Embora enfrente como principais desafios os altos custos de produção puxados pela energia elétrica e pelo dólar valorizado, o agronegócio paranaense projeta um 2022 positivo, com ampliação de mercados e a manutenção na valorização dos produtos. A análise foi feita por especialistas do setor.

Luiz Eliezer Ferreira, técnico do DTE (Departamento Técnico e Econômico) do Sistema Faep/Senar-PR, projeta que a ampliação de mercados na pecuária será um dos pontos positivos para o agro paranaense no ano que vem.

O Estado foi reconhecido, em maio deste ano, como área livre da febre aftosa sem vacinação, pela Organização Mundial de Saúde Animal. Em agosto de 2020, o Paraná já havia obtido reconhecimento nacional do Ministério da Agricultura e Pecuária.

Expectativa é que oferta de milho pelo Paraná seja maior em 2022, por conta das condições climáticas
Expectativa é que oferta de milho pelo Paraná seja maior em 2022, por conta das condições climáticas | Foto: Gilson Abreu/AEN

“Esse reconhecimento trouxe uma segurança sanitária importante para promover a abertura de novos mercados. Os abates devem ser ampliados para atender tanto o mercado interno quanto o mercado externo”, destacou o técnico do Sistema Faep/Senar.

Ferreira acrescenta que esse novo status deverá gerar impacto positivo principalmente na importação de carne bovina por países como Japão, Estados Unidos e nações europeias. O Paraná, por sua vez, é o maior produtor e exportador de proteína animal do País.

O Estado também deverá comemorar no ano que vem produções recordes de soja e de milho. Projeções iniciais apontam que mais de 20 milhões de toneladas de soja e mais de 17 milhões de toneladas de milho devem ser produzidos na safra 2021/2022.

NAS ALTURAS

O técnico do Sistema Faep/Senar projeta que os preços dos grãos devem seguir nas alturas no ano que vem. Em 2021, o produtor paranaense recebeu, em média, R$ 154 pela saca de 60 kg de soja, uma alta de 20% em relação a 2020.

O alto custo de produção está muito influenciado pelo preço dos fertilizantes, elevadíssimo por conta do dólar
O alto custo de produção está muito influenciado pelo preço dos fertilizantes, elevadíssimo por conta do dólar | Foto: iStock

“Para 2022, os preços vão se manter altos, mesmo com a produção maior”, projetou. Entre as variáveis que compõem o preço estão a oferta e demanda, o clima e a cotação do dólar.

Apesar da valorização dos grãos no mercado, o produtor deve seguir penando com o alto custo de produção em 2022. Hoje, mais de 70% dos fertilizantes usados no Paraná são importados, principalmente da China, Rússia e Belarus.

Belarus, responsável por ¼ da produção mundial do cloreto de potássio, está sob sanções comerciais e não consegue exportar, ampliando ainda mais a escassez do fertilizante.

DISPARO

O produtor paranaense viu o preço do fertilizante disparar do ano passado para 2021. Enquanto em setembro de 2020 ele desembolsava R$ 500 por hectare em adubos, em setembro de 2021 esse custo dobrou para R$ 1 mil. “A tendência é que os preços sigam no mesmo patamar elevado em 2022”, afirmou Ferreira.

Os custos com energia elétrica também devem seguir elevados para o agricultor paranaense em 2022. “Hoje o custo com energia representa 20% do custo total de produção. Os produtores estão cada vez mais optando por fontes renováveis, como a energia solar, por exemplo, e essa tendência só tende a aumentar no ano que vem”, pontua.

Principalmente por conta dos altos custos, os produtores paranaenses tiveram que frear a comercialização antecipada da soja. “Na safra anterior, o produtor comercializou 30% da soja antecipadamente. Na safra 2021/2022, esse índice baixou para 10%, já que o produtor decidiu esperar um pouco”, comparou.

POSITIVO

Flávio Turra, gerente de Desenvolvimento Técnico da Ocepar, considera que 2022 será um ano positivo para a agropecuária paranaense.

“Estamos otimistas. O mercado internacional será uma das principais alavancas da sustentação do crescimento do agronegócio no próximo ano. O câmbio deve permanecer num nível ainda alto”, pontuou.

Ele entende que uma das alavancas para ampliar a fatia do mercado externo em 2022 será a exportação de milho.

“Em 2021 tivemos escassez de oferta, já que 9 milhões de toneladas foram perdidos principalmente pela seca e pela geada. Mas no ano que vem deveremos ter uma oferta maior de milho, tanto para ajudar a pecuária local quanto para o excedente ser exportado”, explicou.

O secretário calcula que a crise climática em 2021 representou uma perda bilionária para o agronegócio
O secretário calcula que a crise climática em 2021 representou uma perda bilionária para o agronegócio | Foto: Anderson Coelho /28-05-2014

Por enquanto, Turra considera que o clima tem ajudado a safra, de maneira que as perdas não devem se repetir.

O alto custo de produção está muito influenciado pelo preço dos fertilizantes, elevadíssimo por conta do dólar valorizado frente ao real e da dificuldade enfrentada por alguns países produtores no exterior, como a China, pressionada a se adequar para reduzir a poluição – com isso, o país oriental produzirá menos.

“O Brasil importa praticamente 95% do cloreto de potássio, 75% do nitrogênio e 65% do fósforo, matérias-primas do fertilizante NPK”, pontuou.

Em novembro deste ano, o preço dos principais fertilizantes utilizados pelos agricultores mais que dobrou de preço em comparação ao mesmo mês do ano passado. “Os produtores vão utilizar menos fertilizantes no ano que vem. Não creio, porém, que isso deva impactar na quebra de produtividade”, destacou.

Apesar desse cenário, Turra não crê que faltem fertilizantes no mercado paranaense. “O Paraná é privilegiado porque a maior parte dos fertilizantes importados vem pelo Porto de Paranaguá. Nesse sentido, deve haver menos impacto pela proximidade do porto com as propriedades, a logística é mais simples”, crê.

Outra preocupação para 2022 será com relação ao crédito agrícola. “O crédito rural está escasseando. Existe uma preocupação por causa das contas públicas que estão fragilizadas, o crédito não vai ser para todos. A prioridade serão pequenos e médios produtores e para investimentos”, concluiu.

PROTEÍNA ANIMAL

O secretário estadual da Agricultura e do Abastecimento, Norberto Ortigara, considera que em 2022 haverá um grande esforço do Paraná para fincar suas bandeiras no mercado mundial de proteína animal, fruto da conquista, em 27 de maio de 2021, do selo de área livre da aftosa.

“Esse processo continua. Estamos negociando protocolos com países compradores, preenchendo os questionários para que o Paraná possa ingressar em mercados aos quais antes ele não tinha acesso”, destacou.

Outra boa expectativa é em relação ao turismo rural. “Desde setembro de 2021 estamos retomando com cuidado o turismo rural, uma fonte boa de receita para os agricultores, seja na forma de cicloturismo, caminhada na natureza, espaços onde o agricultor recebe gente da cidade e ali pode fazer um pequeno comércio, ter um pequeno restaurante. Já retomamos e vamos continuar em 2022”, pontuou.

O secretário acrescenta que em 2022 deverá haver continuidade no processo de grandes investimentos agroindustriais de qualquer porte no Paraná. “Seja por meio de uma pequena cooperativa fazendo a sua agroindústria, ou uma grande indústria instalando novo frigorífico, uma nova indústria de processamento para agregar valor à nossa produção”, exemplificou.

PERDAS

O secretário calcula que a crise climática em 2021 – além da crise hídrica, houve ao menos três geadas severas no Paraná – representou uma perda bilionária para o agronegócio. “Perdemos milho, aveia, trigo, cevada, cana, laranja, hortifrúti, um conjunto grande de perdas que supera R$ 15 bilhões no Paraná”, calculou. Segundo ele, não será surpresa se novas perdas vierem em 2022.

“O nosso esforço é de expandir a produção de cereais de inverno no Paraná, especialmente no Centro-Sul. E também estamos na perspectiva de uma nova maltaria, que ampliará a produção de cevada cervejeira.”

Em que pese o quadro ruim climático, o secretário se declara otimista com a perspectiva de crescimento da economia paranaense em 2022 a partir da sua principal vocação, o agronegócio.

“É por isso que a gente faz esse esforço dosando as políticas públicas, incentivando o setor privado a investir e apoiando ele nas suas necessidades, já que é fonte de geração de muitas oportunidades e emprego para os paranaenses”, conclui.

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