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Triticale, uma boa opção de cultivo para o inverno

A pesquisa com triticale no Brasil começou na década de 1960, quando foram introduzidas as primeiras cultivares trazidas do México

ATUALIZAÇÃO
09 de julho de 2022

Amélio Dall’Agnol
AUTOR

O triticale, assim como o trigo, é um cereal de inverno que mescla características do trigo com as do centeio, pois é um produto originado do cruzamento entre ambos.

Essa espécie, obtida pelo cruzmamento artificial, herdou do trigo (Triticum aestivum) o potencial de rendimento de grãos e do centeio (Secale cereale) a resistência a doenças. Da inteligente junção dos dois nomes científicos surgiu triticale (triti do trigo e cale do centeio). Sua produtividade média é superior a 4.000kg/ha e seu ciclo pode alcançar os 150 dias com estatura média de 98cm. 

O trigo é uma cultura milenar no mundo, contrastando com a novidade do triticale, que surgiu na Alemanha apenas no final do século 19 (1891), permanecendo como cultura marginal por um longo período.

Desde seus primórdios, o triticale é considerado um potencial substituto do milho na fabricação de rações para alimentação animal. Dadas suas características de alto potencial de rendimento de grãos e de biomassa, resistência a doenças, tolerância à seca, sistema radicular profundo e grãos de alto valor proteico, seu cultivo passou a despertar interesse de alguns países europeus (Polônia, Bielorrússia, Alemanha e França, principalmente). Segundo a FAO, mais de 80% da produção se concentra em países europeus, com registros de produtividades médias de até 6.732 kg/ha na Bélgica.

A pesquisa com triticale no Brasil começou na década de 1960, quando foram introduzidas as primeiras cultivares trazidas do México e, na década de 1980, foram desenvolvidas as primeiras cultivares nacionais para uso comercial. Mas, reconhecida como uma planta rústica, o triticale foi relegado a cultura marginal, com o cultivo realizado com baixa tecnologia e reduzido uso de insumos.

Atualmente, o cultivo do cereal está sendo estimulado para diversificação de culturas, pois proporciona boa cobertura vegetal, mesmo em áreas com baixa fertilidade e em solos arenosos e ácidos, permitindo a exploração econômica no inverno em áreas marginais, com baixo custo de produção.

A abundante palhada do triticale serve, também, como silagem para animais e seu sistema radicular profundo é excelente descompactador do solo. São Paulo lidera a produção nacional, seguido pelo Paraná e Rio Grande do Sul.

A área cultivada com triticale é modesta no Brasil (cerca de 15 mil hectares, em 2021), mas já foi maior (136 mil hectares, no início dos anos 2000), a partir de quando cedeu espaço para o milho, com quem compete com desvantagem por causa do menor preço relativo do seu grão. Mas a alta no preço de mercado do milho, acaba por elevar também o preço do triticale e estimular o seu cultivo.

O triticale acaba de receber um incentivo pela sua inclusão na base de dados do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC), com a indicação de cultivo nas regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste do Brasil, em sistema de sequeiro ou irrigado.

O zoneamento vai orientar a expansão do cultivo voltado às oportunidades de crescimento da demanda para produção de proteína animal. É possível substituir o milho pelo triticale na ração de suínos, em 100% e em 85%, na ração de aves. Por causa disso, o triticale é conhecido como o milho do inverno. Com o fomento do cultivo na Região Sul, muitos produtores estão experimentando o triticale pela primeira vez.

Apesar do menor valor energético em comparação com o milho, o triticale apresenta teor de proteínas quase 50% superior, segundo a Embrapa Trigo. O grão é predominantemente utilizado na nutrição de animais produtores de carne, embora o foco inicial do seu cultivo no Brasil fosse para consumo humano. No entanto, o perfil da farinha de triticale (de baixa qualidade para panificação e de cor escura), o menor rendimento de moagem e a logística limitada (https://www.cnpt.embrapa.br/biblio/do/p_do150_4.htm - 1) resultaram em baixa aceitação do cereal por parte de moinhos brasileiros, o que reduziu o interesse no seu cultivo no final da década de 1980. O cultivo voltou a ter novo estímulo na década de 1990, porém com mudanças no direcionamento do produto final.

Estima-se que atualmente 25% da produção de triticale está destinada à indústria de alimentos integrais (pães e biscoitos), pois ele garante a crocância e a firmeza dos biscoitos, permitindo eliminar o uso de aditivos químicos para atingir tais objetivos. A mistura recomendada para a fabricação de biscoitos é de 30% de farinha de triticale e 70% da farinha de trigo.

O cultivo de triticale no inverno, em áreas marginais do trigo, é econômica e ambientalmente desejável.

Amélio Dall’Agnol, pesquisador da Embrapa Soja

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