No início da década de 1970, a Região Norte do Paraná era uma das mais pródigas do Brasil graças à pujança da cultura cafeeira, a grande geradora de empregos e riquezas para o Estado. No rastro do rápido avanço econômico, a sociedade londrinense percebeu que era preciso capacitar seus cidadãos para que o município tivesse mão de obra de nível superior. Foi dessa necessidade que surgiu a UEL (Universidade Estadual de Londrina), formada a partir da junção de outras cinco faculdades isoladas em atividade na época. As obras foram erguidas em uma área na zona oeste doada por pioneiros da região, então conhecida como perobal em razão da grande quantidade de exemplares da árvore que se tornou um dos símbolos do período da colonização da cidade.

Desde o início, a universidade atraiu para o município mentes inovadoras que tinham em comum a incessante busca pelo conhecimento
Desde o início, a universidade atraiu para o município mentes inovadoras que tinham em comum a incessante busca pelo conhecimento | Foto: Roberto Custódio

Oficialmente, a UEL foi criada pelo decreto estadual 18.110, de 28 de janeiro de 1970, mas o reconhecimento veio quase dois anos depois, em 6 de outubro de 1971. Em 2021, a universidade que se tornou uma das mais reconhecidas instituições de ensino superior do País, completa 50 anos de existência.

A celebração do Jubileu de Ouro está nas páginas da edição especial do Notícia, periódico produzido pela universidade. Pela primeira vez, o jornal da UEL, que nesta edição aborda a história da instituição de ensino, será encartado na Folha de Londrina. Já o material produzido pela equipe da FOLHA é focado no presente e nas perspectivas de futuro da UEL.

Em meio século de funcionamento, a história da UEL se mescla ao processo de desenvolvimento de Londrina. Desde o início, a universidade atraiu para o município mentes inovadoras que tinham em comum a incessante busca pelo conhecimento e que foram responsáveis pela construção da cidade que se conhece hoje, fruto de profissionais dedicados não somente ao ensino, mas à ciência, à pesquisa e à extensão.

“Foi um processo que outras universidades não têm. A UEL já nasceu buscando ter órgãos ou institutos ou formas de atuação social. O HU (Hospital Universitário) é nosso exemplo. O Escritório de Aplicação de Assuntos Jurídicos é outro exemplo, assim como a Casa de Cultura. Nenhuma universidade do Paraná tem essa característica”, avalia o reitor Sérgio Carlos de Carvalho.

Se na década de 1970 a UEL esteve dedicada em firmar-se como uma instituição focada na produção de conhecimento, na década seguinte veio o processo de consolidação, fortalecimento fundamental para superar uma grande crise nos anos 1990, quando a universidade buscou mudanças institucionais, embora ainda estivesse bastante voltada à graduação.

A UEL ingressou no século 21 empenhada em criar cursos de mestrado e doutorado por enxergar neles uma via para a potencialização da capacidade de pesquisa da instituição. “Hoje, nós temos tantos programas de pós-graduação stricto senso quanto cursos de graduação. Você tem um equilíbrio nesse processo, uma universidade consolidada, com toda a estrutura de produção de ciência colocada, uma universidade que se destaca e é pontuada internacionalmente pela interação social que possui”, destaca Carvalho.

“A UEL já nasceu buscando ter órgãos ou institutos ou formas de atuação social”, destaca o reitor Sérgio Carvalho
“A UEL já nasceu buscando ter órgãos ou institutos ou formas de atuação social”, destaca o reitor Sérgio Carvalho | Foto: Gilberto Abelha/COMUEL

Alçada à condição de “jovem senhora”, a UEL se volta agora à ampliação dos projetos de interação social. O mais recente passo institucional nessa direção foi a aprovação, em setembro deste ano, da Política de Inovação de Ciência e Tecnologia pelo Conselho Universitário. É a primeira universidade estadual do Paraná a contar com uma política de inovação dentro do Marco Legal de Ciência e Tecnologia do Estado, ressaltou o reitor. A iniciativa, frisa Carvalho, representa um importante avanço no sentido de oferecer respostas às demandas de alguns setores específicos da sociedade por meio da transformação da produção de conhecimento em processos, produtos, serviços e políticas públicas.

Manter a UEL forte e ativa nos próximos 50 anos, afirma o reitor, é um trabalho que deverá ser feito a partir da troca geracional no comando da instituição. “A universidade tem autonomia e autogestão. Então, a universidade tem que gerir a si própria a partir da cabeça nova que chega à instituição. É necessário ter essa troca geracional porque são pessoas que vão adquirir expertise pelos próximos dez, 20 anos.”

Além da renovação dos membros dos conselhos superiores da universidade, outro grande desafio institucional apontado por Carvalho é pensar a missão da universidade pelas próximas décadas. “Acho que a missão da universidade pelos próximos dez anos é trabalhar com a recuperação da crise que nós vivemos agora na Covid-19. As sequelas sociais, econômicas e políticas serão imensas. Nós ainda não temos a dimensão disso.”

“E temos que trabalhar brutalmente para reduzir as desigualdades sociais. A universidade tem que pensar de onde provêm as desigualdades, quais são os instrumentos factíveis para diminuir essas desigualdades. Pensar no desenvolvimento de produtos e de conhecimento que podem gerar novas políticas públicas, gerar novos produtos, gerar novas formas de uso de novos produtos, gerar uma forma de nós interagirmos com o nosso ambiente físico e natural de maneira que essa convivência possa ser mais harmônica.”

"A UEL é o maior patrimônio da cidade de Londrina. É uma das grandes responsáveis por Londrina ser a metrópole que é hoje e uma das melhores cidades do Brasil pra se viver, com muita qualidade de vida para sua população. Particularmente, eu tenho muita gratidão. Fiz dois cursos superiores na UEL, Medicina e Direito. Tudo que sou na minha vida eu agradeço a Deus, à minha família, à cidade de Londrina e também à UEL. Que venham mais muitos e muitos 50 anos pela frente. Obrigado UEL, em nome de Londrina, nosso muito obrigado!"

Marcelo Belinati, prefeito de Londrina

Deficit de recursos humanos limita expansão da universidade

O caminho trilhado na construção da UEL até aqui nem sempre foi fácil. Além da escassez de recursos humanos e financeiros, dificuldades que em maior ou menor grau sempre fizeram parte do cotidiano da universidade, os tempos atuais trazem um desafio a mais, que é combater a falta de apoio à ciência. “Nós vivemos um momento nacional e esse momento começou em 2011, 2012, com a diminuição dos recursos públicos. Um dos primeiros setores atingidos foi o da área de pesquisa. Foi pujante, do final dos anos 1990 até os anos 2000, a colocação de recursos, de investimento público nacional, que é o grande aportador de recursos para a pesquisa. E agora, nacionalmente, não existe uma ação”, lamenta o reitor Sérgio Carlos de Carvalho.

Ainda assim, Carvalho cita iniciativas recentes importantes para a manutenção dos projetos de pesquisa e extensão nas universidades, que devem contribuir para o desenvolvimento e reforço da interação do meio acadêmico com a sociedade. Uma delas é a Resolução nº 7 do MEC (Ministério da Educação), de 18 de dezembro de 2018, de creditação da extensão. A resolução regulamenta a estratégia prevista no PNE (Plano Nacional de Educação) que, entre outras coisas, estabelece que as atividades de extensão devem compor, no mínimo, 10% do total da carga horária curricular estudantil dos cursos de graduação. A UEL aprovou sua política de extensão e a medida será implementada.

O Novo Marco Legal de Ciência, Tecnologia e Inovação, criado a partir de uma demanda da comunidade científica brasileira, das universidades e dos setores empresariais para facilitar procedimentos e parcerias para a atividade de pesquisa, também é apontado como um passo relevante na desburocratização do processo. Embora especialistas avaliem que a legislação, de 2016, ainda não teve seu principal objetivo atingido, Carvalho afirma que dentro da UEL ocorre a implementação da lei a partir de uma política de Estado.

"Infelizmente, hoje, nacionalmente nós não temos a implementação efetiva desse novo marco. Falo nacionalmente porque o governo federal é o grande carreador de recursos públicos. Mas no Estado nós temos essa implementação.”

Contornar a escassez de recursos e de outras formas de incentivo, afirma o reitor, requer uma postura da universidade que desafie as limitações impostas pelos governantes. “Nós nos criamos enquanto instituição, somos fruto de uma necessidade e de uma vontade social. A necessidade social não deixou de existir. A necessidade de você ter uma instituição que faz ciência e tecnologia e inovação e interage virtuosamente com a comunidade, ela existe ainda e a universidade deve resistir para continuar existindo e só tem um jeito de resistir, que é mostrar-se e interagir-se cada vez mais. Ela tem que ampliar essa sua capacidade, com todas as dificuldades.”

Uma das principais limitações para o crescimento da UEL, hoje, é o deficit de pessoal. O reitor considera “urgente” a criação de uma política de reposição do quadro de funcionários, docentes e técnicos de nível superior da instituição para garantir a perenidade das pesquisas e o sucesso da política de inovação dentro da universidade. Sem concurso público desde 2015, a universidade aguarda a reposição de 400 professores com doutorado, lacuna preenchida hoje com as contratações temporárias. A UEL também negocia com o governo do Estado a reposição de cerca de 400 técnicos administrativos. “Nós estamos preparando a solicitação para as contratações. Claro que fazer um concurso para 400 pessoas não é muito racional”, reconhece o reitor. “Mas nós esperamos e precisamos, assim que tiver a mitigação da crise, de uma recomposição desse quadro.”

Impasse do Meta-4 não chegou ao fim

Entre os anos de 2017 e 2018 a UEL viveu um impasse em relação à gestão de pessoal e financeira. De um lado, a pressão do governo do Paraná para que as instituições estaduais de ensino superior aderissem ao sistema informatizado Meta-4 e, de outro, o argumento de que a adesão ao programa da Sefa (Secretaria Estadual da Fazenda) imporia um fim à autonomia orçamentária da universidade.

O caso foi parar no TC-PR (Tribunal de Contas do Paraná), que ordenou que a universidade de Londrina e outras quatro instituições de ensino superior paranaenses adotassem o sistema Meta-4, mas diante da resistência do Conselho Universitário da UEL em acatar a determinação, o governo do Estado promoveu o bloqueio de recursos e mais de R$ 6 milhões deixaram de ser repassados.

"Em cinco décadas, a Universidade Estadual de Londrina conseguiu se consolidar como uma das mais sólidas e importantes instituições de ensino brasileiras. Seus méritos são reconhecidos nacional e internacionalmente, e isso nos enche de orgulho. Garantir uma educação de qualidade é um dos principais pilares da nossa gestão, e ver a UEL alcançando tantos reconhecimentos demonstra que estamos no caminho certo. A instituição obteve nota 4 (de um total de 5), no mais recente Índice Geral de Cursos, do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira,, do Ministério da Educação. A instituição foi classificada em 4º lugar entre todas as instituições estaduais brasileiras, ocupando o 1º lugar entre as sete universidades estaduais do Paraná. Alcançou, ainda, a 21ª posição entre as instituições públicas brasileiras e a 64ª colocação na classificação nacional geral. Neste jubileu de ouro da UEL, quero parabenizar toda a comunidade acadêmica, em especial os pesquisadores, professores, estudantes e agentes universitários, que contribuem para que a instituição conquiste e mantenha estes bons índices. Parabéns, UEL!"

Ratinho Junior, governador do Paraná

Uma sentença judicial obriga as universidades a ingressarem no Meta-4, mas a mesma sentença diz que o sistema informatizado utilizado pela Sefa não pode impor uma interpretação de ilegalidade sobre algum vencimento institucional. “Até agora, nós estamos seguindo a condenação judicial e o Estado está preparando, tecnicamente, como será essa entrada no Meta-4. Não tem prazo. Tem um calendário e a gente vai ajustando”, disse o reitor Sérgio Carlos de Carvalho.

Os recursos bloqueados, segundo Carvalho, foram restabelecidos, mas com a pandemia, os cortes foram brutais. Foram promovidos cortes lineares em todos os setores. No entanto, as suplementações estão ocorrendo e, ao final de 2021, a UEL será suplementada em quase tudo o que deixou de ser repassado. “Agora, há uma necessidade de ampliar os recursos de custeio para a universidade, principalmente ampliar os recursos de custeio que lhe deem autonomia para fazer os gastos. Isso é algo imprescindível quando você fala de pesquisa. Essa autonomia financeira que as universidades reivindicam é necessária e isso, elas não têm. O Estado precisa criar um marco de autonomia financeira”, aponta o reitor.

Pandemia provocou engajamento da comunidade científica

Em 50 anos de existência da UEL, a chegada da pandemia do novo coronavírus foi, sem dúvida, um dos momentos mais desafiadores para a comunidade universitária. As medidas de isolamento e distanciamento social e a demora em vacinar a população jovem ainda mantêm suspensas as aulas, acarretando um “prejuízo geracional” aos estudantes, avalia o reitor Sérgio Carlos de Carvalho.

A crise sanitária, no entanto, provocou o engajamento da comunidade científica com o propósito de ajudar a comunidade a solucionar problemas surgidos na esteira da pandemia. “Foi um momento importantíssimo porque a UEL se redescobriu, descobriu seu propósito existencial porque ela surgiu a partir de uma necessidade social”, analisa o reitor.

A marca de quase 600 mil brasileiros mortos, frisou Carvalho, não será apagada, mas não há tempo de vivenciar o luto diante da gravidade das sequelas sociais causadas por uma tragédia dessa proporção, reflete o reitor. “A única forma de homenagear quem morreu é a gente se engajar no processo de recuperação.”

A sociedade nunca precisou tanto de intervenção e dessa necessidade surgiram iniciativas espontâneas de dentro da universidade. O HU (Hospital Universitário) teve um papel de extrema relevância no acolhimento e assistência aos infectados, mas Carvalho destaca trabalhos concebidos a toque de caixa a partir de conhecimento produzido no ambiente acadêmico. Como exemplos, ele cita um projeto que consistiu em utilizar material descartado no HU na fabricação de máscaras e a linha de produção de protetores faciais montada no CCS (Centro de Ciências da Saúde) por alunos de fisioterapia. “Foi um momento, para mim, muito enriquecedor. Eu senti que a universidade estava viva. Claro que estamos desgastados, exauridos e cansados, como toda a sociedade brasileira, mas foi um momento em que vimos que aqui tem chama. Nós demos respostas à sociedade. Eu poderia dizer que foi só a UEL, mas todas as universidades públicas brasileiras se mobilizaram”, elogia o reitor.

Carvalho destaca que além das pesquisas, teses e dissertações também não foram suspensas com a pandemia e observou até um aumento da produção desse material no período, assim como os laboratórios, que não cessaram seu trabalho. Mas a crise sanitária ainda traz incertezas sobre um possível retorno dos estudantes ao campus. As aulas presenciais estão suspensas desde o final de março de 2020 e a retomada das atividades dependerá de inúmeras variantes, como os indicadores de saúde e a evolução do calendário de imunização.

A expectativa é de que até o final de 2021 toda a comunidade interna esteja vacinada e alunos e professores possam voltar às salas de aula no início do ano que vem, mas o que irá ditar o ritmo do fluxo das atividades internas serão as oscilações do quadro sanitário. “Temos que monitorar. É um processo de desmobilização de uma guerra. Para você trazer essa massa de jovens para cá, tem que ter a segurança de que, de fato, eles vão poder ficar no campus.”

Durante os 18 meses de pandemia, a universidade teve de se adequar às demandas do novo momento e assim como as instituições de ensino básico, a UEL aderiu ao modelo de aulas on-line. A adaptação trouxe vantagens, como a percepção dos inúmeros benefícios oferecidos pela tecnologia no processo de aprendizagem, mas Carvalho faz questão de salientar que a UEL não é uma universidade EAD (Ensino a Distância). “O ensino a distância na UEL existirá como existia antes. E o ensino presencial existirá como existia antes. Isso é tranquilo. A universidade, como formadora de uma elite técnica intelectual, tem que ser presencial. No entanto, o uso da tecnologia vai ser aproveitado, e muito. Perdemos o preconceito com a tecnologia e a utilização da tecnologia vai ser importante.”

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