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AGRONEGÓCIO RESPONSÁVEL 5m de leitura

Como os rios aéreos colaboram com o Brasil agrícola

ATUALIZAÇÃO
07 de maio de 2023

Amélio Dall’Agnol
AUTOR

Rios aéreos ou rios voadores são imensas massas de vapor de água que circulam invisíveis sobre nossas cabeças, propelidos pelos ventos. A umidade contida nesses rios precipita na forma de chuva, quando encontra condições meteorológicas propícias, como uma frente fria, por exemplo.

O principal rio voador do Brasil tem origem na franja equatorial do Oceano Atlântico (Nordeste brasileiro), viaja para oeste rumo à Região Norte movido pelos ventos elísios e aumenta significativamente de volume ao incorporar a umidade que evapora da Floresta Amazônica.

Parte dessa umidade cai como chuva sobre a mata tropical, que depois retorna à atmosfera como vapor de água, dando início a um novo ciclo hídrico. Outra parte segue até encontrar a enorme barreira da Cordilheira dos Andes, desde onde escorrega rumo ao sul do Brasil, promovendo chuvas nas regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste do Brasil, além de Bolívia, Paraguai e Argentina. Sem essa umidade, o centro-sul brasileiro seria alguma coisa parecida a um deserto. A Região Nordeste, apesar de ser o berço do rio aéreo amazônico, pouco se beneficia do mesmo.

Estima-se em 200 milhões de litros por segundo o volume de vapor de água que evapora da Floresta Amazônica e é transportado pelos rios aéreos da região. Esse volume de água, embora invisível, têm a mesma ordem de grandeza da vazão do rio Amazonas.  Não fosse o acidente geográfico representado pela Cordilheira dos Andes, essa umidade se dispersaria a oeste do Brasil, possivelmente sobre as águas do oceano Pacífico, não beneficiando o Brasil, que teria seu potencial agrícola reduzido enormemente.

Sem as benesses da umidade carregada pelos rios aéreos Amazônicos, o Cerrado brasileiro não seria nosso principal celeiro agrícola, mas um grande deserto ou próximo disso. O mesmo pode ser dito sobre a Floresta Amazônica, que possivelmente não se teria formado sem a presença do enorme paredão de 4 km de altura dos Andes, que retém a umidade, evitando sua fuga na direção do Oceano Pacífico e a redireciona de volta para o território brasileiro.

Embora o rio aéreo amazônico seja o maior do Brasil, há duas dezenas de outras correntezas aéreas carregadas de vapor de água que cruzam o espaço aéreo brasileiro a uma altura não superior a 3 km, responsáveis por chuvas que caem em diferentes pontos do território nacional. O próprio rio Amazonas é resultado das precipitações da umidade contida nos rios aéreos que transitam sobre a região.

Parte da umidade do rio aéreo amazônico que chega à Cordilheira dos Andes não é rebatida de volta ao sul do continente, mas congelada no topo dessas montanhas, dando início aos inúmeros afluentes do Rio Amazonas a partir do seu degelo.  Os rios aéreos não são um privilégio do Brasil. Eles respondem pela maioria das precipitações pluviométricas que ocorrem pelo mundo.

O clima brasileiro é muito dependente dos rios aéreos formados a partir da evapotranspiração da Grande Floresta Amazônica. Se o Brasil não tem desertos, ao contrário da maioria dos países de dimensões continentais como o nosso, devemos ao enorme volume de vapor de água que se forma sobre essa floresta, viaja a oeste até ser bloqueada pela Cordilheira dos Andes e retorna para nosso território, irrigando, principalmente, a região do cerrado.

A Floresta Amazônica é um patrimônio brasileiro que precisa ser preservado. Se alguém ainda considera um desperdício deixá-la intocada, ela rende bilhões de dólares anuais em benefícios indiretos sendo conservada como é. É ela a grande responsável pela transformação do Brasil em potência agrícola (segundo maior exportador de alimentos e a caminho da liderança global), visto o potencial que o país ainda tem em terras aptas e disponíveis para ampliar a produção, graças às águas dos rios aéreos amazônicos que irrigam nosso cerrado, entre outros ecossistemas.

Amélio Dall’Agnol, engenheiro agrônomo 

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