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Opinião 5m de leitura

ESPAÇO ABERTO: Poucos segundos para a meia noite

A escalada de tensões que pode levar a uma catástrofe nuclear

ATUALIZAÇÃO
06 de outubro de 2022

João Alfredo Lopes Nyegray
AUTOR

Em 1947, no início daquela que hoje estamos chamando de “Primeira Guerra Fria”, um grupo de cientistas e estudiosos de energia atômica da Universidade de Chicago criou o “relógio do juízo final”. Trata-se de uma contagem simbólica em que a meia noite representaria um apocalipse causado por uma guerra nuclear. À época, um dos momentos em que o relógio quase atingiu a 00 hora foi em 1962, quando da crise dos mísseis de Cuba.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin
 

Este ano, ao menos três décadas depois do fim da Guerra Fria, o relógio mais uma vez se aproxima do horário apocalíptico. A escalada de tensões na Europa, que se iniciou com a invasão russa à Ucrânia em fevereiro deste ano, atingiu seu ponto mais tenso em semanas. Na semana passada, enquanto o mundo ainda assistia ao velório da rainha Elizabeth II e se preparava para a Assembleia Geral da ONU, em Nova York, o parlamento russo aprovou uma lei que pode condenar a até 15 anos de prisão os críticos das ações militares russas. Para aqueles que se recusarem a lutar ou desertarem, a pena é de 10 anos de reclusão.

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Logo após a aprovação da lei, o presidente russo anunciou a convocação de cerca de 300 mil reservistas para lutar contra a Ucrânia. Trata-se claramente de uma resposta às importantes vitórias ucranianas sobre as tropas russas ocorridas nas últimas semanas. Com moral elevado, armamento ocidental novo e altamente tecnológico, os ucranianos retomaram várias áreas sob controle de Moscou – o que, para Putin, certamente caiu como uma grande vergonha.

Ao convocar reservistas – e com isso gerar uma fuga em massa de homens em idade militar do país e protestos em todas as grandes cidades – Putin, de certa forma, admite o fracasso de sua campanha militar até agora. Trata-se de um claro sinal de que o conflito não só não está saindo como esperado, mas que a Rússia não tem sido capaz de manter o controle das áreas que ocupou.

Mais perigoso do que tudo isso é a carta nuclear: o líder russo afirmou estar disposto a usar bombas nucleares contra a Ucrânia e ameaçou o ocidente como um todo. Considerando que os russos possuem o maior arsenal nuclear do planeta, o uso desse armamento não seria impossível – mas, certamente, traria uma forte reação de todo o mundo. Aqui entram as chamadas “armas nucleares táticas”, de menor potência mas igualmente nocivas. Se essas armas forem de fato utilizadas, aqueles que mantêm apoio velado à Rússia – como China e Índia – dificilmente permaneceriam ao lado de Putin.

Enquanto há analistas que acreditam que a fala do líder russo denota desespero e preocupação com os rumos que o conflito tomou, há quem – como eu – entenda nessa afirmação a demonstração de que Moscou está disposta a lutar por muito tempo, mesmo com as inúmeras sanções ocidentais. No fundo, fica cada vez mais claro que Putin tem pouco a perder.

João Alfredo Lopes Nyegray, especialista em Negócios Internacionais, doutor em estratégia, coordenador do curso de Comércio Exterior e professor de Geopolítica e Negócios Internacionais na Universidade Positivo (UP).

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