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Folha Rural 5m de leitura

Bicho-da-seda é fonte de renda para mais de 2 mil famílias no PR

Estado é responsável por 85% da produção nacional de casulos; Londrina abriga única fiação de seda do Ocidente

ATUALIZAÇÃO
07 de maio de 2021

Lucas Catanho - Especial para a FOLHA
AUTOR

O bicho-da-seda movimenta a economia no Paraná. Na safra mais recente, mais de 2.350 famílias sericicultoras seguem desenvolvendo a atividade até o final de junho, totalizando mais de 10 mil pessoas envolvidas no Estado e uma receita gerada de R$ 45 milhões aos pequenos produtores rurais. 

As famílias paranaenses são responsáveis por 85% da produção nacional de casulos, predominando sobre São Paulo (11% de participação) e o Mato Grosso do Sul (4%). Ao todo, 2.700 famílias seguem envolvidas na atividade no Brasil, em 221 municípios. 

 

A Bratac é hoje a única fiação de seda em escala industrial do Ocidente, reconhecida internacionalmente pela qualidade do produto. Possui duas fábricas, uma em Londrina e outra em Bastos (SP). Usa como única matéria-prima os casulos do bicho-da-seda, lagartas que são alimentadas exclusivamente com folhas de amoreira. A criação do bicho-da-seda acontece em propriedades rurais familiares, sempre em parceria com a Bratac (leia mais abaixo).

 

Atualmente, o preço de referência do casulo teor de seda 15% é de R$ 18,30 por quilo.

No entanto, os produtores rurais estão focados em produzir com qualidade e chegam a receber até R$ 22,63 por quilo de casulo.

Segundo a Abraseda (Associação Brasileira da Seda), a parceria dos sericicultores com a Fiação de Seda Bratac é saudável no Paraná, na medida em que, quanto melhor a qualidade do casulo de seda, maior o preço pago pela indústria ao produtor rural. 

“A compra é certa e o preço, garantido e previamente divulgado. Cada sericicultor tem ciência das regras de classificação da produção e participa pessoalmente da precificação na venda do produto. Nada se perde, e todo resíduo de seda gerado dentro do barracão de criação do bicho-da-seda é vendido para a indústria. O desperdício de massa verde é reaproveitado na adubação do solo dentro da mesma propriedade”, explica Renata Amaro, presidente da Abraseda.

 

Sobre os desafios da atividade, Renata destaca que a sericicultura finalmente passou a ser atrativa no campo, inclusive como oportunidade para jovens. No entanto, ainda falta investimento em tecnologia nas propriedades rurais familiares. 

“Para maior competitividade dessa atividade, é imprescindível a renovação de área do amoreiral, mecanização e viabilidade de irrigação. Infelizmente, o maior desafio nesta safra foi a deriva de agrotóxicos [porção do agrotóxico que não atinge o alvo desejado] decorrente da aplicação irregular de defensivos agrícolas.” 

 

Ao todo, foram mais de 800 produtores afetados, principalmente no Norte Pioneiro e no Noroeste do Paraná, sendo que pelo menos 200 sericicultores abandonaram a atividade por terem perdido toda a produção.

 

Nacional

Na última safra, a produção de casulos de bicho-da-seda para a indústria de fiação brasileira gerou mais de R$ 53 milhões de receita para os pequenos produtores rurais em todo o Brasil. “A inovação em tecnologia e a demanda do mercado podem melhorar essa perspectiva para a próxima safra”, afirmou a presidente da Abraseda.

 

A expectativa é de crescimento para o setor. De acordo com a Secretaria de Desenvolvimento da Indústria, Comércio, Serviços e Inovação do Ministério da Economia, em 2021 já são mais de 18 novos microempreendedores gerando riqueza a partir do uso da seda como principal matéria-prima.

O Brasil é o sexto maior produtor de fios de seda do mundo, atrás de China, Índia, Uzbequistão, Tailândia e Vietnã, com uma produção anual de aproximadamente 400 toneladas, e exporta 97% desse total.

 

Recuperação

O presidente da Bratac, Shigeru Tanigushi Junior, explica que a pandemia impactou negativamente o setor, mas a atividade já caminha para um cenário de recuperação. “O uso ou compra do produto final de seda é muito sensível ao turismo e aos eventos, o que praticamente não ocorreu em 2020. Com isso, o mercado de seda sofreu uma redução muito significativa”, declarou.

 

No entanto, com os estoques globais reduzindo muito, no final de 2020 já foi sentida uma procura, ainda tímida, pelos fios de seda brasileiros. “Atualmente, nosso maior desafio é aumentar a produção o quanto antes para atender às necessidades de todos os nossos clientes, além de captar novos clientes.”

A Bratac produziu, em 2020, 281 toneladas de fio de seda, volume quase 40% menor que no ano anterior. A previsão, no entanto, é fechar este ano com a produção de 373 toneladas, volume quase 33% maior que no ano passado, quando foi deflagrada a pandemia. No ano passado, o faturamento atingiu R$ 112,7 milhões.

Do total das vendas, 97% tiveram como destino o mercado externo e apenas 3% para o mercado interno. “Em 2021, temos expectativa de crescimento da participação no mercado interno”, diz o presidente da Bratac. 

A fiação exporta hoje para seis países, sendo Vietnã, Japão e França os três maiores compradores do fio de seda. No mercado interno, os três Estados que consomem o fio de seda brasileiro são Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná.

 

Processo produtivo

Diferentemente do que ocorre em outros países produtores de fio de seda, a Bratac detém o controle de todo o seu processo produtivo, para assegurar a qualidade e a rastreabilidade de seus produtos.

Hoje, 100% da produção dos ovos do bicho-da-seda é feita pela Bratac. Após a eclosão, vêm as larvas, tratadas pela fiação nas duas primeiras idades (ao todo são 5 idades) e posteriormente são distribuídas aos sericicultores. Esses, por sua vez, criam o bicho-da-seda que formam os casulos, que então são vendidos para a Bratac, sendo a principal e mais valiosa matéria-prima para a fiação de seda.

“Mesmo em épocas que produzimos ou vendemos poucos fios, o compromisso da Bratac sempre foi de adquirir 100% da produção de casulo. Em 2020, mesmo com o alto estoque de casulos, continuamos comprando normalmente todos os casulos produzidos”, destaca Junior.

 

Congresso

Com o objetivo de sensibilizar os produtores rurais quanto à importância da aplicação correta dos agrotóxicos e fortalecer o ecossistema da seda no Brasil, a Abraseda, em parceria com a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado do Paraná, realizará o 1º Congresso Internacional da Abraseda, juntamente com o 37º Encontro Estadual de Sericicultura do Paraná. 

 

O evento terá exibição online no dia 22 de julho, com estimativa de público de 4.000 pessoas entre estilistas, empresários, profissionais técnicos, produtores rurais e pesquisadores nacionais e internacionais do segmento da seda. Mais informações: (43) 3377-6025, ou pelo WhatsApp (43) 99116-8911.

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