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EDITORIAL 5m de leitura

Independência financeira é proteção contra violência doméstica

ATUALIZAÇÃO
22 de junho de 2021

Folha de Londrina
AUTOR

A dependência financeira sempre foi um dos obstáculos para as mulheres denunciarem um marido ou companheiro agressor e a pandemia só agravou ainda mais a situação. Isso porque o aumento da violência doméstica nesses 15 meses de crise da Covid-19 é um fenômeno comprovado por pesquisas, explicado pelo maior tempo em que vítimas e agressores passam, juntos, em casa.

Uma nova pesquisa, que ouviu mais de duas mil pessoas em 130 cidades do país, mostra que a dependência financeira, aliada à perda do emprego e da renda, foi um dos fatores que mais contribuíram para a exposição destas vítimas à violência.

Quando a mulher depende financeiramente do companheiro, transpor a barreira da denúncia e da separação é uma grande dificuldade. Lembrando que a pandemia foi muito mais nociva às mulheres no quesito desemprego, percebe-se o quanto o drama da violência doméstica atrelada à dependência financeira impactou a sociedade brasileira. 

Em março deste ano, um estudo do  Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) mostrou que a crise do Sars-CoV-2 derrubou a participação de mulheres no mercado de trabalho a 45,8% no terceiro trimestre de 2020. É o nível mais baixo desde 1990, segundo o órgão. A explicação para o aumento do desemprego na parcela feminina da sociedade é que a pandemia afetou bastante os setores exercidos com grande participação das mulheres, como os de serviços, alojamento e doméstico.

Realizada a pedido do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a terceira edição da pesquisa “Visível e Invisível - A vitimização de mulheres no Brasil” ouviu 2.097 pessoas entre os dias 10 e 14 de maio.  

Dentre as vítimas de violência, 25% reconheceram que a perda do emprego e da renda e a impossibilidade de garantirem o próprio sustento foram os fatores que mais colaboraram para a concretização das agressões. Enquanto isso, 22% culparam o maior tempo de convivência com seus agressores. Por outro lado, menos de 10% apontaram a dificuldade de ir à delegacia para registro do boletim de ocorrência.  

Atualmente, uma em cada quatro mulheres acima dos 16 anos afirma já ter sido vítima de violência física, psicológica ou sexual no Brasil. Se considerado um total de 4,3 milhões de mulheres que relataram já terem sido agredidas fisicamente, é possível afirmar que, a cada minuto, oito brasileiras foram agredidas no país.

Mudar essa realidade requer tirar as mulheres vítimas de violência doméstica da invisibilidade social e política. Muitas não denunciam por vergonha, dependência financeira, falta de informações, descaso da sociedade e descrença de que as autoridades públicas lhes darão apoio. São questões que precisam ser trabalhadas, mesmo com todas as suas complexidades. Lembrando o velho ditado que foi atualizado: em briga de marido e mulher, deve-se pôr a colher. 

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