Diariamente ouvimos a imprensa nos informar que o agro brasileiro é top. Faz sentido. Comparando a evolução desse setor com o de outros segmentos da economia brasileira, o agronegócio deslanchou, surpreendeu e se distanciou dos demais setores da economia nacional. Seu espetacular desenvolvimento chama a atenção, não somente de nós brasileiros, mas do mundo todo. Afinal, o Brasil não é um país “em desenvolvimento”, então porque dessa súbita mudança!

O Brasil, quando observado desde a perspectiva agrícola, aparenta ser um país “desenvolvido”! O desenvolvimento deste setor foi muito superior ao dos demais setores da economia brasileira, despontando como o principal responsável pelos superávits e pelo equilíbrio da balança comercial brasileira.

A grande virada do agronegócio brasileiro começou na década de 1970, quando o Brasil se descobriu com potencial para ser grande produtor e fornecedor de soja para os mercados nacional e internacional. A soja foi o motor desse avanço, que, além de tornar-se, ela mesma, o principal produto exportado pelo Brasil, estimulou a produção do milho segunda safra que, juntos, promoveram a produção de carnes, tornando o Brasil o maior exportador de carne bovina e segundo maior exportador de carne de aves e quarto maior exportador de carne suína.

No início dos anos 70, a produção de soja no Brasil era pequena: 1,5 milhões de toneladas (Mt) e concentrada na Região Sul do País. No final dessa década, considerando o valor bruto da produção, a soja já era a cultura líder do agronegócio nacional (15 Mt, em 1979). A descoberta do potencial da soja levou milhares de produtores da região sul – onde a terra era escassa e cara – para o Cerrado da região central do País, transformando essa região marginalizada, despovoada e desvalorizada no maior centro produtor de soja, milho e algodão. “O desenvolvimento do Cerrado brasileiro deve ser considerado um dos maiores eventos do século XX” declarou Norman Borlaug, Prêmio Nobel da Paz de 1960.

Mas não foram todos os produtores rurais que se beneficiaram desse rápido desenvolvimento. Segundo Eliseu Alves e Daniela Rocha, 27 mil estabelecimentos agrícolas empresariais respondem por mais da metade do valor bruto da produção agrícola brasileira. A grande maioria dos 4,5 milhões de estabelecimentos rurais ainda busca o caminho do sucesso, que poderá nunca chegar, porque lhes faltam as ferramentas necessárias para deslanchar: pouca terra, pouco domínio tecnológico, falta de assistência técnica, falta de maquinário moderno ou máquinas obsoletas, e, também, mão de obra familiar escassa, porque os jovens estão preferindo migrar para a cidade, atrás de mais conforto e lazer. Estes pequenos produtores, no entanto, embora carentes de prestígio e de bem-estar, são os principais provedores dos alimentos que consumimos diretamente, como frutas, hortaliças, leite e ovos.

O êxodo rural não é novidade brasileira. Isto aconteceu, por exemplo, também nos EUA entre as décadas de 1940 a 1980, quando mais de 60% dos estabelecimentos rurais desapareceram. Hoje, também está acontecendo na China, assim como em muitos outros países, mundo afora.

O campo está migrando das pequenas propriedades tocadas com muito esforço e sacrifício com a mão de obra das famílias proprietárias, para grandes empresas agrícolas altamente especializadas que fazem uso da automação nos processos produtivos, onde a máquina substituiu gradativamente a mão de obra, com menos esforço e menor custo. Além de mais potentes e mais sofisticadas, a quantidade de máquinas nos campos de produção cresceu, permitindo maior rendimento operacional e maior conforto para os seus operadores.

Assim como as máquinas foram importantes na aceleração do desenvolvimento agrícola nacional, o uso de biotecnologias, como a engenharia genética, trouxeram sofisticação no desenvolvimento de novas cultivares de soja, milho e algodão, modificando seu DNA via incorporação de genes estranhos às culturas e facilitando o controle de suas pragas e invasoras. Essas mudanças contribuíram para alavancar a produção agrícola brasileira, gerando enormes excedentes exportáveis que promoveram o Brasil de importador de alimentos para segundo maior exportador e gerador de enormes superávits para a balança comercial brasileira. E está a caminho da liderança global na exportação de alimentos.

O Brasil agrícola mudou e poderá ensinar o caminho do campo para outros setores da economia nacional.

Amélio Dall’Agnol, Engenheiro Agrônomo.