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AGRONEGÓCIO RESPONSÁVEL 5m de leitura

Manejo de plantas daninhas na entressafra da soja

ATUALIZAÇÃO
22 de janeiro de 2022

Amélio Dall’Agnol
AUTOR

Imagem ilustrativa da imagem Manejo de plantas daninhas na entressafra da soja

Uma boa safra de soja começa na entressafra. É nesta etapa do processo produtivo que os produtores precisam estar alertas para evitar o aumento da infestação de plantas daninhas passíveis de prejudicar a cultura de soja semeada na sequência. Um dos principais mecanismos de disseminação das plantas daninhas, em especial as anuais, é a alta produção de sementes. Estimativas de bancos de sementes de plantas daninhas no solo, em áreas agrícolas de diversos cultivos na Inglaterra, Estados Unidos e França mostraram números médios variando de 4.120 a 49.800 sementes por metro quadrado, com grandes diferenças entre amostras.

As plantas daninhas afetam a produção agrícola devido, principalmente, às interferências negativas impostas pela competição por água, nutrientes, luz e efeitos alelopáticos. Além disso, as plantas daninhas podem ser hospedeiras de pragas, agentes causadores de doenças e nematoides, além de dificultar a operação de colheita ou mesmo, depreciar a qualidade final do produto colhido, causando, assim, perdas na rentabilidade final do processo de produção.

Segundo a Embrapa, normalmente ocorre a multiplicação de plantas daninhas no período de entressafra da soja, especialmente quando o solo fica em pousio no inverno e as plantas daninhas se multiplicam, via produção de sementes. Na região subtropical do Brasil o pousio pode coincidir com o outono, mas a estratégia é a mesma, ou seja, não deixar as infestantes produzir sementes.

Entre os métodos utilizados para controlar as infestantes na entressafra estão o controle cultural, o mecânico e o químico, sendo este, o mais utilizado. Dentre estes métodos deve ser dado destaque para o controle cultural, que é baseado no cultivo de espécies de inverno para formação de abundante palhada como a aveia, o azevém e o trigo no Sul e o milheto e a braquiária, consorciada ou não com o milho de segunda safra no Paraná, São Paulo e Centro Oeste. A cobertura morta tem possibilitado a redução no uso de herbicidas em semeadura direta, pois diminui a emergência das plantas daninhas entre 60% a 90%, quando comparado com áreas não cultivadas na entressafra.

O manejo adequado das plantas daninhas na cultura da soja tem se tornado mais difícil a cada ano. Novos casos de resistência são relatados com frequência, inclusive de plantas daninhas resistentes a mais de um mecanismo de ação de herbicidas, já assombra o Brasil. A Embrapa ressalta que é preciso investir na rotação dos mecanismos de ação dos herbicidas para prevenir e ou eliminar problemas de plantas tolerantes e/ou resistentes aos herbicidas. A utilização continuada de um mesmo herbicida modifica a flora daninha, com grande propensão de selecionar populações tolerantes e/ou resistentes ao produto utilizado.

Na fase anterior ao estabelecimento do sistema plantio direto (SPD), o pousio figurava como uma estratégia de controle das plantas daninhas, uma vez que o processo de produção de soja convencional eliminava as invasoras via aração e gradagem previamente ao estabelecimento das culturas. Mas, estudos recentes indicam que os cultivos de entressafra são mais eficientes na supressão das plantas daninhas do que o pousio.

O estabelecimento do SPD foi uma dádiva para os agricultores brasileiros. Além de reduzir drasticamente a erosão, ele antecipa a semeadura da soja após os cultivos de inverno e seus restos culturais amenizam a incidência dos raios solares e reduzem o impacto das gotas de chuva sobre os agregados do solo. Também, reduz os custos no estabelecimento das lavouras e pode auxiliar no controle da matocompetição.

A rotação de cultivos, um dos pilares do SPD, ainda é pouco praticada pela maioria dos agricultores, embora cientes de que a abundância de cobertura morta no solo, que ela proporciona, seja estratégia eficaz na redução do banco de sementes das infestantes. A produção de abundante palhada constitui-se na âncora dos planos de manejo, integrando os métodos de prevenção com os métodos de controle (os culturais, físicos, biológicos e químicos). A bem da verdade, a maioria dos agricultores restringe a prática do plantio direto à eliminação do arado e da grade e ao uso intensivo de herbicidas na pré-semeadura.

Planta daninha é toda e qualquer planta que ocorre onde não é desejada.

Amélio Dall’Agnol, pesquisador da Embrapa Soja

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