A soja merece ser chamada de grão da prosperidade no Brasil. Em muitos locais onde é cultivada intensivamente brotam edificantes histórias de sucesso, seja no âmbito individual, da família, do município ou do Estado. As cidades onde a soja tem sido amplamente cultivada experimentaram um crescimento mais robusto que as demais e tiveram seu índice de desenvolvimento humano (IDH) aumentado acima da média nacional. O mesmo aconteceu com os estados grandes produtores do grão.

O Brasil começou tímido na produção de soja nos anos 40 e chegou às primeiras 100 mil toneladas em meados dos anos 50. O primeiro milhão de toneladas (Mt) foi alcançado em 1969 e em 1979 produziu 15 Mt, assumindo desde então a liderança do agronegócio nacional, em valor bruto da produção. No final da década de 1990, a produção de soja superou a do milho e assumiu, também, a liderança no volume de grãos produzidos.

Até início dos anos 80, a produção de soja concentrava-se na região sul, onde as áreas de lavoura disponíveis já haviam sido ocupadas pela oleaginosa no correr da década anterior e as áreas cobertas com gramíneas de baixo rendimento do bioma pampa, começavam a ser exploradas para o cultivo da oleaginosa. A cultura da soja mostrava-se mais rentável para justificar sua expansão para novas áreas de cultivo. Este fato fez com que o espírito empreendedor de uma leva de bons produtores proprietários de áreas limitadas, principalmente sulistas, olhassem para o Cerrado como uma opção para a expansão de suas atividades agrícolas.

Muitos agricultores da região sul, pela necessidade ou pela oportunidade de ampliar a área de cultivo da oleaginosa venderam suas propriedades nessa região aproveitando o preço de oportunidade e migraram para o desconhecido bioma Cerrado, onde havia muita terra disponível e barata, mas ácida e infértil. Compraram ou arrendaram grandes glebas de Cerrado, onde começou a saga que levou muitos deles ao status atual de grandes e bem sucedidos produtores de soja, milho e algodão.

Graças à tenacidade e dinamismo desses pioneiros, o Cerrado deslanchou não sem o importante apoio dos pesquisadores brasileiros que tiveram êxito no desenvolvimento e na oferta de um conjunto de tecnologias que permitiram a domesticação desse bioma via correção e fertilização do solo e desenvolvimento de cultivares adaptadas à produção em regiões tropicais de baixa latitude.

Atualmente, o Cerrado concentra a maior produção de soja, algodão e milho do Brasil e parte das suas terras deixaram de ser baratas e despovoadas, concentrando os mais bem sucedidos agricultores do Brasil. Graças à determinação e dinamismo desses empreendedores, cidades brotaram no meio do nada, algumas já ostentando a posição de verdadeiras metrópoles, como Rondonópolis, Sorriso, Luiz Eduardo Magalhães e Sinop, entre outras. Hoje, no Cerrado, as áreas de preservação ambiental convivem com campos férteis de produção dessas culturas.

A soja é um dos principais alimentos da população humana, consumido como grão, farelo ou óleo. Dificilmente algum cidadão deste planeta poderá afirmar que não consome soja, a menos que desconheça a origem da matéria prima que produziu o ovo, o queijo e a carne que consome diariamente gerados a partir do farelo de soja que a vaca, o porco e a galinha consumiram.

A soja é o grão cuja demanda mais cresce no mundo. De 1990 a 2017, as demandas por soja, milho, arroz e trigo cresceram 207%, 108%, 46% e 36%, respectivamente. A demanda global pela soja tem crescido, principalmente, por causa do elevado consumo de carnes, como consequência do explosivo crescimento da economia mundial a partir dos anos 80 e o consequente aumento da renda per capita das pessoas, as quais reduziram o consumo de grãos para incrementar o consumo de proteína animal (carnes, lácteos e ovos, entre outros).

O Brasil já transitou pela revolução econômica representada pela exploração do pau-brasil, seguido da cana-de-açúcar, do cacau, da borracha e do café, todos cultivos cuja produção e competição pelo mercado mundial envolve nações pobres. Agora, estamos transitando pelo ciclo da soja, cujo principal concorrente são os Estados Unidos, a nação mais eficiente na produção de commodities agrícolas. O nosso desempenho é comparável ao de nações desenvolvidas. Soja é sinônimo de prosperidade. Gera bilhões de dólares anuais em exportações, liderando a pauta dos produtos que o Brasil vende ao exterior.

Amélio Dall’Agnol, Engenheiro Agrônomo