| |

Opinião 5m de leitura

Editorial

ATUALIZAÇÃO
18 de setembro de 2020

Folha de Londrina
AUTOR

O cobertor curto da cadeia produtiva se mostra um pouco menor nessas últimas semanas, principalmente com o aumento dos preços entregues ao consumidor final, que historicamente amortece os gargalos no setor. Após os reajustes em alguns produtos alimentícios, como o arroz, o leite, que o brasileiro já notou no esvaziamento em seu carrinho de compras, nessa semana, foi a vez de notar a peregrinação dos empreendedores da indústria e comércio têxtil em Londrina em busca de suprimentos. A professor e artista plástica Rafaela El Terras em entrevista à Folha Rural nessa edição da FOLHA contou que há dias visita lojistas na Rua Sergipe em buscas de camisetas básicas de algodão. Ela, que pinta estampas personalizadas, criou um canal online para, com transparência, explicar o aumento de preços em seus produtos.  

Na ponta da cadeia da commodity algodão ela sente os reflexos dos atrasos na logística, dos gargalos em tecnologia de descaroçamento da produção, na confecção de linhas, tecidos e costuras, que consequentemente gera encargos aos produtos. Não deixando de fora o fechamento de parte do setor produtivo por conta da pandemia do coronavírus, cujos reflexos atrasou em, pelo menos 120 dias, o fluxo que leva o algodão do campo aos corpos.  

O que mais espanta, no entanto, é que nos campos a produção está em alta. O Brasil que é o segundo maior exportador de algodão do mundo prevê uma safra recorde para 2020 e a expansão das áreas existentes de plantio. O Paraná que dá passos largos em direção ao aumento da plantação, deixando para trás um passado no qual foi prejudicado pelo praga bicudo. Somando-se a esse cenário a alta do dólar, as vantagens de exportação e o aumento da demanda, a lucratividade do produtor pode chegar a R$ 35 mil por alqueire, segundo o IDR (Instituto de Desenvolvimento Rural).  Uma cena diferente se desenha para a artista plástica que vê seus negócios minguarem com a dificuldade em se obter o produto final.  

Se o problema não está no campo, onde está a origem dos preços altos e desabastecimento no comércio interno? Os setores que compõem os elos de ligação do campo à prateleira estão descompassados. Há o entendimento de que a pandemia é o fator preponderante nessa desarmonia. Porém análises equivocadas de comportamento do consumidor, demanda interna e internacional e vantagens no preço de exportação foram decisivas para o desalinho. Enquanto alguns setores contavam com a alta da demanda de consumo interno para o retorno do crescimento da economia no pós-pandemia; outros, observando o declínio das vendas nacionais com o confinamento e suspensão das atividades, sugeriram que houvesse aumento nas exportações para não gerar excedente e perdas. Corretos em suas análises individuais, esqueceram de pensar como ‘time’ cujas decisões isoladas afetam todos os níveis da cadeia.  

Agora, os elos não podem se esquivar de auto análises e desviar a atenção com críticas ao outro setor e precisam trabalhar juntos em busca de soluções para que, do produtor rural ao pequeno comerciante, e principalmente, o consumidor final, todos possam ganhar e o setor estar forte nacionalmente para ganhar competitividade e relevância internacional. Caso contrário, o Brasil vai continuar costurando ‘haute couture’ vestindo chinelos de plástico.  

Obrigado por ler a FOLHA! 

PUBLICAÇÕES RELACIONADAS