Se eu perguntar ao cidadão brasileiro qual a carne mais produzida e consumida no mundo, dificilmente responderá que é a carne de peixe. No entanto, ela não apenas é a mais produzida (250 milhões de toneladas - Mt), como representa mais do dobro da segunda colocada (a carne suína 120 Mt).

Ao estranhar, mas finalmente conformar-se com esta realidade, o cidadão deve logo atribuir ao pescado (o peixe capturado em rios, lagos e oceanos), como sendo o principal responsável por toda essa quantidade. Errado. A carne de pescado, que durante séculos dominou o mercado das carnes no mundo, atualmente responde por 80 Mt contra 140 Mt da aquacultura (produção de peixes em confinamento).

O que chama a atenção na carne de peixe, além do grande volume produzido, é a evolução relativa do pescado em contraste com a aquacultura. Enquanto esta evoluiu de 20 Mt em 1990, para uma previsão atual de 150 Mt previstos para proximamente, a produção de pescado permaneceu quase inalterada em cerca de 80 Mt e existem indicativos de que a produção desta carne continuará estacionada.

Atualmente, a carne de peixe proveniente da aquacultura encabeça a produção mundial de carnes, liderança que se consolidará nos anos vindouros visto ser, a aquacultura, uma atividade econômica relativamente recente, principalmente nos países do Ocidente, entre eles o Brasil.

O Continente Asiático, principalmente China, Indonésia, Índia, Vietnam e Filipinas, responde por mais de 70% da produção aquícola mundial. No entanto, o Ocidente está percebendo a atratividade do negócio e muitos países, incluindo o Brasil, estão investindo na área e sinalizando que, num futuro não muito distante, a aquacultura alcançará grande importância na região.

No Brasil, grandes empreendimentos aquícolas já podem ser encontrados no âmbito de cooperativas agropecuárias como a CVale e a Coopacol no Paraná, ou em empreendimentos privados do Mato Grosso, como em Sorriso e adjacências.

A crescente demanda por proteína animal (carnes, leite e ovos), consequência do aumento da renda per cápita dos cidadãos, além do aumento e do envelhecimento da população, ajuda a explicar a crescente demanda por soja (farelo), particularmente por parte da China, visto que esse país precisa dela para alimentar, não só seu enorme plantel de suínos e aves, mas, também, sua crescente indústria de peixes.

Como os peixes provenientes da aquacultura se alimentam de ração, cuja principal matéria prima é o farelo de soja, quanto maior for a produção de peixes em cativeiro, provavelmente maior será a demanda de soja.

Peixes de aquacultura também se alimentam de soja, intuindo que a demanda deste grão continuará aquecida, não apenas por conta do tradicional consumo de bovinos, suínos e aves, mas também dos peixes, cujo consumo cresce em paralelo com a economia.

Amélio Dall’Agnol, agronômo