Localizado na região dos Campos Gerais, no sudeste do Paraná, São João do Triunfo produziu 19.784 toneladas de tabaco na safra 2019/2020, segundo dados da Afubra (Associação dos Fumicultores do Brasil). O resultado posiciona o município como o maior produtor nacional, sendo responsável por mais de 11% de toda a produção paranaense.
Methodio Groxko, técnico do Deral (Departamento de Economia Rural), órgão ligado à Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento, explica que uma conjunção de fatores faz do município uma potência na produção. “O clima e o solo são favoráveis à cultura, com a produção desenvolvida em pequenas propriedades”, explica.
São João do Triunfo conta hoje com cerca de 5 mil produtores de tabaco, sendo 100% da agricultura familiar. “O que faz girar a economia aqui é o tabaco. É o maior gerador de emprego do município, sendo que 8 mil pessoas trabalham nessa atividade”, destaca Maurício Teixeira, ex-secretário da Agricultura do município.
Segundo o técnico do Deral, os maiores desafios dos produtores de tabaco hoje no Estado são o clima e o câmbio, já que 90% da produção é exportada para outros países. “A valorização do dólar frente ao real e a produção menor favoreceram o aumento de preços para o produtor de tabaco no Paraná”, destacou.
O agricultor Juliano Zakrzewski Maier produziu 27 toneladas de tabaco, a partir do plantio de 125 mil pés, no ano passado. Até o final deste ano, ele espera ao menos igualar a produção de 2020.
Hoje, 100% da produção resultante de 9 hectares plantados é vendida para uma unidade da Souza Cruz localizada em Rio Negro, a 125 km de São João do Triunfo. “Hoje, 85% do tabaco produzido vai para exportação e o restante abastece o mercado interno”, diz.
Juliano começou na atividade há 20 anos, vislumbrando no cultivo das folhas de tabaco a chance de construir um futuro melhor.
“Hoje tenho praticamente todo o maquinário para a produção do tabaco, com exceção da colheitadeira, então ainda fazemos de maneira manual. Já teve gente que usou a colheitadeira e não aprovou. Conto com a ajuda da família e de mais 2 funcionários”, diz.
Segundo ele, o mercado está favorável, com o preço da folha hoje maior que no ano passado e expectativa de valorização maior do produto. “Por outro lado, o custo de produção está muito alto”, pontuou.
Juliano sempre recorre às orientações de técnicos, além de fazer um bom preparo do solo e rotação de culturas para sempre alcançar o máximo em qualidade e produtividade. “É uma atividade lucrativa, sendo que hoje os nossos maiores desafios são as condições climáticas e a falta de mão de obra.”
O sentimento de plantar tabaco no maior município produtor do Brasil é de orgulho. “O trabalho de todos os produtores e produtoras de tabaco elevou o nosso município a se tornar o maior produtor nacional, sendo que geramos renda e dignidade a muitas famílias triunfenses”, conclui.
Na safra 2020/2021, a produção paranaense de tabaco ficou em 146,7 mil toneladas, 16% menor em relação à safra passada. Por causa da seca, a produtividade por hectare caiu 8,5% de um ano para outro, de 2.459 kg/hectare para 2.248 kg por hectare.
VALORIZAÇÃO
De acordo com levantamento feito pelo Deral, o fumo de estufa registrou uma valorização de 27,5% em julho deste ano na comparação com o mesmo mês do ano passado, sendo que a arroba (15 kg) subiu de R$ 133,82 para R$ 170,68. O fumo de galpão, por sua vez, valorizou ainda mais: 53,3%, com a arroba subindo de R$ 109,30 em julho de 2020 para R$ 167,55 em julho deste ano.
“No caso do fumo de estufa, são colhidas algumas folhas do pé, de 7 a 10 vezes, e a secagem é feita com a utilização de lenha. Já sobre o fumo de galpão, o pé é cortado de uma vez só, sendo levado ao galpão para secar de maneira natural, com o calor e o vento”, diferencia.
Ele explica que os produtores fazem a colheita e a primeira transformação industrial, fazendo a secagem. “Depois, classificam e vendem as folhas para a indústria, sendo que apenas 10% abastece o mercado interno e o restante é exportado”, explica.
A produção do tabaco em São João do Triunfo é remetida para quatro filiais de indústrias, localizadas me Canoinhas (SC), Rio Negro (PR), Rio Azul (PR) e São Mateus do Sul (PR).
“Essas filiais captam dos produtores e enviam para Santa Cruz (RS), para o cigarro ser fabricado e exportado. Há casos de o cigarro já sair pronto ou somente o blend, que é a matéria-prima já preparada para a indústria lá fora produzir o cigarro”, explica Maurício Teixeira, ex-secretário da Agricultura de São João do Triunfo.
DESTAQUES
Entre os dez municípios produtores que mais se destacaram na fumicultura na safra 2019/2020, todos estão na Região Sul brasileira e quatro estão no Paraná – Rio Azul, Ipiranga e Prudentópolis ficaram na 4ª, 8ª e 10ª posição no ranking nacional, com produções de 16.439, 12.952 e 12.438 toneladas, respectivamente.
O Paraná produziu 174 mil toneladas de tabaco na safra 2019/2020, o que gerou uma riqueza próxima a R$ 1,5 bilhão. Essa produção coloca o território paranaense como o terceiro maior Estado produtor de tabaco, ficando atrás do Rio Grande do Sul (243 mil toneladas) e de Santa Catarina (215 mil toneladas). Hoje o Paraná conta com cerca de 29 mil produtores de folhas de tabaco.
Para se ter uma ideia da relevância da Região Sul na produção de tabaco, com relação à safra 2018/19, data em que há os mais recentes dados consolidados pela Afubra, os três Estados (PR, SC e RS) concentraram 96,8% da produção nacional nesse período, quando 664 mil toneladas foram cultivadas por 149 mil famílias, em uma extensão de 297 mil hectares.
O VBP (Valor Bruto da Produção), riqueza produzida pela atividade nos três Estados, atingiu, por sua vez, R$ 5,86 bilhões. O restante da produção nacional é proveniente do Nordeste (somente 3,1% do total) e de outras regiões (0,1%).
A Bélgica é o principal mercado importador do tabaco brasileiro, para onde foram exportadas 126,1 milhões de toneladas no ano passado, seguida dos Estados Unidos (42,9 milhões de toneladas) e China (31,5 milhões).
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