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Amélio DallAgnol 5m de leitura

AGRONEGÓCIO RESPONSÁVEL| A soja e a produção de carnes

ATUALIZAÇÃO
11 de junho de 2021

Amélio Dall’Agnol
AUTOR

Das grandes culturas produtoras de grãos, a soja é a que mais cresce em nível global, consequência da forte demanda mundial por carnes e óleo, resultado do expressivo crescimento econômico mundial das últimas décadas.  Com o crescimento econômico, aumentou a renda per capita da população, que passou a consumir menos grãos e mais carnes, estas produzidas, principalmente, a partir do farelo da soja como a matéria prima proteica. 

A China é o centro de origem da soja e foi lá que sua produção comercial e consumo tiveram início. Registros indicam o uso da soja na dieta alimentar do povo chinês há mais de 5.000 anos, quando já era considerada um dos cinco grãos sagrados da antiga cultura chinesa. Até meados dos anos 50, a China dominou a produção e o consumo da oleaginosa, mas os Estados Unidos (EUA) estavam no seu encalce. 

Os EUA, após introduzirem a soja em seu território nos anos 20, utilizaram-na primordialmente na produção de feno para bovinos, até início dos anos 50. Em 1960, o país já respondia por mais de 50% da produção mundial do grão e em 1970, mais de 70%, quando Brasil e Argentina entraram nesse mercado, reduzindo a participação Norte Americana a menos de 30% (2021). Quase 90% da safra 2020/2021, estimada em 370 milhões de toneladas (Mt), se concentra em países do Continente Americano, principalmente Brasil, EUA e Argentina, mas, também, Paraguai, Canadá, Uruguai e Bolívia. 

A China é a grande consumidora de soja porque também é grande produtora de carnes (suínos e aves, principalmente). Mas produz pouca soja, razão pela qual precisa importar a maior parte do que consome: mais de 100 Mt, representando cerca de 70% da soja exportada globalmente. Da soja em grão exportada atualmente pelo Brasil, quase 80% seguem para o mercado chinês, assim como, mais de 60% do óleo de soja. A China não importa farelo, porque ela privilegia a importação do grão para processá-lo e agregar valor em seu território. A Europa consome a maior parte do farelo de soja exportado pelo Brasil.

Seria quase impensável há algumas décadas ser um país grande produtor de carnes sem ser, também, um grande produtor da matéria prima que as produz as carnes (soja e milho, em especial). EUA, Brasil, Austrália e Argentina são grandes produtores de carne bovina, cujo produto não depende muito da soja, porque os bovinos comem mais pasto do que ração. Mas EUA e Brasil, também são grandes produtores de carne de suínos e aves, resultado de sua grande produção de soja e milho. A China, é grande produtora de carne de suínos (52% da produção mundial) e de aves (2º produtor global), mas produz pouca soja, o que a faz perigosamente dependente do mercado externo, que pode falhar. Em compensação, produz muito milho (240 Mt, em 2020), que, junto com a soja, constitui a ração que engorda os suínos e os frangos. Em contraste com a China, a Argentina produz muita soja e milho, mas pouca carne de suínos e aves, o que a torna uma potencial futura fornecedora dessas carnes, pois dispõe da matéria prima para produzi-las. Só precisa organizar sua cadeia produtiva.

O problema da China, com sua enorme dependência de soja importada, só não é maior, porque a carne produzida é consumida pelo mercado interno. Se dependesse do mercado externo, sua carne poderia não competir, pelo eventual alto preço da soja importada. 

A produção de soja em larga escala, a partir da década de 1970, foi uma benção para a economia do Brasil. Foi a partir dela que o setor agrícola brasileiro se transformou, gerando atualmente saldos comerciais superiores a US$ 100 bilhões anuais (2020), mas ainda insuficientes para zerar o saldo negativo dos demais setores da economia do País. 

A soja é o principal produto agrícola brasileiro e o principal item na pauta das exportações do País. Podem chama-la de “o fenômeno brasileiro”. Ela faz jus ao apelido.

Amélio Dall’Agnol, Pesquisador da Embrapa Soja

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