O avanço da produtividade da agricultura brasileira tem sido notório e tem muito a ver com a utilização de mais e melhores tecnologias no processo produtivo. Destaque para o Sistema Plantio Direto (SPD), pelo que ele representou e representa para o manejo e conservação do solo e da água.

Se bem a produtividade no SPD pode ser negativa durante os 4 ou 5 primeiros anos de sua implantação (vide figura abaixo), a partir desse período seus benefícios são permanentes, desde que os fundamentos que regem o sistema sejam respeitados: não revolvimento do solo, rotação de culturas e cobertura com abundante palhada. O ideal seria cobertura do solo com cerca de 6 toneladas/ha de matéria seca, cobrindo pelo menos 80% da superfície. A soja é uma péssima produtora de palhada, não passando de 3,0 t/ha, para o que é importante que ela seja rotacionada com culturas ricas em palhada; milho consorciado com braquiária, por exemplo.

Os resíduos culturais, que no passado eram criminosamente queimados para deixar o campo limpo para novo plantio, hoje constituem um dos maiores aliados do agricultor, porque inibem a erosão do solo, protegendo-o contra a ação desagregadora das gotas de chuva e ajudam no controle das plantas daninhas. Por dispensar o preparo do solo no pré-plantio, esse sistema permite antecipar a semeadura da cultura subsequente, o que tem favorecido enormemente a produção do milho segunda safra no Brasil, hoje a safra principal.

Estudo realizado na década de 1970 indicou que, num campo de produção sem cobertura vegetal e com declividade de 5%, o escoamento da água das chuvas foi de 45,3%, a infiltração dessa água foi de apenas 54,7% e a perda de solo pela erosão foi de 13,69 toneladas/ha. Já no mesmo solo, com cobertura de 2,2 toneladas de resíduos culturais, o escoamento das águas das chuvas foi de 0,1%, a infiltração foi igual a 99,9% e a erosão do solo foi de 0%. Precisa dizer mais?!

Como consequência do menor escoamento superficial, da maior infiltração e da menor evaporação, o SPD promove aumento da água no solo, permitindo-o suportar estiagens não muito prolongadas, sem perda de produtividade. Por seus efeitos benéficos sobre os atributos físicos, químicos e biológicos do solo, o SPD é uma ferramenta essencial para o alcance da sustentabilidade dos sistemas de produção agropecuários. Mas a adoção do SPD não é tarefa fácil. É complexa, exigindo capacitação da mão de obra utilizada no manejo das sofisticadas máquinas e equipamentos. Realizá-la com qualidade exige conhecimentos e critérios.

Como o próprio nome indica, é um sistema de manejo, o qual envolve mais de uma cultura, podendo incluir a integração com pastagens. Com o avanço na utilização do SPD, a dinâmica dos problemas fitossanitários e de fertilidade é alterada, exigindo acompanhamento criterioso.Considerando que uma das premissas do SPD é o não revolvimento do solo após a sua implantação, algumas medidas pré implantação são necessárias: incorporação de calcário em solos ácidos, nivelamento de terrenos desuniformes e a descompactação de solos compactados devem ser realizados previamente ao início da adoção do sistema. A correção dos teores de fósforo e potássio, se necessária, também deverá ocorrer antes de estabelecer o SPD.

Após alguns anos de cultivo sob o SPD, sinais de acidez aparecerão, para o que muitos produtores têm optado por aplicar o calcário em superfície, associado ao gesso, para evitar o seu revolvimento. Tem funcionado. Sem receio de incorrer em grave equívoco, pode-se afirmar que a adoção do SPD foi uma das principais, ou a principal tecnologia na promoção do rápido desenvolvimento agrícola brasileiro. Colaborou, não apenas com a manutenção da fertilidade do solo, mas também com o meio ambiente, evitando o assoreamento de rios, lagoas e hidrelétricas, bem como com a intensificação do uso do solo, via 2ª safra de verão.

Não considere despesa o custo de um bom manejo do solo. Ele, mais bem, é um investimento futuro, com significativos retornos financeiros. Aposte.

Amélio Dall’Agnol, engenheiro agrônomo