Um dos centros da UEL que se tornou basal no desenvolvimento do conjunto de operações da cadeia produtiva de Londrina e região é o CCA (Centro de Ciências Agrárias). É lá que estão os departamentos de agronomia, clínicas veterinárias, medicina veterinária preventiva, ciência e tecnologia de alimentos e zootecnia. Esses departamentos atendem os cursos de Agronomia, Zootecnia e Medicina Veterinária.

Centro de Ciências Agrárias reúne cursos com reconhecimento internacional
Centro de Ciências Agrárias reúne cursos com reconhecimento internacional | Foto: Roberto Custódio

Embora Londrina tenha sido formada na década de 1930 com uma vocação rural, o primeiro curso da área só surgiu em 1972, quando o reitor Ascêncio Garcia Lopes criou o curso de graduação em Medicina Veterinária. O ingresso da primeira turma ocorreu em fevereiro de 1973. No início, funcionou provisoriamente no Departamento de Patologia Geral do Centro de Ciências Biológicas. Em 1974 foi criado o Centro de Ciências Rurais, tendo como único curso de graduação o de Medicina Veterinária e como diretor Ernst Eckehardt Müller.

Em 1976, com a conclusão do primeiro bloco do Hospital Veterinário, as atividades do curso foram gradativamente transferidas para o novo espaço físico. Em dezembro do mesmo ano ocorreu a colação de grau de sua primeira turma constituída por seis formandos.

De acordo com a diretora do Centro de Ciências Agrárias da UEL, Patrícia Mendes Pereira, no CCA existem quatro cursos de pós-graduação e três deles são muito bem conceituados no Brasil e na América do Sul. “Na Medicina Veterinária há cursos de pós-graduação extremamente conceituados, considerados internacionalmente cursos de excelência”, aponta.

“O aluno sai com uma vivência muito grande de campo e do contato e manuseio com os animais e com todas as plantações”, ressalta. Ela aponta que muitos veterinários de outras cidades e que são formados na UEL ficam na região. “Isso traz um desenvolvimento muito grande nessa parte agropecuária, que é a base da economia. Inclusive a gente tem uma contribuição importante mesmo nessa pandemia, pois muita coisa parou, mas o alimento não faltou”, afirma.

A diretora ressalta ainda a importância do contato direto com o produtor, “porque é a partir dele que a gente vai sentir o que está precisando para a gente desenvolver técnicas que possam solucionar os problemas da comunidade".

CIÊNCIA ANIMAL

Segundo o coordenador do curso de Ciência Animal na pós-graduação, que possui nível internacional, João Luis Garcia, essa pós engloba três departamentos (Medicina Veterinária Preventiva, Zootecnia, e Clinica Veterinária) e tem o objetivo de atuar com ações relativas a políticas públicas; impactos educacionais; interações com órgãos públicos e órgãos não governamentais; e interações com outras instituições de ensino superior (solidariedade, nucleação).

“Em termos de equipamentos, acredito que no nosso curso de veterinária nós não temos nada a dever para para os melhores cursos do Brasil e do mundo. Nós temos um sequenciador genético, temos máquinas de PCR (proteína C-reativa), entre outras.” Garcia relata que foi aluno da graduação há 30 anos na própria UEL e compara com o momento atual. “Eu me formei em uma época que não tinha nem internet. Nós não tínhamos nada do que é oferecido hoje ao aluno.”

“Nós temos gente espalhada para o Brasil todo e pelo mundo todo também. Temos ex-alunos na Espanha, nos Estados Unidos e ocupando cargos excelentes”, destaca.

Questionado se é possível melhorar ainda mais o curso, Garcia aponta que talvez falte mais internacionalização. “Com uma internacionalização maior, trazendo alunos de fora para a universidade, talvez possamos inserir realmente a universidade nesse contexto Internacional. A gente já teve algumas experiências com franceses que vieram aqui para o nosso curso. Ou mandar os nossos alunos para fora, mas de forma que realmente possam aproveitar em um tipo de intercâmbio.”

AGRICULTURA FAMILIAR

Adilson Luiz Seifert, chefe do Departamento de Agronomia, afirma que os cursos do CCA são bem aceitos pela sociedade. “O mercado de trabalho consegue absorver esses alunos que a gente libera todo ano. Há um mercado muito grande para esses alunos”, garante.

Seifert se considera uma prata da casa, já que ingressou no curso de graduação em Agronomia em 1990. “Fiz mestrado no Centro de Ciências Biológicas em parceria com a Embrapa, onde fiquei por cinco anos. Saí para trabalhar em uma multinacional e passei no doutorado da Agronomia. Sou da segunda turma do curso de pós-graduação. Retornei para a UEL em 2003 como professor temporário e em 2009 abriu um concurso público.”

Segundo ele, o CCA evoluiu em termos de estrutura e de professores. “No curso de agronomia nós só aceitamos professores com doutorado já completo. Não entra ninguém com mestrado. É uma das exigências do curso para tentar manter o nível", diz.

No entanto, destaca, uma das dificuldades pelas quais o curso está passando é que muitos professores estão em processo de aposentadoria. “Muitos já saíram, então hoje estamos com menos de 50% do corpo efetivo. O que está completando isso são os professores temporários, mas para cumprir apenas 20 horas, o que não é atrativo.”

Questionado sobre a relação entre os cursos do CCA, Seifert explica que no currículo de Agronomia há disciplinas que são dadas pelos professores da Zootecnia, assim como no currículo da Zootecnia há disciplinas que são dadas por professores de Agronomia. O mesmo ocorre entre Zootecnia e Veterinária. "Então é um processo de integração. Trabalhamos diretamente os três colegiados sempre em conjunto para atender os alunos da melhor forma possível, até porque nós temos a Fazenda Escola, que atende esses três cursos, e tem o Hospital Veterinário, que é muito importante não só para a universidade, mas para o atendimento da comunidade aqui de Londrina e região.”

Seifert salienta ainda a importância da agricultura familiar para a região. "Damos muito valor para os pequenos empreendedores, assim como para a produção de produtos orgânicos. A sociedade busca alimentos mais naturais. A gente tenta não só falar de grandes commodities, das grandes culturas como a soja, o milho, o café e o algodão. A gente sempre tenta falar de um aspecto em que o aluno possa ampliar o seu mercado de trabalho, seja na área de floricultura e paisagismo, seja nessa área de orgânicos, na área de olericultura. Londrina é um mercado que tem um potencial muito grande para quem se forma ali. Temos grandes empresas multinacionais, com algumas sedes aqui, temos institutos de pesquisa como a Embrapa, temos o IDR (Instituto de Desenvolvimento Rural), o antigo Iapar, e empresas de melhoramento genético. Então tudo isso está circundando a universidade e para a gente se torna fácil, porque você consegue colocar esse aluno no mercado de trabalho."

ZOOTECNIA

O chefe do Departamento de Zootecnia, Valter Harry Bumbieris Júnior, diz que o curso de Zootecnia na UEL é relativamente mais novo que os demais do CCA. “No ano que vem vamos completar 20 anos. Na época eu estava terminando a minha formação em Maringá e no Paraná só tinha lá, na Unioeste de Cascavel, e em Marechal Cândido Rondon”, destaca.

“Eu entrei na UEL em 2009 e não eu não participei desse momento da construção do curso, da elaboração do programa etc. Mas quando cheguei já tive um envolvimento bastante grande e fui vice-coordenador do curso. Logo na sequência assumi a coordenação e hoje sou chefe do departamento de Zootecnia pela segunda vez durante esses 12 anos que estou na UEL.”

Bumbieris ressalta que a partir do ano que vem o curso de Zootecnia deve começar a ganhar uma cara nova . “Há duas semanas, houve a aprovação em uma das câmaras da UEL de um novo projeto pedagógico do curso de Zootecnia. (...) A gente acredita que ele tem essa condição de ser aprovado. Será uma grade curricular mais moderna, que atende mais os anseios dos jovens. É uma modernização de olho no mercado de trabalho e na Zootecnia do futuro. “É preciso atenção dos produtores em relação ao ambiente. A gente vê todo dia que a questão ambiental é projetada na mídia e isso é importante a sociedade cobrar."

PESQUISA

O pró-reitor de pesquisa e pós graduação, Amauri Alfieri, lembra que os cursos mais antigos do CCA são Medicina Veterinária e Agronomia e que outro curso mais antigo é o de Ciência e Tecnologia de Alimentos, além da Zootecnia. “Sem dúvida esses cursos contribuíram consideravelmente com Londrina e região, aliás com todo o Paraná. Foi uma ação em todos os níveis, envolvendo a graduação, mestrado e doutorado. O Centro de Tecnologia de Alimentos só é mestrado e doutorado, e não tem graduação.

Ele reforça que o CCA disponibiliza cursos de excelência internacional. “Nós temos cursos com conceito 6 na Capes, cuja escala vai de 1 a 7. Então é óbvio que o forte do CCA é a pesquisa, tanto em laboratório quanto em pesquisas de campo. “Em particular, a agronomia faz muita pesquisa de campo para dar sustentabilidade a essas dissertações, teses de mestrado ou de doutorado. Nós temos vários pesquisadores na área de ciência e tecnologia de alimentos, na área de agronomia e na veterinária, que tem reconhecimento nacional e até internacional.”

Ele ressalta que o curso de Agronomia, por exemplo, é 5 e para manter isso tem que produzir muito. O da Medicina Veterinária e Zootecnia possuem nota 6 e conseguir permanecer nesse patamar é necessário produzir mais ainda. Geralmente nesses programas de mestrado e doutorado, são publicações quase todas internacionais.

TOXOPLASMOSE

O professor Italmar Navarro é um daqueles nomes que teve repercussão mundial devido ao seu trabalho realizado em dois dos maiores surtos de toxoplasmose no mundo. Um deles aconteceu em Santa Isabel do Ivaí, no início dos anos 2000, que foi na época o maior caso registrado até então, com 484 casos confirmados. Entre 2017 e 2019, a equipe de Navarro foi a Santa Maria para auxiliar no maior caso de toxoplasmose do mundo, superando os números registrados no Paraná e que até hoje permanece no topo desse ranking. No Rio Grande do Sul foram 902 casos confirmados - entre eles, com registros de 10 abortos, três mortes fetais e uma morte por toxoplasmose congênita (bebê infectado durante a gestação e que nasceu com a doença).

“Quando teve um surto gigante lá em Santa Maria, acompanhamos e fizemos toda a assessoria para eles com o material que tínhamos e que foi utilizado em Santa Isabel do Ivaí. Auxiliamos na evolução da investigação do surto e todo o material veio para cá. Esse surto foi tão sério que o Ministério da Saúde nos convocou para que a gente gerasse um protocolo de conduta para consultas no Brasil e nós produzimos um manual”, destaca.

Ele ressalta que há destaques no CCA desde a área animal, produção animal, bem-estar e saúde animal, como na área de saúde pública em especial. “Na saúde animal, para se ter uma ideia, o programa nacional de controle e erradicação da tuberculose e brucelose bovina e suína no Brasil, quem coordenou este programa em nível nacional foi o professor Ernest Miller.”

“O volume de pesquisas produzidas aqui é gigantesco. Não paramos um minuto na pandemia. Está todo mundo trabalhando, produzindo pesquisa. E a gente produz muito.”

O primeiro produto que está rendendo royalties para a UEL, aponta ele, é uma técnica para detectar formol no leite. “”Muitas vezes há uma fraude em que os produtores ou empresas podem introduzir o formol para tentar manter esse leite por mais tempo de prateleira. Esse kit foi desenvolvido pela professora Vanerli Beloti, e a UEL continua tendo frutos de tudo isso.”

PESQUISA DE DESTAQUE

1) Aspectos epidemiológicos da infecção por SARS-CoV-2 em animais (domiciliados e silvestres) com abordagem em saúde única. Coord. Prof. Amauri A. Alfieri. Existem muitas dúvidas a respeito do SARS-CoV-2 não apenas em humanos, mas também em animais, tais como: Qual a real importância dos animais na cadeia epidemiológica da COVID-19? Adicionalmente, a inexistência de um protocolo terapêutico efetivo é preocupante em seres humanos e em animais (felídeos, coelhos e vison) com quadro respiratório. Com isso, o presente projeto tem como objetivo estudar a participação de animais domiciliados e silvestres na cadeia epidemiológica do SARS-CoV-2 no contexto da abordagem em saúde única (OMS/OIE).

2) Desenvolvimento de Programa de controle da Toxoplasmose gestacional e congênita. Coord. Prof. Italmar T. Navarro. Após anos de aplicação dessa metodologia, em nível municipal, o Ministério da Saúde acolheu os resultados e está implantando os mesmo procedimento e protocolos, em todo território nacional.

3) Programa de Assistência Técnica em Produção e Sanidade Avícola em Assentamento Rural visando a Produção Sustentável. Coord. Profa. Ana Maria Bridi. O projeto atende 15 famílias no Assentamento Iraci Salete, em Alvorado do Sul - PR e aproximadamente 20 famílias nos Assentamentos Eli Vive I e Eli Vive II, e, Londrina - PR.No Iraci Salete a meta principal é consolidar a cadeia produtiva de frangos e ovos caipiras. O projeto foi premiado na categoria Universidade Solidária pelo banco Santander.

4) FORMOL FREE I. Coordenado e desenvolvido pela professora Vanerli Beloti. Processo e kit para detecção rápida de formaldeído em leite utilizando um reagente. 2019.* Produto é comercializado pela empresa LondriLab e gera royalties para a Universidade Estadual de Londrina. Campo de aplicação: indústrias de laticínios e de alimentos. A adição substâncias conservantes, como o formol, é uma fraude que tem como objetivo principal a redução ou eliminação de microrganismos presentes no leite, prevenindo as alterações decorrentes de sua multiplicação e aumentando sua vida útil. A presente invenção descreve um processo para detecção de formol no leite, através de um reagente contendo acetato de amônio, ácido acético glacial e acetilacetona, acompanhado de um Kit que permite triar todo o leite recebido pelas indústrias, com baixo custo e facilidade na execução.

5) Manejo populacional de cães e gatos. Coord. Profa. Maria Isabel M. Martins. Tem o objetivo de aprimorar o bem estar animal, saúde pública, e meio ambiente.

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