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Folha Rural 5m de leitura

As 10 bandeiras do agronegócio

ATUALIZAÇÃO
31 de dezembro de 1969


AUTOR

As 10 bandeiras do agronegócio
Ulisses de Souza
Para pôr em prática as propostas do Fórum Nacional de Agricultura, o presidente Fernando Henrique Cardoso criou, dia 2 de setembro, o Conselho Nacional do Agronegócio (Consagro). O objetivo é implantar as propostas e recomendações contidas no Documento-Síntese do Fórum Nacional da Agricultura (FNA), órgão criado há dois anos com o objetivo de dar condições para garantir a inserção competitiva da agricultura brasileira no mercado internacional e o atendimento da crescente demanda do mercado interno.
A principal meta de trabalho do Consagro será ‘‘aumentar a competividade dos produtos do agronegócio brasileiro, propiciando o crescimento de suas receitas de exportação, de US$18 bilhões para US$45 bilhões, gerando 10 milhões de postos de trabalho até o ano 2002’’, como é estabelecido no Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade.
O FNA foi criado em setembro de 1996, por determinação do Presidente da República, e sua principal missão é promover, por meio da mobilização ‘‘permanente, ampla e democrática dos agentes representativos da sociedade’’, a melhor compreensão da importância estratégica que a cadeia de alimentos, fibras e energéticos representa para o País, de modo que o setor agrícola desenvolva todo o seu potencial produtivo. Os trabalhos que resultaram no documento-síntese foram uma experiência inédita de gestão compartilhada entre órgãos públicos e privados, que resultaram na conciliação dos vários interesses que envolvem o setor.
O documento-síntese centra-se no agronegócio porque, apesar de sua contribuição histórica para o desenvolvimento brasileiro, o setor ainda enfrenta desafios a serem vencidos até a virada do milênio para conseguir inserir-se competitivamente nos mercados mundiais.
Para se ter uma noção da importância do setor, estima-se que, em 1997, o Produto Interno Bruto (PIB) da agricultura brasileira atingiu US$81 bilhões, enquanto o agronegócio alcançou cerca de US$321 bilhões, o que representa 40% do PIB nacional.
As oportunidades de crescimento que o agronegócio brasileiro apresenta são promissoras. Estudos realizados em nível mundial indicam a possibilidade de escassez de produtos agrícolas no início do próximo século, em função de três razões: 1) o crescimento da população mundial; 2) o aumento da renda mundial; 3) a redução gradual dos subsídios agrícolas, facilitando o fluxo internacional de produtos agrícolas. Estima-se que a produção mundial de alimentos terá que aumentar três vezes nos próximos 40 anos, para suprir a essa demanda por parte de nove bilhões de pessoas.
Para que essas oportunidades sejam aproveitadas, o documento-síntese aponta para a necessidade do governo e os empresários do setor trabalharem em conjunto, criando instrumentos para garantir as seguintes condições: suporte para a renda agrícola; produção com escala; especialização e diferenciação de produtos; elevação e estabilização da renda, via tecnologia; e agregação de valor aos produtos agrícolas.
Para garantir as condições de competição do agronegócio brasileiro em relação aos competidores internacionais, tanto do ponto de vista das exportações quanto das importações, é sugerida a adoção das seguintes medidas por parte do governo: manter a disponibilidade de recursos financeiros a taxas de juros internacionais; oferecer tratamento similar aos produtos nacionais frente aos importados; manter mecanismos de garantia de renda agrícola, para contornar crises na produção e na comercialização; eliminação do excesso tributário ao comércio externo; fortalecimento das ações de defesa agropecuária e proteção do consumidor; redução do chamado Custo-Brasil, incluindo-se o entorno legal; e gerar e difundir tecnologias de alta qualidade, em tempo cada vez menor.
Da ótica do emprego, as medidas recomendadas, de forma a que sejam criados os 10 milhões de empregos propostos, são as seguintes: revisar a legislação trabalhista rural, visando a sua modernização e adequação à nova realidade do País, melhorando as relações laboral-patronal, propiciando assim a elevação do nível de emprego; restruturação dos serviços estaduais de assistência técnica e extensão rural, com a participação do governo Federal e da iniciativa privada, para apoiar prioritariamente os pequenos produtores; ampliar a oferta de ações de formação e capacitação rural, via programas de alfabetização de adultos, programas diferenciados de escolarização, programas profissionalizantes, dando ênfase ao gerenciamento da propriedade; adequar a formação técnica das Universidades à demanda do agronegócio e dar ênfase à formação de gerentes e empreendedores; implementar um programa de profissionalização de pequenos produtores, com execução descentralizada e articulação e cooperação com o Poder Público, com organizações do setor e entidades voltadas à capacitação do setor (Senar,Sebrae,etc.).
Do ponto de vista da inserção competitiva do agronegócio brasileiro, são recomendadas as seguintes ações: desenvolvimento de Bolsas de Futuros, via desoneração do investidor estrangeiro; adoção de juízo arbitral na execução de contratos; formação de negociadores (traders) multidisciplinares e especializados; criação da marca ‘‘Brasil’’, e mudança do modelo de exportação FOB para CIF; novo modelo de informações estatísticas sobre mercados agrícolas e do agronegócio; criação de adidos do agronegócio nas Embaixadas, e representantes nos foros internacionais de produção, comércio e transferência de tecnologia; redução ou remoção de barreiras ao livre comércio junto a organismos internacionais e governos estrangeiros; fiscalização das importações agrícolas e agroindustriais, com a participação efetiva do Ministério da Agricultura na instrução de processos de investigação de dumping e subsídios na origem; isentar do ICMS as transações de insumos, máquinas, equipamentos e implementos agrícolas; desonerar e simplificar a tributação sobre máquinas, equipamentos e implementos agrícolas, inclusive nas importações; promover e articular o Brasil como país de oportunidades e de liderança no agronegócio mundial, por meio de mecanismo para a atração de novos negócios, investimentos, tecnologia e capital de risco.
O autor é jornalista em Presidente Prudente (SP).

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