ferramentas como uma legislação tributária adequada e melhor logística para escoamento da produção. “Isso inclui pedágio mais barato, por exemplo.”

Produtores paranaenses fazem do Estado o primeiro exportador de frango do Brasil: Paraná responde por 40,2% do das exportações
Produtores paranaenses fazem do Estado o primeiro exportador de frango do Brasil: Paraná responde por 40,2% do das exportações | Foto: Lis Sayuri- 02/06/2014

CARACTERÍSTICAS IMPORTANTES

O Paraná conta com características importantes para o crescimento da produção de frango, que o posicionam como protagonista em nível nacional nessa atividade.

“A produção de grãos farta, como soja, milho e outros, ajuda na formulação de rações, além de uma avicultura desenvolvida por pequenas propriedades. Isso fez com que o setor crescesse no Estado, hoje o maior produtor e exportador de carne de frango do país”, diz Irineo da Costa Rodrigues, presidente do Sindiavipar (Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Estado do Paraná).

Mesmo com a pandemia e as condições adversas, como os preços altos dos grãos, a avicultura continuou crescendo e não desacelerou em 2021. “Por isso, a estatística do IBGE mostra que o Paraná cresceu 6,6% na produção de frango em relação ao ano anterior.”

Rodrigues explica que praticamente 100% da produção de frango no Paraná é integrada com empresas, sejam cooperativas ou não.

“Dessa forma, como integradoras, elas respondem pelo custo de produção, assim podemos dizer que os avicultores do Estado estão blindados contra algumas crises do setor, como a que estamos vivendo agora de custos elevados de ração, devido à alta dos preços das commodities agrícolas, como milho e farelo de soja.”

Ele cita também o caso da energia elétrica, que tem subido muito e, inclusive, haverá o encerramento do subsídio da energia elétrica noturna em janeiro de 2023.

“Portanto, os avicultores precisarão de fontes alternativas de energia, como a solar. Ainda tem o aumento significativo do preço do óleo diesel, que encarece, em parte, o custo de produção também. Sendo assim, esses são os grandes desafios do avicultor do estado do Paraná.”

Sobre o crescimento de 17% do VBP do frango no Paraná de 2019 para 2020, o presidente do Sindiavipar pontua que a alta se deve ao aumento do preço das carnes de frango.

Irineo Rodrigues, presidente do Sindiavipar, aponta os principais desafios dos criadores de frango: aumento do custo de produção
Irineo Rodrigues, presidente do Sindiavipar, aponta os principais desafios dos criadores de frango: aumento do custo de produção | Foto: Divulgação/LAR

“O preço subiu porque aumentaram os custos, seja na ração, na nutrição, na logística, como na energia elétrica também para as empresas. Houve também aumento do custo da mão de obra, sobretudo no ano de pandemia, quando as indústrias tiveram que contratar muito mais funcionários para continuarem abatendo o mesmo volume de frango diariamente.”

Com isso, esse aumento nos custos fez com que fosse repassada parte para o preço do frango, mas outras carnes como a bovina e a suína também subiram. “Portanto, o Valor Bruto de Produção não cresceu só no frango, no Paraná, certamente a estatística mostra que ocorreu o mesmo com as demais carnes, como também na produção de grãos e outras produções primárias.”

O Paraná conta com 8.276 propriedades dedicadas à avicultura. Essas propriedades têm um número maior de galpões, ou seja, de aviários. O número de aviários no Paraná chega a 18.518.

“A produção de carne tem aumentado muito mais do que o número de produtores que estão se dedicando à atividade e que a quantidade de aviários. Isso é dinâmico e é uma característica que surge de uma necessidade de escala, de termos aviários/galpões que produzam mais frango para maior produção de carne.”

Segundo a Embrapa, a cotação do frango vivo subiu quase 40% neste ano em relação ao ano passado. O presidente do Sindiavipar explica que esse aumento é por conta do crescimento dos custos de produção, devido à alta dos ingredientes para formular rações, tanto soja, quanto farelo e óleo de soja, além de outros grãos.

“Também se deve ao aumento do custo da logística, do óleo diesel, e da aquisição de pintinhos que muitas vezes vêm de outros estados. Sendo assim, é natural que tenha havido esse aumento no custo de produção, que varia muito de região para região em função de logística e outros custos. E também varia de propriedade para propriedade, pois as que possuem maior escala diluem custos, reduzindo um pouco.”

PRIORIDADES

Irineo diz que o estado do Paraná, por meio do Sindiavipar, tem algumas prioridades que estão sendo trabalhadas. Uma delas é a preocupação com o aumento do custo da energia.

“Portanto, a recomendação é para que cada empresa interaja com seus integrados produtores de frango para ter uma alternativa de energia elétrica, pois este insumo está aumentando ano a ano, semestre a semestre, às vezes até mês a mês. Esse é um aspecto importante, pois a energia elétrica impacta muito o custo do frango e, portanto, o preço da carne para o consumidor final.”

Também sobre custo de produção, o presidente do Sindiavipar entende ser necessário trabalhar alternativas ao milho, ou seja, não depender só dessa cultura para a composição da ração.

“Outros grãos podem ajudar na composição da ração, como o trigo ou farelo de trigo. Logo, aumentar a produção de trigo no Paraná vai fazer com que haja uma oferta maior de farelo. Também temos outros grãos que precisam ser cultivados, para não dependermos só do milho como nesse ano. A geada veio e prejudicou, gerando grande aumento no custo de produção da ração.”

Além de trigo, ele cita triticale, sorgo, alguns tipos de aveia, centeio e cevada. “Foi lançado o Programa Cereais de Inverno e Segunda Safra para que a gente possa, a partir de 2022, aumentar a produção de trigo, mas também procurar ter uma boa safra de milho, que depende do clima e de um plantio mais cedo da segunda safra. Mas o sorgo também é uma alternativa importante como as outras culturas de inverno tradicionais, como triticale, centeio, cevada e aveia granífera.”

Outra preocupação do sindicato é a questão da sanidade. Hoje, o Paraná já é reconhecido como livre de febre aftosa sem vacinação.

“Isso mostra que nós temos uma condição boa. E isso não depende só do esforço de órgãos públicos ou integradoras. Cada produtor de frango tem que procurar isolar seus aviários, seguir as recomendações de biosseguridade, para não ter a presença de pessoas ou animais estranhos à atividade nas proximidades dos aviários, que possam trazer problemas de sanidade à nossa avicultura”, conclui.

Uma das preocupações dos produtores é o aumento do custo da energia.
Uma das preocupações dos produtores é o aumento do custo da energia. | Foto: Lis Sayuri- 02/06/2014

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