[box]

Imagem ilustrativa da imagem Especial 50 anos de UEL

[/box]

50 anos de inovação, prestação de serviços e formação profissional

Ao completar 50 anos de seu reconhecimento, em 7 de outubro, a Universidade Estadual de Londrina se consolida como espaço de formação profissional qualificada, polo de pesquisas de ponta e de inovações tecnológicas, e prestadora de serviços sem os quais a região não poderia ter se desenvolvido como foi. Permanentemente ranqueada entre as melhores universidades do país, sobretudo pela sustentabilidade e produção científica, a UEL celebra sua História - que se confunde com a História de Londrina - com os olhos e os passos em direção ao futuro. Quem conheceu o Campus, em seus primeiros anos, por exemplo, hoje percebe a transformação de uma instituição que se tornou gigante e é conhecida internacionalmente.

Imagem ilustrativa da imagem Especial 50 anos de UEL

Para produzir em solo fértil

Mostramos fragmentos da história da UEL, que ampliou a profundidade de suas raízes nas terras do norte do Paraná

Por: Sergio Henrique Gerelus

Gotas de suor das faces de homens e mulheres nos últimos 50 anos encontraram o fértil solo londrinense para fazer germinar e produzir uma das mais importantes instituições de ensino superior do Brasil. A Universidade Estadual de Londrina comemora, no dia 07 de outubro de 2021, seu Jubileu de reconhecimento em um momento histórico marcado pelo desafio primordial de manter a vida, de restaurar a saúde da população e de projetar o desenvolvimento econômico, político, social, cultural e artístico brasileiro no pós-pandemia.

O Jornal Notícia especial 50 anos, distribuído em parceria com a Folha de Londrina apresenta fragmentos da história gloriosa da nossa UEL, que ampliou, ano após ano, a profundidade de suas raízes nas terras interioranas do norte do Paraná. A leitura dos retratos produzidos pela equipe de jornalismo da Coordenadoria de Comunicação da UEL permite ao leitor constatar o esforço coletivo contínuo para que as ideias fossem materializadas, e a nítida potência transformadora que a presença da universidade gerou na região.

Fica explícito que os doces frutos colhidos no solo fértil, expressos nos milhares de profissionais formados, nos excelentes serviços garantidos à população e nos produtos científicos e de inovação vieram sempre acompanhados das dores provocadas pelos calos nas mãos ou nas cordas vocais. Os textos sinalizam, sobretudo, que os próximos 50 anos não serão construídos sem que a terra seja regada cotidianamente.

Na capa desta edição, também está apresentado o selo dos 50 Anos, vencedor de um concurso realizado pela Gráfica da UEL, e construído pela egressa designer Camila Santos, o qual será estampado nos materiais da universidade nos próximos meses. O selo procura apresentar a renovação de conceitos e valores da instituição em âmbito nacional e fortalecer símbolos como o da Peroba Rosa, inserida na produção na forma de ícones.

As comemorações dos 50 anos da instituição devem se estender até junho de 2022, com atividades diversas direcionadas aos diferentes públicos. O que se almeja é que a Universidade fortaleça os vínculos com a população paranaense e se revigore como instrumento público produtor e disseminador de conhecimento científico, sem o qual a fertilidade do solo londrinense ficaria comprometida.

Boa leitura!

Sergio Henrique Gerelus

Coordenador de Comunicação

Imagem ilustrativa da imagem Especial 50 anos de UEL

UEL, presente de Londrina e do Paraná para a Humanidade

  • . 50 anos de história, missão e compromisso com o Paraná
  • . Indissocialidade entre Ensino, Pesquisa e Extensão

. Meta é fortalecer inclusão, inovação e desenvolvimento social

Por: Sérgio Carvalho

A UEL nasceu do esforço criativo de mulheres e homens no início dos anos 70 e sintetiza uma história de dedicação de muitas pessoas à educação superior em Londrina, nas décadas anteriores à sua criação. Carrega como missão o compromisso com os paranaenses, brasileiros e com a própria humanidade, conectando-se às culturas e dilemas e buscando contribuir com o desenvolvimento e a transformação social, econômica, política e cultural.

Entre suas principais finalidades, está assegurar o fundamento constitucional da indissociabilidade entre o ensino, a pesquisa e a extensão, a liberdade, o respeito e o pluralismo do livre pensar. Formamos profissionais e cidadãos com competência técnica, humanística e forte orientação por valores éticos de liberdade, igualdade e justiça social.

Imagem ilustrativa da imagem Especial 50 anos de UEL

O sonho de seus fundadores era fazer da UEL uma das maiores universidades do país: e somos! Constituímos hoje uma instituição de grande prestígio acadêmico, vinculada à rede paranaense de ensino superior, ciência e tecnologia e isso nos enche de orgulho. A UEL possui tradição de excelência no ensino superior público brasileiro, demonstrada pela boa avaliação nos rankings nacionais e internacionais, tanto na graduação, quanto na pós-graduação e pela qualidade do corpo docente e técnico. Formamos cidadãos para o Brasil e para o mundo. A vocação de Londrina sempre foi estar à frente de seu tempo e ofereceu a UEL como um presente para o futuro de seus jovens.

Imagem ilustrativa da imagem Especial 50 anos de UEL

Reitor conduz reunião Ampliada do Conselho Universitário (CU), instância máxima das decisões da Universidade

O cenário atual em todas as suas dimensões, nos impõe cerrar fileira em torno das instituições que fazem pesquisas, aplicam esse conhecimento para o aprimoramento das sociedades e formam profissionais comprometidos com a qualidade de vida de todos. Cada vez mais, cientistas se unem ao redor do mundo para desbravar as fronteiras do conhecimento e torná-lo acessível ao maior número de pessoas possível. A UEL participa dessas redes de produção de conhecimento e amplia o conceito de sala de aula ao envolver estudantes em seus projetos.

Caminhamos ao longo dessas cinco décadas, fazendo história e deixando marcas. Para os próximos 50 anos, é preciso fazer muito mais: mais inclusão, mais parcerias, mais inovação, mais desenvolvimento social, mais projetos, mais cidadãos comprometidos e mais conhecimento gerado e disseminado. Com toda a cidade, formamos a UEL e temos o maior orgulho disso!

Sérgio Carvalho - reitor da UEL


Uma Universidade que cresceu, evoluiu e abraçou Londrina

. Instituição apresenta potencial imenso para ajudar Londrina, o Paraná e o país
. Arte, informação, assistência jurídica e psicológica incluem o rol de atividades
. Para dar conta da pandemia, HU ampliou em mais de 54% o número de leitos
Por Décio Sabattini Barbosa

No segundo semestre de 1982 um jovem franzino chega à Londrina com os bolsos praticamente vazios, mas com muita determinação para alcançar seus objetivos. Todavia, mal poderia imaginar a trajetória de sua vida 39 anos depois. Paulistano de nascença e londrinense de coração teve o privilégio de se formar na Universidade Estadual de Londrina (UEL), considerada hoje uma das mais importantes instituições de ensino superior do Estado do Paraná e do país, inclusive com o reconhecimento internacional. Em 2021 esta “jovem senhora” chega aos seus 50 anos com fôlego de 18.

Imagino que você, leitor, dificilmente não tenha algum parente ou conhecido formado nesta universidade. Melhor ainda, talvez você mesmo tenha se formado na UEL. Impossível imaginar Londrina hoje sem esta instituição que ajudou muito no crescimento de nossa bela cidade. Com nove Centros de Estudos, oferecendo 53 cursos de graduação e 209 de pós-graduação, possui ainda seis órgãos de apoio e 14 órgãos suplementares. Infelizmente o espaço aqui não me permitirá destacar a importância de cada um, mas é preciso pontuar que arte e cultura, música e informação além de assistência jurídica e psicológica fazem parte do rol de algumas atividades que a UEL oferece à sociedade londrinense.

Entretanto, a situação inusitada e imposta ao mundo pela pandemia do novo Coronavírus me impele a destacar as ações do Hospital Universitário, em particular do Laboratório de Análises Clínicas, da Clínica Odontológica Universitária (COU), Bebê Clínica e do Hospital Veterinário (HV) da UEL. O conceito de Saúde única, união indissociável entre a Saúde animal, humana e ambiental, mais do que nunca teve que ser posto à prova. Embora COU, Bebê Clínica e HV tenham, num primeiro momento, reduzido seus atendimentos ao público em função de que algumas atividades com estudantes tenham sido interrompidas, nunca pararam.

Entre 2020, 119.394 atendimentos da COU foram registrados, na Bebê Clínica, 40.428 procedimentos. No HV, neste mesmo período, 17.002 consultas, 1.626 cirurgias e inúmeras outras atividades. E tudo isso em plena pandemia onde boa parte dos atendimentos aconteceu sem que qualquer estudante, funcionário ou professor estivesse imunizado, pois ainda não havia vacinas.

O HU expandiu seu número de leitos de 294 para 453, um aumento de 54,08%. Só no ano de 2020, contabilizou 85.709 consultas ambulatoriais, 21.481 atendimentos de Pronto-Socorro dentre inúmeras outras atividades. Impossível aqui não me deter em aspectos fundamentais do Laboratório de Análises Clínicas (LAC) do HU (afinal sou Farmacêutico-Bioquímico). No início da pandemia, para um diagnóstico definitivo da COVID-19, no Paraná só o LACEN de Curitiba fazia o teste RT-PCR. Isso era um problema enorme não só para nosso hospital, mas para o sistema de Saúde da cidade como um todo. Enquanto não se tivesse esse diagnóstico, como organizar os leitos? Como não colocar na mesma ala indivíduos com suspeita da doença (ou até mesmo doentes) com aqueles que apresentavam sinais e sintomas parecidos com a COVID-19, mas na verdade eram apenas portadores de uma gripe sazonal comum?

Foi graças a uma parceria entre a Secretaria Municipal de Saúde de Londrina com a UEL e a grande capacidade técnica de nossos professores que conseguimos comprar os insumos necessários e padronizar um teste RT-PCR. Até o momento, o LAC-HU fez 34,41% de todos os testes RT-PCR de Londrina e região. Amostras enviadas ao LACEN demoravam entre cinco a seis dias para obtermos o resultado. Isso, obviamente, pela distância no envio das amostras e a enorme demanda dos 399 municípios paranaenses.

Hoje no HU amostras que entram até às 11h, no final da tarde, já se libera o resultado. Propiciou-se uma revolução em termos de organização hospitalar. O RT-PCR, sem dúvida, é fundamental para o diagnóstico da doença, mas e para o acompanhamento clínico? O exame de gasometria é muito importante para que os profissionais da área da Saúde possam avaliar a evolução dos pacientes. Antes da pandemia, o LAC-HU fazia uma média mensal de 3.771 testes para atingirmos no pico da pandemia 10.898 testes/mês (um aumento de quase 189%).

Sem dúvida números superlativos que não podem, de forma alguma, se sobrepor à abnegação e comprometimento de cada integrante de nossa UEL. Na condição de vice-reitor, hoje enxergo e entendo a universidade de uma maneira muito diferente. Após 33 anos na instituição, posso lhes assegurar que temos um potencial imenso para ajudar nossa cidade, nosso Estado e o Brasil também. Mas para isso é fundamental que nossos governantes parem de nos enxergar como gasto ao invés de investimento. Meu mantra sempre será: educação é a solução. Valorizem a UEL, um dos grandes orgulhos de Londrina. Que este marco de 50 anos possa ser comemorado com muito respeito pelo o que foi construído ao longo do tempo.

Décio Sabbatini Barbosa - vice-reitor da UEL

Infraestrutura adequada para pesquisa, inovação e formação de recursos humanos

Projetos impactam o cidadão pela pesquisa de ponta ou em forma de extensão universitária
Por Pedro Livoratti

Nestes 50 anos a UEL se projetou como Instituição de Ensino Superior e de pesquisa, galgando inclusive fama internacional. A infraestrutura do Campus e das demais unidades distribuídas em Londrina abrigam centenas de projetos acadêmicos que impactam o cidadão pela pesquisa de ponta ou em forma de extensão universitária, ou seja, serviços importantes que melhoram a qualidade de vida. Londrina deve fechar o ano com uma população de mais de 480 mil habitantes (IBGE/2020). Como imaginar a cidade sem a sua maior Universidade. Uma rápida olhada nesta página reflete o grande volume de atividades e seus impactos no cotidiano da cidade.

Como pensar Londrina sem o trabalho dos milhares de professores, agentes universitários e estudantes do Hospital Universitário (HU), Hospital Veterinário (HV), além da Clínica Odontológica (COU), Bebê Clínica e a da Clínica Psicológica. Nos últimos 18 meses, somente o HU ampliou o número de leitos de 294 para 453 (aumento de 54,08%) para dar conta da demanda de pacientes da Covid-19. Neste período foram realizados mais 83 mil exames da doença, por meio de convênio firmado entre a Prefeitura de Londrina e o Hospital, só para citar um dado recente que comprova a importância da Universidade.

[box]

Imagem ilustrativa da imagem Especial 50 anos de UEL

[/box]

Laboratórios multiusuários e integrados representam um potencial de desenvolvimento de novas atividades acadêmicas

Segundo o Pró-reitor de Planejamento, professor Mário Sérgio Mantovani, ao analisar a infraestrutura da UEL é preciso considerar que, além de estar adequada para a missão essencial que é a formação de recursos humanos de qualidade, existe um enorme potencial de desenvolvimento de novas atividades de ensino e pesquisa. Ele lista a rede de Laboratórios Multiusuários (LAMM, LARX, ESPEC, LMEM, LAPA, LABESC, Biotério Experimental) e de Laboratórios Integrados (LAPECH, LADA, LAPEB, LABIO, CEPPOS, LAGRO, IPA, LIPDEH, Saúde Animal, Zootecnia, entre outros) que permitem colaborações e desenvolvimento de projetos nacionais e internacionais.

“Só encontramos estruturas assim em grandes Universidades públicas do país. Isso tem contribuído para o fortalecimento da UEL no cenário nacional, destacando nossa Instituição nos diversos rankings internacionais. Assim, a UEL está preparara não somente na sua estrutura quantitativamente refletida com a área construída que tem, mas principalmente pela qualificação de forma integrada e compartilhada”, afirma o Pró-reitor.

Meu mantrasempre seráEducação éa solução

Ele explica que a rede de laboratórios existente, que contempla as diversas áreas de conhecimento, fortalece o desenvolvimento das atividades de ensino, pesquisa, extensão e inovação e tem sido alvo de investimentos institucionais. Esse potencial se reflete nos conceitos dos cursos de graduação e pós-graduação, nas publicações e disseminações científicas, e no potencial de inovação e serviços que a Universidade oferece.

“O uso compartilhado de equipamentos, principalmente os de grande porte como sequenciadores de ácido nucléicos, espectrômetro de ressonância, cromatógrafos, entre outros, leva a uma maior eficiência no processo de geração do conhecimento e otimiza os recursos com um melhor investimento-benefício”, explica. Com relação à vocação da UEL, o Pró-reitor de Planejamento afirma que todas as áreas do conhecimento apresentam expoentes que projetam o nome da instituição. Porém ele explica que há projetos considerados fortes, com destaque internacional, e contemplam as grandes áreas da Educação, Saúde e Agrárias.

Extensão - sobre as demais estruturas de serviços, Hospitais, atendimentos e Extensão Universitária, ele afirma que o impacto da universidade na vida da população vai desde as atividades de saúde, passando pelo Escritório Jurídico (EAAJ) e projetos de extensão que transformam a vida da comunidade, como os de agricultura familiar, meio ambiente, educação, engenharia, esporte, entre outros.

“Hoje o nosso maior desfio é continuar a integração do potencial transformador e inovador que a universidade tem com a sociedade local, regional, nacional e internacional. A busca pelas parcerias e identificação dos problemas sociais são metas para o futuro de uma universidade que quer ir além da produção de recursos humanos de qualidade, pois quer continuar a ser o elemento transformador e símbolo de desenvolvimento de uma sociedade mais justa e inclusiva”, destaca.

Ensino

• 13.300 – estudantes de graduação

• 53 cursos de graduação

• 3800 – estudantes de pós-graduação

• 209 cursos de pós-graduação

• 1600 professores

• 2500 agentes universitários (incluindo HU)

• 1970 – Projetos de Ensino, pesquisa e Extensão

oRGÃOS DE APOIO E SUPLEMENTARES

• HU expandiu de 294 para 453 leitos - aumento de 54,08%

85.709 consultas ambulatoriais

21.481 atendimentos de Pronto-Socorro

• HV: 17.002 consultas e 1.626 cirurgias

• Clínica Odontológica: 119.394

• Bebê Clínica: 40.428 procedimentos

• Clínica Psicológica: 1.014 Atendimentos em grupo e 5.133 Atendimentos individuais

• Colégio de Aplicação: 1.108 Alunos (Ensino Fundamental e Médio); 143 alunos de Educação Infantil

• Escritório de Aplicação de Assuntos Jurídicos: 6.856 atendimentos; 1.231 Audiências; 1.177 Casos

Ajuizados; 561 Consultas e 17.395 Despachos Judiciais cumpridos

OUTRAS UNIDADES

• Museu de Ciências e de Tecnologia

• Museu Pe Carlos Weiss

• Casa de Cultura/Teatro Ouro Verde

• Rádio UEL

• TV UEL

• Aintec

• Sistemas de Biblioteca

• Editora (EDUEL)

• Sistema de Arquivo (SAUEL)

• Serviço de Bem Estar à Comunidade (SEBEC)

• Escritório de Aplic. de Assuntos Socioeconômicos

• Fazenda Escola (Fazesc)

• Laboratório de Medicamentos/Farmácia Escola

Memórias do 1º reitor da UEL: 17 cursos em quatro anos

Cirurgião gástrico implantou a Faculdade de Medicina e foi desafiado a criar uma Universidade na jovem Londrina, reconhecida pelos cafezais
Por Pedro Livoratti

Se Londrina é hoje uma cidade polo no atendimento de saúde é porque muitos médicos foram atraídos para a cidade nas últimas décadas, solidificando um atendimento especializado em várias áreas. Essa tendência teve início em 1966, com a criação e implantação da Faculdade de Medicina do Norte do Paraná. O curso foi criado a partir de forte pressão social, uma iniciativa da Associação Médica de Londrina (AML), presidida pelo cirurgião gástrico, Ascêncio Garcia Lopes.

Quando a UEL completa 50 anos de reconhecimento, é fundamental lembrar a história e o caminho percorrido pelos pioneiros para implantar uma Universidade na jovem Londrina, na época reconhecida pelos cafezais e pela abundância de perobas.

Imagem ilustrativa da imagem Especial 50 anos de UEL

Ascêncio Garcia Lopes: responsável pela implantação do Campus

Nesta entrevista concedida em março de 2021, o primeiro reitor lembra fatos curiosos da criação da UEL. Aos 92 anos, ele admite que as decisões políticas daquela época eram menos contaminadas por debates ideológicos. Isso talvez explique a facilidade que os londrinenses conseguiram autorização e recursos financeiros para criar a UEL, adquirir a área do Campus Universitário e estruturar 17 novos cursos de graduação entre 1970 e 1974.

Outra curiosidade foi a construção do Campus. Uma empresa especializada foi contratada para elaborar o projeto e fazer a implantação dos Centros de Estudos. Aliás, as primeiras edificações foram o Centro de Ciências Biológicas (CCB), Centro de Ciências Exatas (CCE) e Centro de Ciências Humanas (CCH).

Agência UEL – o senhor era cirurgião gástrico e presidente da Associação Médica. Como se deu a criação do curso de Medicina?

Ascêncio - A cidade clamava por um curso de Medicina. Já existia Direito, Odontologia e o curso de Filosofia, Ciências e Letras. Na primeira reunião da Associação eu falei que a cidade queria a curso. Era nossa obrigação orientar esse pedido.

Em um domingo, estava em casa, atrás da Catedral. Pela manhã um senhor bateu na minha porta e disse que tinha lido na Folha de Londrina sobre a criação do curso. Ele era pai do doutor José Roberto Ferreira, que havia instalado um curso no Rio de Janeiro. Achamos oportuno. Ligamos para o médico, que veio nos auxiliar. Aí veio a orientação que o correto era o estado fazer uma Fundação Estadual para criar e manter a faculdade. Com este estudo fomos a Curitiba. Nos auxiliou o deputado estadual Olavo Garcia Ferreira para falar com o governador Ney Braga. Apresentamos o estudo ao governador.

Agência UEL – aparentemente parecem que as coisas eram mais fáceis. O senhor despachou com o governador e de pronto conseguiu?

Ascêncio – Verdade. Tudo era natural, não havia qualquer interesse político no meio. O que levamos para o governador foi um pedido, uma necessidade. Ele entendeu na hora. E disse: ‘Vamos fazer. E vamos assinar em Londrina’. E nós então de posse da lei, fizemos a Fundação com um representante do Estado, da Prefeitura e um da Associação Médica. Esse conselho dirigia a Fesulon.

[box]

Imagem ilustrativa da imagem Especial 50 anos de UEL

[/box]

Ascêncio Garcia Lopes (à esquerda) acompanha autoridades em visita às obras do Campus

Agência UEL – E a criação da Universidade?

Ascêncio - Procuramos terreno para estruturar a Fundação, foi aí que surgiu a grande ideia. Londrina tinha dois secretários de estado, Dalton Paranaguá e Orlando Mayrinq Góes, na Saúde e na Fazenda. A Fesulon era presidida pelo doutor Eber Soares Vargas. Foi então que localizamos a área onde hoje está a UEL. Mais de 47 alqueires.

Levamos a proposta para o então governador, Paulo Pimentel. Dissemos que queríamos aquela área para instalar o curso de Medicina e futuramente uma Universidade. O Paulo veio a Londrina trazer o cheque. Eu fiz o negócio pessoalmente com os donos da fazenda, que moravam em São Paulo.

Agência UEL – Tínhamos os cursos fundadores. Como se deu a expansão?

Ascêncio – O clamor da sociedade aumentava. Eu me lembro de que havia grande participação dos clubes de serviço, a imprensa. Levamos o pedido de novo para o governador Paulo Pimentel. Assim surgiram as Universidades em Londrina, Maringá e Ponta Grossa. Ele criou as três. E aí acabei sendo nomeado reitor, a partir de uma lista elaborada pela Fesulon. Ele me escolheu. De 1970 a 1974 eu dirigi a Universidade. Neste período eu criei 17 novos cursos.

Agência UEL – Quem foi o responsável pela planta, pelo projeto arquitetônico do Campus Universitário?

Ascêncio –Eu fiz um concurso nacional para implantar a Universidade naquela área. E aí ganhou uma empresa de São Paulo, Bros dos Santos Laiteman. Eu disse: ‘Quero um projeto para instalar uma universidade com ciências biológicas, exatas e humanas. Só que não pode derrubar nenhuma árvore”.

Agência UEL – O senhor falou em 17 novos cursos. Como foi a escolha das áreas?

Ascêncio - Eu chamei a professora Yoshiya Nakagawara, da Geografia. Pedi um levantamento dos cursos que mais precisavam. Ela fez um levantamento que apontou as necessidades. O primeiro curso apontado foi de Engenharia. Mas eu criei primeiro o de Educação Física, por obediência à legislação da época. Depois vieram os outros 15.

Agência UEL – Naquela época não havia necessidade de autorização do governo?

Ascêncio - A Universidade naquele período tinha autonomia. E nós criamos todos os cursos dentro da UEL, não foi dependendo do governo. Nós pedimos para o governo que nos aumentasse o repasse, a verba de manutenção.

Agência UEL – Autonomia é importante até hoje, não concorda?

Ascêncio – Sim. Penso que a melhor é a experiência do estado de São Paulo. Há uma verba definida dentro do orçamento estadual. Uma lei garante este percentual. Aí as Universidades são autônomas para fazerem o que for necessário. É um valor fixado de acordo com a arrecadação do ICMS.

Agência UEL – O senhor disse uma vez em entrevista que Universidade é local de política universitária e não partidária. Por quê?

Ascêncio – Lembro que quando a área da UEL foi adquirida, colocamos o nome de Cidade Universitária Paulo Pimentel. Depois veio o doutor Oscar Alves e retirou o nome. Ficou Campus da UEL. O Paulo é que tinha dado tudo. O Oscar era ligado ao Ney Braga, era genro. Política partidária no meu período nunca existiu. Era somente o interesse da Universidade. Nunca fui filiado a partido político.

Agência UEL – E o futuro da UEL?

Ascêncio – Não há qualquer jovem que não pense na UEL. Essa marca no currículo de qualquer um tem peso extraordinário. Hoje temos uma Universidade grande, de destaque. Então penso que as novas gerações deverão valorizar essa condição. Sempre vão disputar para entrar na instituição.

“A UEL conquistou sua autonomia”

Ex-reitor (1990-94) foi o responsável pelo mandado de segurança que garantiu a autonomia universitária, em 1992, hoje reconhecida pelo STF
Por José de Arimathéia

O cirurgião torácico João Carlos Thomson era o reitor da UEL no início da década de 1990. A nova Constituição Federal ainda não tinha dois anos e havia ainda muito o que fazer para redemocratizar o país e devolver às universidades um papel atuante na sociedade.

Formado em 1967 pela Pontifícia Universidade Católica (PUC), em Sorocaba (SP), o estudante João Carlos atuava no movimento estudantil, desde os primeiros anos do regime militar, opondo-se ao Centro Acadêmico de Medicina. De fato, ele conta que foi o único candidato da oposição que conseguiu se eleger para participar do CA na época. Concluiu suas Residências em 1970, ano em que foi contratado pela então Faculdade de Medicina, uma das que mais tarde originou a Universidade Estadual de Londrina.

Imagem ilustrativa da imagem Especial 50 anos de UEL

Thomson buscou ampliar o diálogo com as lideranças estaduais

A atuação política não arrefeceu. Ao contrário: Thomson ajudou a fundar e presidiu a Associação dos Docentes do Hospital Universitário da UEL (ADHUEL), mais tarde transformada na Associação dos Docentes da UEL (ADUEL), que também Thomson presidiu, hoje unida ao Sindiprol – entidade que igualmente teve a participação do professor em sua fundação. Tem mais: ele ajudou a fundar a ANDES - Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior.

O médico destaca a luta pelas eleições diretas nas universidades na época, paralela à cobrança da sociedade pelas eleições gerais. Porém, no final da década de 1980, Thomson foi para a Universidade de Londres para seu Pós-Doutorado em Cirurgia Torácica. Quando voltou, foi recebido com uma certa pressão para ser candidato a reitor. E foi eleito para o mandato 1990-94. Neste período, relacionou-se com dois governadores: Álvaro Dias, que havia concedido a gratuidade do ensino superior do Paraná; e Roberto Requião, de março de 1991 em diante.

Decretos – Thomson conta que, na época, 23 decretos simplesmente inviabilizavam a gestão da Universidade, que precisava da autorização do governo até para ações simples, como a compra de carteiras e giz. Qualquer pagamento deveria ser aprovado pelo Estado. O reitor chegou a pensar em chamar a imprensa e simbolicamente entregar as chaves da instituição ao governador.

Ao invés disso, investiu numa solução jurídica. Apoiado pela Procuradoria Jurídica, órgão imprescindível para a Universidade, segundo o médico, a instituição entrou com um mandado de segurança contra a Secretaria Estadual à qual a UEL estava vinculada, no início de maio de 1992. A Universidade Estadual de Maringá fez o mesmo e, no final do mesmo mês, a Justiça concedeu o mandado, garantindo repasse de recursos. Vale lembrar que, na época, a inflação podia chegar a 3% ao dia, por isso qualquer simples atraso no repasse significava perda de valor do recurso, assim como um repasse anual não levava em conta as perdas inflacionárias.

Paralelamente, Thomson tomou uma decisão corajosa: parou de pagar as contas de luz, água e quaisquer outras que devesse ao Estado do Paraná. A ideia era: se o governo não repassa o dinheiro para a UEL pagar o que deve a ele mesmo, então que se desconte tais valores. Na época, Thomson levou ao governador Roberto Requião uma planilha com os gastos da Universidade com o próprio Estado. Houve cortes.

No terceiro mês desta quebra de braço, o governo chamou a Universidade para negociar, e ficou estabelecido que, dali em diante, o repasse seria semestral. A mudança logo permitiu fazer uma série de obras, como cantinas, espaços no Centro de Letras e Ciências Humanas, Hospital Universitário, e até no icônico Calçadão da Universidade.

Na época, 23 decretos simplesmente inviabilizavam a gestão da Universidade, que precisava da autorização do governo até para atos mais simples, como a compra de carteiras e giz. Qualquer pagamento deveria ser aprovado pelo Estado.

A decisão do mandado de segurança garantiu relativa autonomia à UEL até 2018, quando o governo estadual foi ao Supremo Tribunal Federal para derrubá-la. Em agosto, o STF decidiu – mais uma vez, em favor da Universidade. Para Thomson, este foi o grande ganho dos 50 anos da instituição e colocou um ponto final na questão. “Temos autonomia e estrutura para administrar. Não temos mais o que justificar”, sentencia o ex-reitor.

O médico observa: “Desde que existe Universidade, existe luta pela autonomia”. Ele se refere às primeiras universidades, criadas ainda na Idade Média. No Brasil, ele relata, destaca-se a Reforma Rivadávia, de abril de 1911. Era a Lei Orgânica do Ensino Superior e Fundamental, implementada pelo decreto n° 8.659. A Lei Rivadávia Correia (nome do então Ministro do Interior) retirava da União o monopólio da criação de instituições de ensino superior, o que tornava possível a criação de universidades pela iniciativa privada. Curiosamente, lembra Thomson, em 1911 o Brasil não possuía ainda nenhuma universidade federal - em todo caso, as privadas já estavam com sua existência garantida.

O ex-reitor da UEL enfatiza como é importante ter uma boa equipe na Procuradoria Jurídica, assim como um bom relacionamento com a sociedade. Ele lembra que marcava a presença da Universidade em instâncias como a AMEPAR (Associação dos Municípios do Médio Paranapanema) e junto à Câmara de Vereadores de Londrina.

Aposentado desde 2010 do Departamento de Clínica Cirúrgica (Centro de Ciências da Saúde), Thomson é categórico: “A autonomia está garantida, é preciso se lembrar disso”. Porém acrescenta: “Nunca é fácil lutar por uma Universidade. Tem que ter coragem e uma boa assessoria, para recorrer aos meios legais”. O que se deve evitar, segundo ele, é partidarizar a administração da instituição, porque isso gera conflito com a sociedade e com o Estado.

O que se deve praticar, diz o ex-reitor, é uma negociação direta, “olho no olho”, em todas as instâncias. É o que ilustra uma história curiosa de Thomson com o governador Roberto Requião. Depois da decisão do Tribunal em favor do mandado de segurança impetrado pela UEL, o governador “ficou bravo com a UEL”, nas palavras do médico. Havia pouco contato até que Thomson telefonou para o governador e o convidou para um almoço em sua própria casa, em Londrina, mas sem comitiva. O governador aceitou o convite, foi a Londrina, ficou bem à vontade na residência de Thomson e se mostrou mais flexível. “Foi sensacional”, comemora o ex-reitor. “A gente brigava mas fazia as pazes”, conclui.


UEL bonita na fotografia

Conhecido pelo seu verdejante e florido campus, além dos seus edifícios, a UEL tem sido espaço frequentemente fotografado, garantindo a memória da instituição
Por Paulo Boni

O campus da UEL é um dos mais – se não o mais – bonitos do Brasil. Amplo, arborizado, ajardinado e bem cuidado (vale render uma homenagem póstuma ao Sr. João Sperandio (foto), que implantou e, por muitos anos, cuidou do paisagismo do campus), ele foi abraçado pela comunidade e é uma das paisagens mais frequentadas e fotografadas de Londrina. O campus tem sido, aos finais de semana, destino certo de famílias, que vêm passear com os filhos. O calçadão, com cerca de 2 km, é repleto de belezas: árvores, flores e edificações. Além dos prédios construídos para as atividades de ensino, pesquisa e extensão, os transeuntes podem apreciar uma réplica (em tamanho 2/3 do original) da primeira igreja católica de Londrina (hoje capela ecumênica para atender todos os credos) e três antigas casas de madeira que faziam parte da paisagem urbana londrinense e foram cuidadosamente desmanchadas (ou desmontadas?) e reconstruídas no campus, nas quais estão instalados a Casa do Pioneiro, o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (NEAB) e o Laboratório de Paisagem UEL.

Imagem ilustrativa da imagem Especial 50 anos de UEL

Em 1996, o Departamento de Comunicação criou o primeiro curso de pós-graduação Lato sensu em fotografia do Brasil, que, por duas décadas ininterruptas, recebeu, preparou, reciclou e aperfeiçoou estudantes de todos os estados da federação e do exterior para o “fazer” e o “pensar” fotográfico. Muito do “pensar” fotográfico do Brasil teve formação ou influência da produção bibliográfica da UEL, que virou referência na área.

Uma das atividades que o curso desenvolveu de 2001 a 2019 foram as maratonas fotográficas ‘Clic o Seu Amor por Londrina’, um concurso fotográfico bienal (anos ímpares), no qual os participantes eram convidados a declarar o seu amor pela cidade por meio de fotografias. O acervo do projeto conta com mais de 5.000 fotografias artísticas, criativas, documentais, estéticas e simbólicas de Londrina, muitas delas tomadas no campus da UEL.

[box]

Imagem ilustrativa da imagem Especial 50 anos de UEL

[/box]

Calçadão da UEL com a réplica da Capela à esquerda

Na primeira Maratona Fotográfica Clic o Seu Amor por Londrina, realizada em 2001, a UEL foi uma das paisagens mais fotografadas. Não sem justa causa, afinal, além de linda, a instituição teve – e tem – importante papel no desenvolvimento da cidade e é uma referência nacional e internacional em educação. Willian Antunes fez uma tomada panorâmica de seu calçadão com a réplica da capela à esquerda.

Fotografia: Willian Volponi Antunes (Maratona Fotográfica de 2001)

[box]

Imagem ilustrativa da imagem Especial 50 anos de UEL

[/box]

Museu Histórico de Londrina Padre Carlos Weiss

Paisagem marcante no centro histórico de Londrina, o imponente prédio da antiga Estação Ferroviária, inaugurado em 1950 (a construção começou em 1946), passou, em 1986, a abrigar o Museu Histórico de Londrina Padre Carlos Weiss, que antes funcionava nos porões do Colégio Hugo Simas. O museu foi criado em 1970 e desde 1974 é um órgão suplementar da UEL. No pátio do museu foram plantados dezenas de pés café, a cultura símbolo – e propulsora do desenvolvimento – do norte do Paraná.

Fotografia: Elias Eiki Otaguiri (In memorian) (Maratona Fotográfica de 2003)

[box]

Imagem ilustrativa da imagem Especial 50 anos de UEL

[/box]

Cine Teatro Universitário Ouro Verde

Projetado pelo arquiteto João Batista Vilanova Artigas, o prédio do Cine Ouro Verde foi inaugurado em 25 de dezembro de 1952, considerado, à época, um dos mais luxuosos do Brasil. Adquirido pela UEL em 1978, o espaço foi rebatizado como Cine Teatro Universitário Ouro Verde. Em 2012, um incêndio destruiu inteiramente o seu interior. Reconstruído nos moldes originais, foi reinaugurado em 2017. É o maior e mais tradicional e democrático espaço de manifestações culturais de Londrina.

Fotografia: Roseli Aparecida dos Santos Silva (Maratona Fotográfica de 2017)

[box]

Imagem ilustrativa da imagem Especial 50 anos de UEL

[/box]

Planetário de Londrina e Observatório Astronômico da UEL

Inaugurado em 2007, o Planetário de Londrina e Observatório Astronômico da UEL nasceu de um projeto de extensão desenvolvido na instituição. O prédio, ao lado do Museu Histórico, foi construído pela prefeitura e tem capacidade de atendimento para cerca de 85.000 pessoas/ano. O projetor foi comprado com recursos oriundos da Fundação Vitae. O Projeto Planetário de Londrina, com fins acadêmicos, educativos e culturais é mais uma marca da presença da UEL na comunidade.

Fotografia: Clayton Sérgio Tomitão (Maratona Fotográfica de 2007)

[box]

Imagem ilustrativa da imagem Especial 50 anos de UEL

[/box]

Réplica da primeira Igreja Católica de Londrina

Réplica da primeira Igreja Católica de Londrina

Uma réplica da primeira Igreja Católica de Londrina, construída em madeira e inaugurada em 19 de agosto de 1934, chamou a atenção de Marco Jorge Leão, no calçadão da UEL. A réplica, inaugurada em 1997, tornou-se uma capela ecumênica para atender harmonicamente todos os credos. A fotografia, tomada em plano médio, com flores de sibipiruna (árvore nativa do Brasil) espalhadas pelo chão, confere paz e beleza à composição e faz um convite à reflexão.

Fotografia: Marco Jorge Roxo Leão (Maratona Fotográfica de 2001)

Nas ondas do rádio e da TV

Pioneira do curso de Jornalismo inovou ao incentivar os primeiros estágios, criar uma política de comunicação, além da TV e Rádio UEL
Por José de Arimathéia

Gaúcha de Santa Rosa, Maria Rosa Abelin tem raízes ciganas e uma vocação para as Artes da Comunicação. Tanto que se formou em Jornalismo e em Fonoaudiologia, na Universidade Federal de Santa Maria (RS). Veio para Londrina em 1977 e em 1978 já era docente da Universidade Estadual de Londrina, mesmo ano em que iniciou uma Especialização em Criminologia, também na UEL.

Imagem ilustrativa da imagem Especial 50 anos de UEL
Professora Rosa: elo entre o curso e as emissoras de rádio e TV

Em 1986 foi para a então Assessoria de Relações Universitárias (hoje Coordenadoria de Comunicação) para criar uma política de Comunicação para a UEL. Tomou a frente dos trabalhos para implantação da rádio e, mais tarde, da TV universitária. Rosa conta que as concessões existiam “no papel”, mas faltavam recursos para a implantação. O país estava saindo do regime militar e a luta pela autonomia universitária era a prioridade. A professora assinala que os tempos não eram favoráveis às universidades. “Nunca houve uma autonomia financeira, nunca aconteceu de verdade”, lamenta, defendendo a autonomia em todos os âmbitos.

O afinco da professora Rosa Abelin deu resultado: em 6 de junho de 1990, seu aniversário, a Universidade FM foi ao ar pela primeira vez, a partir de estúdios que ficavam num pequeno espaço que antes havia sido uma agência bancária, e que hoje é parte da Pró-Reitoria de Planejamento (PROPLAN). Um café da manhã ao ar livre, em frente, pontuou a inauguração. Rosa lembra de um elenco de pessoas que apoiaram e sem as quais a Rádio não existiria. Fala também do bom relacionamento com outras emissoras locais, como a extinta Cruzeiro FM, uma das que forneceu discos para a recém criada rádio educativa.

[box]

Imagem ilustrativa da imagem Especial 50 anos de UEL

[/box]

“A Universidade FM conta com uma equipe maravilhosa e está à altura de todas as rádios universitárias do país”, afirma a professora, que visitou todas elas na época, mais algumas privadas, e ficou quatro anos à frente da emissora. Ela destaca a variedade de gêneros e programas que marcam a rádio até hoje e lembra das dificuldades dos anos iniciais. “Não havia Internet, tínhamos fax para receber releases. As novas tecnologias trouxeram um grande avanço somente mais tarde”, relembra. De fato, a rádio recebia boletins em áudio da BBC de Londres, mas a grande maioria dos releases criavam dezenas de metros de impressos de fax todos os dias. Alguns textos recebiam um tratamento conhecido como “gilete press”, ou seja, eram cortados com estilete e organizados para a leitura pelos locutores.

A expectativa de um canal fechado não era ideal, enquanto a rede dinamiza e democratiza”, relata. Ela lembra que a Rádio também avançou e ganhou muito com o advento da Internet

Quanto à programação, Rosa lembra que, de início, queria valorizar a música popular brasileira e o jornalismo de qualidade, independente. As mudanças que vieram mais tarde, segundo ela, foram salutares. Então é preciso se perguntar: quem é o público? Rosa Abelin conta, por exemplo, que na UEL FM tem-se música com contexto. “A rádio tem que ter identidade. Ela é experiência, diversificação, mas em horários específicos”, completa.

TV UEL – A UEL FM tinha quase 20 anos quando a TV universitária finalmente foi criada. Ela entrou no ar em 14 de dezembro de 2009, tendo a professora Rosa Abelin como primeira diretora. Ela lembra que a Universidade chegou a perder a concessão que tinha, como canal aberto (40 UHF). Porém, o avanço tecnológico acabou beneficiando a criação da emissora. O então reitor da UEL, professor Wilmar Sachetin Marçal, convidou Rosa para colocar a TV no ar. Ela o fez, e se aposentou em 2011.

[box]

Imagem ilustrativa da imagem Especial 50 anos de UEL

[/box]

Rosa lembra que a televisão no Brasil sempre foi alvo de muita politicagem, dado o poder do veículo sobre a população. Havia décadas que o governo federal não investia em emissoras educativas e públicas. Mas a professora observa que o relacionamento das universidades com os governos melhorou muito desde os anos 1970. O diálogo existe. O que atrapalha muito, segundo ela, é a burocracia dos órgãos governamentais, que tira a agilidade dos processos e impede o avanço e as inovações. Daí seria importante, de acordo com Rosa Abelin, que houvesse uma autonomia plena de gestão financeira.

O outro lado da moeda são as inovações tecnológicas. Para Rosa, é certo: a TV UEL teria sucumbido sem a Internet. “Nós já pensávamos na Internet quando da implantação da emissora. A expectativa de um canal fechado não era ideal, enquanto a rede dinamiza e democratiza”, relata. Ela lembra que a Rádio também avançou e ganhou muito com o advento da Internet.

Curso – A professora sempre se considerou um elo entre as emissoras da UEL e o curso de Jornalismo. “Sempre fui professora”, define. Por isso foi precursora em promover uma abertura e levar estudantes aos órgãos para conhecer e atuar, num tempo em que eram raros os estágios e os projetos de ensino. Em sua visão, a Universidade é o melhor espaço para inovar, e tudo era novo. Rosa conseguiu até colocar alunos em emissoras de rádio privadas na época.

De fato, sempre houve – e Rosa esteve à frente por determinado tempo – um projeto para integrar as várias instâncias de Comunicação da UEL: Coordenadoria de Comunicação, TV UEL, Universidade FM e Curso de Jornalismo. Rosa avalia que a união dinamizaria enormemente e, entre outros ganhos, otimizaria os recursos humanos dos órgãos bem como melhoraria muito a formação dos estudantes e ofereceria experiências aos profissionais, por exemplo, numa periódica troca de veículos.

Destemida – Para colocar a Rádio e a TV UEL no ar, Rosa Abelin enfrentou uma série de dificuldades. “Havia burocracia, arbitrariedade, falta de democracia. Tudo era difícil”, lembra. Como fez então? Ela mesma diz que, sendo jovem, simplesmente foi “destemida”, insistiu e enfrentou todo mundo. Claro que teve auxílio, de alguns parlamentares, para ajudar a abrir portas, especialmente no Ministério das Comunicações. Ela cita, por exemplo, o então deputado federal Paulo Pimentel (o governador que décadas antes foi responsável pela aquisição do Campus da UEL), que chegou a pagar uma taxa do próprio bolso para ajudar Rosa. E se portas não abriam, a professora batia com teimosia. É um caso típico daqueles memes que circulam em redes sociais: “Não sabia que era impossível, foi lá e fez”.

Um indiano do mundo que criou raízes em Londrina

Professor de Comunicação inovou ao debater globalização no início dos anos 80, em Londrina
Por Beatriz Botelho

Quando pouco se falava sobre globalização, o professor Eduardo Judas Barros já abordava o assunto nos cursos de Jornalismo e Relações Públicas e em eventos organizados na UEL, em meados dos anos 80. Por 25 anos, ele atuou na Universidade e deixou um legado sobre estudos do terceiro mundo, com foco na divulgação da cultura dos países da África e da Ásia.

O verbo conjugado no passado indica uma perda repentina, em julho de 2008, de uma figura marcante no modo de falar, de se vestir e se relacionar, que expressavam de forma autêntica sua origem.

Imagem ilustrativa da imagem Especial 50 anos de UEL

Professor Eduardo Judas Barros

Barros nasceu na Índia, em 21 de janeiro de 1944, na província de Goa, uma colônia portuguesa. Deixou o país para fazer Doutorado no Brasil na década de 70. “Um indiano, viajante do mundo, que resolveu fincar raízes em Londrina”, é assim que o professor aposentado do Departamento de Ciências Sociais da UEL, Paulo Bassani, considerava o amigo.

As raízes desse homem das Relações Públicas se transformaram em árvores robustas e deram frutos para a Universidade, para a cidade, para a profissão e para as pesquisas do mundo acadêmico, com impacto em diversos países.

AS PEGADAS PELO CAMINHO

A chegada à UEL foi em 1983, para lecionar no Departamento de Comunicação, no Centro de Educação, Comunicação e Artes (CECA). Ética Profissional, Comunicação e Cultura, e Teoria da Comunicação foram algumas das disciplinas ministradas para os cursos de Jornalismo e Relações Públicas.

Com apenas dois anos de casa, ele criou o Núcleo de Estudos Afro-Asiáticos (NEAA) - hoje Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (NEAB) - que abriu portas para globalização e para as culturas africana e asiática na Universidade. O Ato Executivo nº 764/85 foi assinado pelo reitor à época, Marco Antônio Fiori, em 13 de junho de 1985. A partir de então, Barros passou a dividir a carga horária de trabalho entre as aulas no Departamento e as atividades no Núcleo.

Por meio do Simpósio sobre Comunicação e Cultura no Terceiro Mundo, realizado a partir de 1992 pelo NEAA, a UEL recebeu personalidades conhecidas nacionalmente, como os jornalistas Boris Casoy e José Simão, ambos da Folha de S. Paulo, e reconhecidas no mundo acadêmico, como o geógrafo e professor Milton Santos.

Embaixadores da Índia, do Líbano e da Síria também participaram dos eventos, como lembra o colega de Departamento de Jornalismo da UEL, professor Ayoub Hanna Ayoub. Numa das oportunidades, ele e a mãe, de origem libanesa, foram convidados para um jantar com o embaixador do país. “Foram eventos que mobilizaram a colônia árabe de Londrina”, relembra.

Tanto o Campus, quanto o Teatro Ouro Verde, foram palco de espetáculos internacionais de música e dança dos países da África e Ásia, além de exposições fotográficas, congressos, simpósios, debates e conferências sobre o terceiro mundo. Tudo isso a partir da relação do NEAA com a Associação Latino Americana de Estudos Afro Asiáticos no Brasil, da qual o professor da UEL foi presidente por seis anos.

Barros esteve na direção do Núcleo até 2004, mas as atividades não pararam. Como titular da Assessoria de Relações Internacionais (ARI) da UEL, diversos eventos culturais continuaram a ser promovidos na cidade, como os festivais de dança árabe e do folclore internacional.

Tanto o Campus, quanto o Teatro Ouro Verde,
foram palco de espetáculos internacionais de música e dança dos países da África e Ásia,
além de exposições fotográficas, congressos, simpósios, debates e conferências sobre o terceiro mundo

AS RELAÇÕES

Eduardo Judas Barros tinha contato com professores e personalidades de diversas partes do mundo, incluindo o próprio país de origem e a Inglaterra. A relação exterior, com países da América Latina, possibilitou a criação da Associação Latino Americana de Relações Públicas (ALARP), da qual foi um dos fundadores e presidente.

Na cidade, como recorda Paulo Bassani, o amigo transitava dos movimentos populares até as sociedades civis organizadas, como Associação Comercial e Industrial de Londrina (ACIL) e Sociedade Rural. O destaque das suas ações o levou ao cargo de diretor do Departamento de Cultura, na segunda gestão do prefeito Antonio Belinati.

“Ele participava de muita coisa, viajava muito, publicava muito. Tinha um lado proativo”, afirma Bassani, que considera ainda que esse jeito do amigo fazia algumas pessoas gostarem dele e outras não. “Entre os prós e os contras, os prós se sobressaem”, defende. Todas essas relações foram acompanhadas de perto em mais de 10 anos de amizade, que começou em um dos eventos organizados pelo NEAA.

Atualizado pela última vez em abril de 2008, três meses antes do falecimento, o currículo lattes de Eduardo Judas Barros é extenso. São dois mestrados, dois doutorados, diversas participações e organizações em eventos nacionais e internacionais, além de publicações.

O caminho percorrido antes da chegada ao Brasil inclui formação em Filosofia Social, seguida de especialização em Jornalismo e de dois mestrados: em Sociologia e em Filosofia Social. Já os dois doutorados foram na Universidade de São Paulo (USP), em Ciência Social e Ciências da Comunicação. A vinda, nos anos 70, foi possível porque ele pleiteou uma bolsa de estudo, junto à embaixada, para fazer o doutorado na capital paulista.

Antes de dar aulas em Londrina, foi professor na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP) e na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP). A última atuação na UEL foi como assessor na Assessoria de Relações Internacionais (ARI), de 2006 até o falecimento.

A PARTIDA REPENTINA

Bassani foi o primeiro a chegar à UTI do Hospital Evangélico naquele dia 25 de julho de 2008, logo após o falecimento do amigo por agravamento de problemas cardiorrespiratórios e falência múltipla dos órgãos. A reação foi a das mais inesperadas. Disse: “Barros, que isso? Levanta daí!”. Tocou na perna do amigo e o corpo já estava gelado. Ele conta que era difícil de acreditar, porque cinco dias antes estavam reunidos.

Os dois trocavam livros sobre os temas que conversavam e estudavam. “Não devolvi dois livros dele e acho que dois meus ficaram na casa dele”, relembra Bassani, que além das boas lembranças, guarda o material que pertenceu ao amigo. Barros tinha uma biblioteca extensa em sua casa e grande parte dela foi doada ao NEAA, em agosto de 2008.

O professor Ayoub Hanna Ayoub conta que um culto ecumênico foi realizado no Campus da UEL, pelo 7º dia de falecimento, e reuniu muitas pessoas conhecidas. A cerimônia foi celebrada pelo padre Joaquim, também nascido em Goa, na Índia, com participação de representantes do islamismo e da umbanda. “Ele era eclético em muitos sentidos, principalmente do ponto de vista da religião”, conta.

A lembrança e o reconhecimento ao trabalho desenvolvido veio por meio de uma homenagem póstuma. Em 2009, a Associação Latino Americana de Relações Públicas (ALARP) instituiu o Prêmio “Prof. Eduardo Judas Barros”. Pela atuação, o professor Eduardo Judas Barros deixa o nome registrado na História - boa parte dentro nos 50 anos da UEL. Ele fez seu papel de viajante: marcou o caminho e partiu para outra jornada.

Cinco décadas de aliança entre Brasil e Japão

Primeira nissei de Londrina e pioneira do curso de Pedagogia foi responsável pela política de graduação no início da Universidade
Por Willian C. Fusaro

O caminho que liga o Centro à Universidade Estadual de Londrina (UEL), de pouco mais de 6 km, hoje é percorrido tranquilamente em menos de meia hora por milhares de estudantes de graduação e de pós-graduação, servidores e professores. Eles passam o trajeto entretidos ouvindo música, lendo ou conversando, seja em ônibus com saídas regulares do centro ou em carros particulares.

Há 50 anos, o mesmíssimo percurso parecia, para a jovem pedagoga Estela Okabayashi Fuzii, durar uma eternidade. Ela saía da rua Professor João Cândido, onde funcionava a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (que, em 1975, foi incorporada a outras quatro para a criação da UEL), e andava até o campus, onde já começavam a funcionar algumas unidades e serviços administrativos. “Era um caminho de terra, com bastante mato. Demorava uma eternidade, mas hoje parece tão pertinho”, rememora, rindo.

[box]

Imagem ilustrativa da imagem Especial 50 anos de UEL

[/box]

Sede do Núcleo da Cultura Japonesa, localizado no Campus Universitário

Hoje, Estela tem 88 anos, um a mais do que Londrina. Filha de japoneses, foi a primeira nissei nascida em Londrina, em 1933. Cursou Pedagogia na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e voltou com o diploma para lecionar na sua cidade natal. Ela conta que, naquela época, para uma mulher solteira e filha de japoneses, morar fora e cursar uma graduação era uma ousadia. “Os vizinhos dos meus pais diziam que eu não deveria ir, que deveria casar e ter somente o título do Magistério”, afirma.

Estela foi uma das fundadoras do Curso de Pedagogia da UEL. Em 1972, foi convidada a trabalhar no Campus pelo primeiro reitor, Ascêncio Garcia Lopes, na Coordenadoria de Assuntos Educacionais (CAE), atual Pró-reitoria de Graduação (PROGRAD). Desde então, engatilhou sucessivos cargos administrativos, como a vice-direção do Centro de Educação, Comunicação e Artes (CECA). Em 1981, assumiu o Núcleo de Tecnologia Educacional (NTE), hoje Laboratório de Tecnologia Educacional (LABTED), no qual permaneceu por 23 anos.

Imagem ilustrativa da imagem Especial 50 anos de UEL
Estela trabalha até hoje na Universidade

Não há um mandato de reitor que a professora Estela não tenha acompanhado de perto. Na década de 80, a docência, já restrita somente a alguns cursos especiais, foi dando lugar a outra atividade que a marcaria por toda a vida: os intercâmbios entre membros de Instituições de Ensino Superior japonesas e brasileiras.

elo de amizade

A professora Estela demorou alguns minutos para calcular com quantos intercambistas brasileiros e japoneses trabalhou desde 1980, quando ainda estava à frente do NTE. Chegou ao número aproximado de 100 brasileiros que foram para o Japão e de 200 japoneses que vieram. Os números aglutinam estudantes e professores intercambistas. “O montante dos que vão é sempre menor do que os que vêm, por questões econômicas. Para o brasileiro, é mais caro sair do país”, compara.

Em 1980, Estela foi convidada a conhecer o sistema de ensino japonês. “Desde o primário até as Universidades. Fui mais de uma vez com esse propósito”, comenta. À frente do NTE, articulou a criação do Núcleo de Estudos da Cultura Japonesa (NECJ), em 1995. “Já estávamos fazendo os intercâmbios, mas sem um órgão para regular. Pensei que seria fundamental ter um”. A partir de então, coordenou o Núcleo até sua aposentadoria, em 2004, retornando em 2008 para assumi-lo novamente.

visita do imperador

O trabalho pioneiro de intercâmbio internacional com o governo japonês rendeu, inclusive, duas visitas ao casal imperial, o imperador Akihito e a imperatriz Michiko. A primeira em 1990 e a segunda em 2004, quando recebeu a Ordem do Tesouro Sagrado Raios de Ouro e Prata com Roseta. A comenda é uma das oito condecorações (Kunshou, na cultura japonesa), destinada a militares e funcionários públicos que se dedicam por anos à prosperidade do país oriental.

Estela lembra do episódio com bom humor. Quando se deparou com o casal imperial, já estava munida de todas as recomendações de etiqueta, tendo como principal não olhar para os olhos e, sim, olhar para o chão e manter a postura arqueada em sinal de respeito. “Eu me segurei muito para não olhar, mas, enquanto conversava com a imperatriz, dei uma olhada rápida no rosto dela. Estava muito curiosa”.

educação à distãncia

Como estudiosa das Novas Tecnologias em Educação por décadas, Estela viajou para vários países, tanto para estudar como para popularizar práticas de desenvolvimento educacional e Ensino à Distância (EaD). “Fiz cursos em Londres, no Chile e na Argentina. Depois, voltei para a Universidade, para disseminar isso tudo nos Centros de Estudos”.

A pedagoga foi bolsista de várias instituições: Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), Fundação Konrad-Adenauer (KAS), entre muitas outras, assim como do Governo do Paraná e da Prefeitura de Londrina – ainda que não houvesse bolsa alguma disponível para esses fins. “Recebi uma bolsa porque fui lá e pedi. Acreditaram no meu trabalho e me deram”, conta.

aposentadoria?

Com memória invejável, a professora Estela conta que já aposentou - mas nem tanto. “Se não fosse a pandemia, estaria colocando em prática alguns planos com o consulado japonês. A UEL é minha casa, tudo o que faço é por e para ela. Quando isso tudo passar, vou retomá-los”, comenta, sem esconder o otimismo, mesmo diante de um cenário de incertezas.

Uma das realizações que expressa o zelo com a “sua casa” foi a implantação de um jardim japonês na Universidade, em 2014. “É a única universidade brasileira com convênios com o Japão que tem um jardim assim”, orgulha-se. Jardim florescido, cultivado com perseverança e empenho, assim como a relação entre Estela e a sua casa, que já dura cinco décadas e está longe de terminar.

GeNorP: símbolo de inovação e tecnologia na virada do milênio

Projeto desenvolvido na década de 90 para estimular startups representou o embrião para a inovação tecnológica e o empreendedorismo
Por Willian C. Fusaro

No final dos anos 90, as instituições de ensino superior brasileiras caminhavam para se inserirem na internet, enquanto o País entrava, aos poucos, na era digital, com a construção de uma infraestrutura adequada. No norte do Paraná, um projeto ambicioso e inovador começava a se estruturar: o “GeNorP – Projeto Genesis do Norte do Paraná” inaugurado em abril de 1997, sob coordenação da professora do Departamento de Computação, do Centro de Ciências Exatas (CCE), Cleusa Rocha Asanome.

O projeto era um desdobramento do Agente SoftEx Genesis em Londrina, uma das 20 células que funcionavam em todo o Brasil. O GeNorP foi desenvolvido como programa para disseminação e popularização de startups de tecnologia e, futuramente, em 2000, transformou-se na Incubadora Internacional de Empresas de Base Tecnológica (INTUEL). A estrutura, posteriormente, foi incorporada à Agência de Inovação Tecnológica (Aintec), em 2008, já com a Universidade plenamente inserida no contexto digital e na criação de empresas inovadoras em tecnologia.

[box]

Imagem ilustrativa da imagem Especial 50 anos de UEL

[/box]

De acordo com Cleusa, que ficou à frente do GeNorP desde o início até 2008, o caminho traçado pelo GeNorP foi “uma das maiores aventuras” de sua vida. Com uma sala de cerca de 100m2 locada na Biblioteca Central (BC), o projeto começou com auxílio do CNPq e incubando no máximo dez empresas. “O ‘pacote’ para cada empresa era uma bolsa de R$ 868,00 para um profissional e uma de R$ 350 para um estagiário, além de um computador cedido pela SoftEx”, comenta a professora. Dessa forma, a aliança entre a inovação e a tecnologia dava os primeiros passos na Universidade.

Como em qualquer início, o GeNorP não despontou de forma rápida. Os cerca de 50 envolvidos viram dezenas de projetos bem sucedidos incubados, mas também muitos que fracassaram. Em alguns casos, boas ideias eram suprimidas por uma inviabilidade econômica, devido à estrutura disponível. Em outros, não havia tecnologia disponível para colocá-las em prática.

“Avaliávamos a viabilidade das ideias, nos primeiros dois anos. Muitas experiências naufragavam porque não tinham sido desenvolvidas no tempo certo, na hora certa. Às vezes eram ideias muito avançadas”, explica Cleusa. Paralelamente ao desenvolvimento das propostas, os membros do GeNorP marcavam presença constante em bancas sobre tecnologia e empreendedorismo digital, “com sigilo de informação” entre os envolvidos – para que as ideias não fossem “surrupiadas”.

Nessa etapa, o GeNorp já recebia incentivos do Governo do Paraná, Federação das Indústrias do Paraná (FIEP), Instituto Euvaldo Lodi (IEL) e, também, da construtora A. Yoshii, de Londrina.

surgimento da intuel

Com o desenvolvimento da iniciativa, mais empresas incubadas começaram a surgir. A Universidade, então, deu os primeiros passos para o processo de transferência do projeto GeNorP para a INTUEL, em 2000. O objetivo era criar um espaço específico para o desenvolvimento do empreendedorismo, que gestasse e conseguisse projetar ideias de sucesso, nacional e internacionalmente.

Imagem ilustrativa da imagem Especial 50 anos de UEL

Professora Cleusa: pioneira no debate sobre inovação

Em 2002, Cleusa e equipe já promoviam cursos sobre empreendedorismo e criavam programas de inovação e de incubação de empresas. “Começamos a incentivar empresas-júnior e idealizamos a Maratona de Empreendedores e eventos do gênero, como a Feira da Ideia”, ressalta. Cleusa lembra do quanto esse ambiente era enriquecedor para os estudantes e jovens empreendedores. “Além dos resultados e das ideias, as habilidades do empreendedor são muito importantes. Ele tem senso de oportunidades, sabe fazer planos e aproveitar momentos”, ressalta.

Posteriormente, com o desenvolvimento do programa e, principalmente, devido à Lei de Inovação Tecnológica - nº 10.973/ 2004 -, foi necessário a Universidade assumir de vez a dianteira dos projetos por meio da criação e oficialização de uma Agência de Inovação própria.

aintec

Com a estrutura do ecossistema de inovação e empreendedorismo prontos o que compreendia, além dos projetos já iniciados, também os pré-incubados - as empresas-júniores, a propriedade intelectual dessas ideias - a UEL gestava a criação da Aintec, que seria responsável por administrar um montante de negócios que chegava a R$ 5 milhões em projetos, obtidos e reinvestidos entre 2002 e 2006.

Nesse momento, as atividades eram muito incentivadas. “Foi um ótimo momento. Tivemos empresas que foram para a Coreia do Sul, Alemanha e Japão”, relembra a professora Cleusa. Um dos cases de sucesso é a das empresas de tecnologia Oniria, que efetuou uma parceria com uma empresa alemã, e a Genka. Ambas foram criadas em Londrina e gestadas na INTUEL. Em 2008, a transferência foi finalmente concluída e a Aintec passou a controlar o ecossistema gerado inicialmente pelo GeNorP.

empreendedorismo digital

Com o início da Aintec e um ciclo de trabalho cumprido, Cleusa mudou-se para Curitiba, em 2008. Hoje, aos 68 anos e aposentada desde 2001, com três filhos e netos, olha para trás e vê com orgulho os frutos de uma época de persistência na inovação, quando “empreender” e “internet” eram somente ideias na cabeça de muitos. “Tivemos histórias muito bonitas de empreendedores na UEL. Vejo que essas pessoas adquiriram competências para toda a vida, não só pelo lado profissional”, comenta a professora.

História narrada por quem vivenciou uma trajetória de quase cinco décadas

Servidores pioneiros contam experiências e avaliam os impactos da Universidade em vários setores de Londrina e região
Por Beatriz Botelho

A UEL chega aos 50 anos e boa parte dessa história pode ser contada por quem viu de perto uma grande fazenda se transformar em Campus Universitário. Três servidores estão aqui desde a década de 70 e acompanharam toda a evolução - Nilson Roberto Lourenço, Antônio Alves de Lima Neto e Ely Ferreira de Siqueira

Conhecidos como Fu da Prograd, Toninho da Proplan e Ely da Prorh, respectivamente, os três representam os Agentes Universitários. Servidores focados, que guardam inúmeras memórias e um certo saudosismo. Testemunharam a chegada das novas tecnologias e as mudanças na rotina de trabalho e na infraestrutura da Universidade.

“SABIA ONDE FICAVA TUDO”

O primeiro contato de Nilson Roberto Lourenço, o Fu, com a UEL, foi aos 14 anos, quando começou a trabalhar como office boy na Reitoria. Com 16 anos, a convite do professor Reinaldo Ramon (in memoriam), foi para a Pró-reitoria de Graduação (Prograd), antigamente chamada de Coordenadoria de Assuntos de Ensino de Graduação (CAE). Hoje ele tem 42 anos de registro em carteira. “Já faz dois anos que eu posso me aposentar, mas não me vejo longe. Isso aqui é minha vida”, afirma.

Nesse tempo Nilson Fu acompanhou o desenvolvimento da UEL. “Qualquer coisa que me perguntasse antes eu sabia onde ficava. Hoje já não sei mais”, testemunha. Como office boy, ele andava por todo o Campus. Precisava levar documentos e entregar em mãos e, às vezes, chegava no setor e já precisava sair de novo. “Há 40 anos era tudo muito longe, era uma viagem. Eu fazia isso 15, 20 vezes por dia”. Existia também uma Central de Xerox e todos os setores tiravam cópias por lá. A espera chegava a mais de uma hora. “No xerox, eu ia 50 vezes por dia”, lembra.

Imagem ilustrativa da imagem Especial 50 anos de UEL

Nilson Roberto Lourenço

De inscrição para o Vestibular à matrícula dos aprovados, ele participou de todos os processos. A inscrição era feita no Anfiteatro do Centro de Ciências Biológicas (CCB). Ele conta que as fichas de inscrição eram distribuídas no chão e a equipe fazia a contagem manual para saber o número de inscritos. A matrícula era no Centro de Educação Física e Esportes (CEFE).

Quando foi para o setor de atendimento, ele disse que “queria morrer” com a mudança. Hoje, porém, ele afirma que se sair do atendimento é que morre, de tanto que gosta do que faz.

“A UEL É PERENE”

Frequentador assíduo do Restaurante Universitário, Antônio Alves de Lima Neto, o Toninho, é um dos responsáveis pelo projeto de construção do RU, que ficou pronto em 1998. Este é apenas um dos projetos que participou desde que chegou à Pró-reitoria de Planejamento (PROPLAN) em 1984. A partir disso, acompanhou muitos deles saírem do papel e viu as transformações acontecerem em toda a extensão do Campus.

Toninho participou da estruturação da Coordenadoria de Processos Seletivos (COPS), em que avaliou todo o projeto e a construção de um prédio seguro para elaboração das provas e dos concursos. Também colaborou na estruturação do CEFE. Participou da estrutura acadêmica, com a criação de cursos de graduação, de departamentos. Na década de 90, lembra da expansão do nível de ensino e da criação de mais de 100 Especializações.

Imagem ilustrativa da imagem Especial 50 anos de UEL

Antônio Alves de Lima Neto

Antes da Proplan, Toninho trabalhou no Hospital Universitário (HU), no controle de suprimentos farmacêuticos. A entrada foi em 1977. Com isso são 44 anos na UEL. Em 1980, iniciou o curso de Administração e, anos depois, fez uma especialização em Gestão Pública.

Além de ver o Campus se modificando nesses anos, ele viu como a entrada da informatização influenciou na dinâmica de trabalho. Antigamente, os colegas faziam o orçamento em fichas. “Computador mesmo só em meados de 1990. A universidade não teve capital para entrar de início e foi comprando aos poucos”, conta.

Foi em 2004 que os recursos passaram a ser uma preocupação diária, com a ida para a Divisão de Orçamento. Apesar da escassez no custeio, ele tem uma perspectiva positiva do futuro. “O orçamento está vigente, sempre vai ter que ter, porque somos universidade pública. A UEL é perene. O mundo está mudando e nós não vamos ficar alheios a isso”, afirma Toninho.

“NUNCA RECEBI UM PAGAMENTO ATRASADO”

São 49 anos de atuação na Pró-reitoria de Recursos Humanos (PRORH). “Trabalhei em 12 gestões de 11 reitores, desde primeiro até o atual”, explica Ely Ferreira de Siqueira, que já passou por todos os cargos e divisões do setor e é um dos servidores com mais tempo de casa.

A história com a UEL começou em 1971, quando veio ao Campus para se inscrever no Vestibular. Ali ele também soube que estava aberto um processo seletivo para cargo de escriturário datilógrafo e se inscreveu. Em março de 72, iniciou o curso de Matemática, e em abril, começou o trabalho na UEL.

Imagem ilustrativa da imagem Especial 50 anos de UEL

Ely Ferreira de Siqueira

Ely recorda que, naquela época, só existiam os prédios da Reitoria, das Pró-reitorias e do Centro de Ciências Biológicas (CCB). A dificuldade para chegar até o Campus era grande. “Só tinha um ônibus em cada turno. O único trajeto era pela Avenida Faria Lima, que não era asfaltada”.

Em 1977, Ely iniciou outra graduação, em Administração, para aprofundar o conhecimento em Recursos Humanos. Ele lembra que os cursos da UEL eram pagos, porque era uma Fundação e somente em 1987 se tornou gratuita. Especialização em Gestão Pública, Recursos Humanos e Informática também fizeram parte da formação do servidor. Ele conta que precisou se aperfeiçoar na área de tecnologia, porque desde 1973 a UEL passou a informatizar a folha de pagamento, por meio de uma empresa externa contratada para o serviço.

Antes, o fechamento da folha demorava 30 dias. “Era tudo manual. Dava um trabalhão danado. Era o mês inteirinho para fazer a folha”, recorda. Hoje, o tempo é de 15 dias. Nesses 49 anos no setor, Ely reitera: “nunca recebi um pagamento atrasado”.

Uma das grandes mudanças vividas na Universidade foi a transformação de Fundação para Autarquia, em 1992. Todos os funcionários celetistas passaram a ser estatutários, ou seja, servidores públicos. Segundo Ely, isso demandou muitas adequações na área de RH, como reestruturação da organização, criação da área de concurso, setor de legislação, entre outros.

Ely pretende ficar na UEL até o final da atual gestão, mas reconhece que precisa treinar pessoas para continuarem atuando e admite dificuldades para reposição de pessoal. Segundo dados de fevereiro de 2021, estavam desocupadas 1.955 vagas na Universidade. “Desejo que a UEL saia dessa crise, que volte a crescer muito, como foi nos anos 90. Tenho esperança de que ela vai ter uma guinada nos próximos 10, 15 anos”, afirma.

Milhares de quilômetros percorridos

Com quase quatro décadas na Universidade, motorista teria dado pelo menos oito voltas no planeta, se somada toda a quilometragem que já rodou a trabalho
Por Beatriz Botelho

“Apenas um mero transportador”. É assim que se considera o motorista da UEL, Sebastião Rodrigues, o Tião. Ele tem muita história para contar sobre o que passou na Universidade desde que foi contratado nos anos 1980. Já percorreu praticamente todo o país dirigindo carro, ônibus, caminhão, van, e transportou de “gente viva à gente morta”. Acredite!

Nascido em Primeiro de Maio, em 20 de janeiro de 1953, Tiãozinho trabalhou na agricultura com o pai e só aos 17 anos veio para Londrina. Antes de passar no concurso da UEL, teve dois empregos em grandes empresas da cidade. Foi na Universidade que ele decidiu terminar os estudos e chegou até fazer curso de Administração e especialização em Gestão Pública, ambos à distância. Casou com a Claudenice, teve dois filhos e hoje tem também três netos.

Imagem ilustrativa da imagem Especial 50 anos de UEL

Sebastião Rodrigues, o Tião: muita disposição para rodar

É guiado por esse motorista com mais de 40 anos de experiência que vai começar uma viagem rápida pela história. Ela pode ser feita em quatro opções de carro: Santana, Astra, Gol ou Corolla – os que ele dirigiu nos últimos anos na UEL. Todos vão estar com a limpeza impecável e, se duvidar, o Tião vai até oferecer uma balinha, porque sempre trata muito bem todas as pessoas que transporta. Esse percurso vai durar menos de cinco minutos. Escolha um dos carros, se acomode e boa viagem!

Notícia - Como define sua trajetória na universidade?

Tião - Vai para quarenta anos. Eu entrei em agosto de 1982. É uma vida nessa universidade, que tá fazendo cinquenta anos. Ainda bem que a gente pode colaborar.

Notícia - Tem ideia de quantos quilômetros já rodou?

Tião – Impossível precisar isso pra você. Final de semana a gente trabalhava externo e fazia as viagens também. Então, não era só um veículo. Trabalhei com ônibus, caminhão, que outros também pegavam. Somente de 2006 pra cá, começamos a ter um veículo fixo. Aí dá para saber mais exatamente. Na época que eu estava na chefia, tinha o controle disso. A gente andava a média de 130 mil km no mês, a frota toda.

Notícia - Nessas andanças, aconteceu alguma história interessante ou curiosa?

Tião - Você quer saber, mesmo. Eu lembro de transportar muito cadáver. Uma vez eu fui buscar cadáveres em São Paulo e estourou uma embalagem no caminho. O cheiro de formol ficou muito forte dentro do veículo e eu comecei a passar mal. Já era noite. E aí em Cambará, eu vinha dirigindo com a cabeça para fora. Um Policial Rodoviário me parou, pensou que eu estava embriagado. Ele me recolheu, me deu uns medicamentos. Aí ele falou: ‘mas não é melhor que você largue isso aquí?’ Aí eu disse que não, que tinha de levar, porque os corpos estavam congelados. O Policial até me deu uma mão pra arrumar a caixa que tinha estourado.

Notícia - havia documentação?

Tião - Sim, naquela época providenciávamos a documentação. Precisava ir no cartório. A gente viajava um dia antes, para poder arrumar, carregar e vir embora logo pela manhã. Posteriormente houve mudanças, uma série de exigências ligadas à saúde. O transporte então passou a ser em carro apropriado.

Notícia - o que aprecia na UEL, pessoalmente?

Tião - A UEL é um local verde que todo mundo admira. Todos que conhecem nosso Campus se impressionam. A UEL também tem grande respeito. Para nós é um ótimo trabalho. Torço para que muito em breve termine essa pandemia para a Universidade normalizar todas as atividades.

Dieta balanceada com amor e solidariedade

Auxiliar de Nutrição do HU deixou marca de respeito ao paciente em 30 anos de trabalho e dedicação
Por Pedro Livoratti

Aposentada desde 2019, dona Lourdes Barbosa mantém vivas na memória as três décadas que passou percorrendo as várias alas do Hospital Universitário (HU), trabalhando como Auxiliar de Nutrição. A função era atender pacienteS internados nos diversos setores, seguindo à risca as exigências médicas, mas sem dispensar uma porção de afeto para quem passava por um momento difícil. A jornada se iniciava por volta das 5h30 com finalização das porções individuais que precisariam estar nas mãos dos pacientes a partir das 8 horas. A responsabilidade era servir a dieta adequada, com sabor adicional de amor, carinho e afeto.

Hoje aos 71 anos, dona Lourdes não consegue precisar quantos pacientes serviu ao longo do tempo em que esteve à frente do trabalho. Ela lembra que o HU foi o seu segundo emprego. Antes ela havia trabalhado em uma indústria de móveis, aqui mesmo em Londrina. A indicação para se candidatar ao trabalho no hospital partiu da irmã, que sugeriu a possibilidade de um trabalho com estabilidade.

Dona Lourdes lembra que entrou inicialmente como contratada. Logo veio um concurso público. Ela se recorda que foi aprovada em segundo lugar, conseguindo ser absorvida, sem necessidade de interromper a rotina e o trabalho que havia iniciado.

Imagem ilustrativa da imagem Especial 50 anos de UEL

Lourdes Barbosa

satisfação

O contato diário com os pacientes nos leitos de internamento era considerado agradável por dona Lourdes. “Eu tinha muita satisfação em atender. Era um trabalho gratificante”, define. Os pacientes, da mesma forma, aprovavam. A Auxiliar de Nutrição deixou uma marca de solidariedade e simpatia entre os colegas que testemunharam os anos de trabalho.

Entre as recordações, dona Lourdes cita que prestava muita atenção ao atender pacientes internados em UTI. Ela se lembra de prestar atenção se a pessoa estava se alimentando corretamente. Em caso negativo, ela fazia questão de repassar a informação à chefia de Enfermagem. “Quem chega em uma Unidade de Terapia Intensiva tem muita necessidade. Eu me preocupava com cada um”, recorda

Morando na mesma casa há mais de 50 anos, coincidentemente próximo ao Hospital, ela tem palavras de gratidão pela oportunidade de ter feito um trabalho tão importante e reconhecido. “Trabalhei com paixão. Sempre fui muito grata por isso porque quando você está envolvido naquilo que gosta, o desempenho e o resultado sempre é melhor”, finaliza dona Lourdes.

Décio Sabbatini Barbosa - vice-reitor da UEL

Fazenda Perobal abriga hoje uma das maiores Instituições de Ensino Superior do país

Megaestrutura do Campus soma 1,5 milhão de metros quadrados, oito Centros de Estudos, mais de 300 salas de aula e 800 laboratórios
Por Mirian Peres da Cruz

A fazenda que virou Universidade. Essa frase resume em poucas palavras parte da trajetória da Universidade Estadual de Londrina (UEL), criada por decreto governamental em 28 de janeiro de 1970. E, consequentemente, também explica a construção e implantação do Campus Universitário, que hoje faz parte da história e da vida acadêmica dos mais de 83 mil profissionais formados em 54 cursos de graduação ao longo dos 50 anos de existência, após o reconhecimento, concedido pelo então Ministério da Educação e Cultura em 7 de outubro de 1971 - Decreto Nº 69.324.

Com a Universidade já criada e prestes a alcançar o reconhecimento, ainda era preciso encontrar um local para implantar as instalações do futuro Campus. Conforme descrito no livro “Peroba Rosa - UEL 25 anos”, de autoria do professor Joaquim Carvalho da Silva, o desafio ficou a cargo do então secretário Estadual de Fazenda, Orlando Mayrink Goes. Em 1967, tal desejo era iminente devido à recente criação da Faculdade de Medicina do Norte do Paraná, cujo primeiro diretor foi o médico Ascêncio Garcia Lopes, mais tarde nomeado o primeiro reitor da UEL, pelo então Governador Paulo Pimentel.

E durante um sobrevôo em Londrina, Orlando Goes encontrou o terreno, onde hoje é o Campus. Conforme descrito no livro, “o local ideal para o futuro Campus da Universidade”. Era a Fazenda Santana, chamada de Fazenda Perobal, devido à grande quantidade de perobas-rosas entre os milhares de pés de café. O local, situado então em área rural, era cortado pelo Ribeirão Esperança.

Após a compra da área, nas palavras do ex-governador do Paraná (1966-1971), Paulo Pimentel, em entrevista concedida em 2011 e publicada na Revista UEL 40 anos: “Nascia o Campus Universitário da UEL”. Portanto, a Fazenda Perobal - e a junção de outras áreas ao redor, totalizando cerca de 47 alqueires – seria o local onde se iniciaria as obras de implantação do Campus, cujo apelido nos anos 70 era “Campus Perobal”, razão pela qual o símbolo da Universidade é a peroba-rosa. A nobre árvore inspirou a criação do logomarca da Instituição em 1975, de autoria de Cleto de Assis, à época coordenador de Assuntos Culturais da Instituição.

[box]

Imagem ilustrativa da imagem Especial 50 anos de UEL

[/box]

esboço

O começo da construção da Universidade foi um desafio que uniu forças políticas da época. Embora a pedra fundamental para a construção do Campus date de 18 de agosto de 1967, o primeiro esboço do projeto foi apresentado em 1969. Ele foi criado a partir da realização de um concurso nacional. É o que conta Ascêncio Garcia Lopes. Segundo ele, a empresa de São Paulo Bros dos Santos Laiteman ganhou o concurso e ficou responsável pelo projeto.

Prestes a alcançar o reconhecimento, a Universidade, ainda uma Fundação, no início dos anos 1970, teve as primeiras estacas fincadas no chão. O primeiro prédio foi o Centro de Ciências Biológicas (CCB), com três departamentos: Anatomia, Fisiologia e Patologia. Em paralelo à construção dos primeiros blocos do CCB, surgiram também as primeiras paredes do Centro de Ciências Exatas (CCE) e do Centro de Letras e Ciências Humanas (CLCH).

Hoje, o Campus Universitário, dentro da extensão territorial de 1.500.017,33 metros quadrados, é formado por oito dos nove Centros de Estudos - CCB, CTU, CCE, CEFE, CECA, CESA, CLCH e CCA. Juntos, eles somam mais de 300 salas de aulas e pouco mais de 800 laboratórios.

estrutura

À beira de completar 50 anos de reconhecimento, dois fatores fazem com que o Campus da UEL desponte entre os melhores no cenário nacional, com destaque para a gigantesca infraestrutura. Fato é que, à medida em que o Campus expandiu, em paralelo também aumentou a gama de serviços, a Clínica Odontológica Universitária (COU) e Bebê Clínica, Ambulatório de Especialidades do HU (AEHU), Hospital Veterinário (HV), Restaurante Universitário (RU), Clínica Psicológica, Biblioteca Central/Sistemas de Bibliotecas, Núcleos - NEAB e NECJ, Serviço de Bem-Estar à Comunidade (SEBEC), Coordenadoria de Processos Seletivos (COPS), Editora da UEL, Laboratório de Tecnologia Educacional (LABTED), Rádio UEL FM, TV UEL, Agência de Inovação Tecnológica (AINTEC/INTUEL), Museu de Ciência e Tecnologia, Núcleo de Documentação, Laboratório de Línguas, Pista de Atletismo e Programa de Atividade Física (NAFI). Além de reunir seis Pró-reitorias, a Fazenda Escola, Farmácia Universitária e o Colégio de Aplicação/Campus.

Há extensão do Campus espalhada por toda Londrina. São órgãos suplementares e de apoio e um Centro de Estudos. Eles servem de base para a formação de alunos. É o caso do Centro de Ciências da Saúde (CCS), que funciona anexo ao Hospital Universitário (HU/UEL), na região Leste de Londrina.

A UEL também administra o Cine-Teatro Universitário Ouro Verde. Outro órgão suplementar é a Casa de Cultura, que conta com a Orquestra Sinfônica da UEL (OSUEL) e Coros. Há ainda o Museu Histórico de Londrina Padre Carlos Weiss, na antiga Estação Ferroviária.

Também no atendimento à população, a Universidade mantém fora do Campus o Escritório de Aplicação de Assuntos Jurídicos (EAAJ) e, com a oferta do Ensino Médio, o Colégio de Aplicação. Uma verdadeira estrutura de serviços e de extensão que impulsiona e melhora a qualidade de vida de toda a região Norte do Paraná.

(FONTES: Revista UEL 40 ANOS; SILVA, Joaquim Carvalho da. Peroba-Rosa - UEL 25 anos, EDUEL, 1996).

Imagem ilustrativa da imagem Especial 50 anos de UEL

LEIA AS REPORTAGENS ESPECIAIS EM COMEMORAÇÃO AOS 50 ANOS DA UEL

+ UEL completa 50 anos voltada à interação social

+ UEL: Um patrimônio dos paranaenses

+ A influência da UEL nas vocações de Londrina

+ Ciências agrárias da UEL nortearam a produção rural

+ Com a `extensão´, a universidade alcança as comunidades

+ Associação de ex-alunos sai em defesa da universidade pública

+ Para além dos muros da universidade

+ Egressos lembram histórias da universidade que os acolheu

***

Receba nossas notícias direto no seu celular, envie, também, suas fotos para a seção 'A cidade fala'. Adicione o WhatsApp da FOLHA por meio do número (43) 99869-0068 ou pelo link wa.me/message/6WMTNSJARGMLL1.