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Opinião 5m de leitura

ESPAÇO ABERTO - Votar é um privilégio

ATUALIZAÇÃO
01 de novembro de 2020

Equipe FOLHA
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Votar é algo mágico e estonteante, infelizmente desgastado pelas inúmeras circunstâncias, que depõem contra esta etapa no exercício da cidadania. Ir às urnas e escolher representantes deveria constituir-se num ato sagrado, como frequentar um templo ou fazer um belo e prazeroso passeio em família. Uma festa, diríamos. A festa da democracia. Reforça esta tese um fato inquietante: apenas 11% dos países do mundo têm democracias plenas. E nós, aqui neste Brasil ensolarado, embora de voto obrigatório, podemo-lo fazer com total liberdade.

Porém, escolher o melhor entre os bons e os ruins, é um exercício a cada dia mais difícil. Não que não haja opções! Bem pelo contrário! Elas existem e são a cada dia mais numerosas. Contudo, selecionar uma pessoa é sempre acoplá-la a um projeto. Não existem e nunca existirão “salvadores da pátria”. A vereança ou a administração da cidade, neste caso concreto, pressupõe muito mais do que simples boas intenções. Ser portador de honestidade é o mínimo pressuposto, embora nem sempre ostentado no curriculum!

O eleitor deve saber qual a função de cada ente e mais: precisa pensar a cidade como um todo e não apenas a sua rua ou o seu bairro. Mesmo que o processo eleitoral seja amplo e o uso atual das mídias facilite o conhecimento das propostas, ainda assim, fica a nosso encargo verificar a viabilidade das mesmas! O que também não é tarefa fácil, pois o eleitor é geralmente abalroado por uma avalanche de soluções mirabolantes para todos os problemas da urbe.

O discernimento sobre o que é melhor para a coletividade, esquecendo-se eventualmente as questões mais particulares – numa sociedade tão desigual quanto a nossa – é um processo de altruísmo a que os papas católicos têm chamado de caridade por excelência. Cidades brasileiras, em geral, demandam soluções globais, que vão desde a mobilidade urbana até ao incentivo a novos empreendimentos, sem olvidar os pequenos e tradicionais negócios. Do esporte com cariz social, ao aproveitamento, estímulo e manutenção de espaços verdes. Enfim, uma cidade que seja um lar e não um caos desesperador.

Eleições municipais são especiais. Elas não têm o fator desestimulante da distância e do anonimato. Aqui conhecemos os candidatos – pessoalmente – e sabemos o endereço da prefeitura e da Câmara, e os respectivos números de telefone. Isso nos motiva a acertar. O pobre vive aqui. O desempregado está na Agência do Trabalhador. O trânsito tem estrangulamentos no nosso bairro. A chuva fez estragos na casa do nosso vizinho. Esta proximidade de tudo, faz com que a cidade seja o ambiente real onde a vida acontece.

Eu sempre fui municipalista e pleiteei uma reforma tributária que priorizasse os municípios. Mas, enquanto isso não acontece, a escolha de eficientes políticos, embalados por ideais (mais do que ideologias) e projetos factíveis, é imprescindível. Malgrado as decepções que sempre existiram quando o assunto é eleições, não nos resta alternativa se não acertar. Fazê-lo, é votar com consciência e sabedoria.

Há princípios universais que sempre nos ajudam: Em relação à política, nunca uma total indiferença, ou sujeição cega. São fundamentais certas perguntas: Como é que eu contribuo para a construção da sociedade? À luz de que critérios e de que valores julgo os fatos, as decisões, as leis políticas e sociais que regem a comunidade humana em que estou inserido? As minhas opções políticas são coerentes com o meu arcabouço axiológico? Nós eleitores temos direitos e entre os quais o maior, que é fazer respeitar as nossas convicções e ética social. Quando uma maioria coincidir nos nobres objetivos, a cidade sai vencedora.

Está chegando a festa que os gregos inventaram. O mundo vive um momento de descrédito perigoso nas instituições. Não deixemos que nos falte o vinho novo que nos inebriará num processo que tanto nos dignifica. Vamos votar com alegria e agradecidos por essa conquista árdua, mas recompensante.

Padre Manuel Joaquim R. dos Santos, Arquidiocese de Londrina.

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