É inegável a contribuição que a China proporcionou ao desenvolvimento da economia brasileira. O gigante asiático era um ator secundário no comércio exterior do Brasil até início dos anos 90 e, em menos de três décadas, converteu-se no principal parceiro comercial do país, absorvendo cerca de 30% das nossas exportações, que, infelizmente, ainda se concentram em produtos com baixo valor agregado, principalmente commodities agrícolas e minerais (minério de ferro e soja em grão).

Por causa da fome chinesa por essas commodities e as maiúsculas importações realizadas pelos chineses com esses produtos em anos recentes, seus preços de mercado deslancharam e o Brasil vem faturando bilhões de dólares em superávits comerciais. Sem os dólares auferidos com as exportações para a China, o Brasil seria um país mais pobre e muito pior.

Mas não é só a China que está com fome dos produtos exportados pelo Brasil. A Índia, outro gigante asiático, tem potencial para tornar-se outro parceiro preferencial do Brasil. Em 2016, a economia da Índia cresceu a um ritmo superior ao da China (7,1% vs. 6,7%). A demanda deste país por bens de consumo pode crescer da forma como cresceu na China, no período recente. Alguns especialistas dizem que, em mais uma década, a China terá estabilizado sua demanda de consumo. Nessa eventualidade, espera-se que a Índia possa carear parte da demanda chinesa, caso o programa de modernização econômica em curso no país seja bem-sucedido.

O PIB indiano é ainda muito baixo em relação ao chinês e a renda per capita é ainda mais discrepante: cerca de 20% da chinesa. Mas a China de 30 anos atrás não era diferente da Índia de hoje. O PIB indiano superou recentemente o do Brasil, da França e da Itália. Segundo o Banco Goldman Sachs, até 2035 a Índia superará o PIB da Alemanha, do Reino Unido, da Rússia e do Japão. Em 2050 será a 3º maior economia do planeta, atrás, apenas, da China e dos Estados Unidos.

A Índia já figura como o mais populoso país do mundo, tendo superado recentemente a China, com mais de 1,4 bilhão de pessoas e metade da população ainda depende da agricultura para sobreviver. Mesmo com inúmeros problemas sociais, o país se tornou a 7ª economia do mundo. Adicionalmente, a Índia é o 3º maior produtor global de grãos e possui o maior rebanho bovino (búfalos) do planeta. A cultura impede o país de ser grande produtor e consumidor deste alimento, mas não de disputar a liderança no comércio exterior com Brasil e Austrália. A Índia não produz e nem importa carne suína, mas é o 5º produtor e consumidor da carne de frango.

Existem indícios que a próxima década poderá ser a década da Índia no agronegócio global, ocupando o espaço que já foi da China em décadas mais recentes. Por causa dos seus avanços econômicos, as agências Standard & Poors e Moodys outorgaram o nível de investimento ao país em 2003, indicando que o país se tornou um lugar seguro para receber investimentos com capital estrangeiro.

Caso o significativo crescimento do PIB indiano seja mantido, sua renda per capita crescerá, o que poderá promover mudanças nos hábitos de consumo da população, reduzindo o consumo de grãos (arroz, trigo e milho) e aumentando a demanda por proteínas animais (carnes, produtos lácteos e ovos). Para que isto aconteça, a Índia precisará do Brasil, importando soja em grão e milho ou carnes.

O agronegócio brasileiro poderá respirar aliviado e continuar carregando o piano da economia brasileira, caso se concretizem as previsões positivas sobre o mercado indiano, potencial grande consumidor de produtos brasileiros. Mas seria desejável que, diferentemente do que ocorreu no comércio bilateral com a China, nossas exportações para o novo parceiro não privilegiassem tanto as commodities, hoje favorecidas pela Lei Kandir, que as isenta de taxas de exportação, mas que são cobradas dos produtos industrializados

Amélio Dall’Agnol, Engenheiro agrônomo

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