Pela primeira vez desde a sua criação, a Cooperativa de Cafés Especiais do Norte Pioneiro do Paraná (Cocenpp) realizou uma exportação direta – sem intermediação de traders – de cafés especiais para o exterior.

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| Foto: Ricardo Chicarelli/07-08-2017

As 96 sacas de café natural e cereja descascado, de 30 quilos cada, saíram do Brasil pelo Porto de Santos, São Paulo, em 24 de dezembro, e chegaram ao destino final, Barcelona, na Espanha, em 15 de janeiro. Após a estreia, os produtores já miram novos mercados internacionais, como Itália e Rússia (leia mais abaixo).

Os traders funcionam como uma empresa que é contratada para cuidar de todo o processo da exportação. Na exportação direta, por conta de não haver intermediários, os ganhos dos produtores são maiores.

A exportação direta contou com a participação de sete pequenos produtores cooperados: Evilásio Shigueaki Mori, Paulo José Frasquetti, Ricardo Batista dos Santos, Claudinei de Carvalho Nunes, Pedro Luiz Costa, Antônio Carlos Delmonico e Armando César Casimiro. O planejamento e a documentação para concluir o processo foram feitos pela representante comercial da Cocenpp, Angelina Harumi Shimysu Jussiani.

Produtores de cafés especiais que fizeram a exportação direta de 96 sacas para a Espanha
Produtores de cafés especiais que fizeram a exportação direta de 96 sacas para a Espanha | Foto: Divulgação/Cocenpp

Ela conta que recebeu capacitação da Apex Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) específica para exportação para micro e pequenas empresas, de forma online, por conta da pandemia.

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Como foi

A aproximação com o exportador se deu a partir de um produtor de café do Noroeste do Paraná que Angelina contatou durante a Semana Internacional do Café, em Minas Gerais, em setembro do ano passado.

“Conheci produtores de Cambira (PR), Maringá (PR) e Apucarana (PR). Um deles me ligou, pouco tempo depois, dizendo que um amigo da Espanha gostaria de conhecer a Cocenpp”, conta.

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| Foto: iStock

O espanhol foi até a sede da cooperativa, em Congonhinhas, e também conheceu a unidade de beneficiamento no munícipio de Lavrinha, ambos no Norte Pioneiro do Paraná. Foi então que ele decidiu levar para o continente europeu sacas de cafés especiais da região.

Angelina brinca que a primeira exportação da cooperativa aconteceu de supetão. Com apoio do Peiex (programa de qualificação para exportação oferecido pela Apex Brasil) e dos sete produtores, ela conseguiu reunir a documentação e planejar a logística de envio em poucas semanas.

“Nós fizemos todo o processo da exportação de forma direta, desde o contato com o cliente até o produtor chegar ao porto”, explica Angelina.

Segundo ela, a Indicação Geográfica (IG), na modalidade de procedência do café do Norte Pioneiro do Paraná, terá o seu selo estampado nas embalagens e ajudará no marketing e na divulgação do produto em território espanhol. Com isso, o cliente final tem a possibilidade de conhecer o produtor do Norte Pioneiro do Paraná e um pouco da sua história.

O cafeicultor Ricardo Batista dos Santos, presidente da Cocenpp, comemorou o feito inédito da cooperativa
O cafeicultor Ricardo Batista dos Santos, presidente da Cocenpp, comemorou o feito inédito da cooperativa | Foto: Divulgação/Cocenpp

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“Na Europa, as indicações de procedência são valorizadas”, afirma. A representante comercial destaca que a exportação não teria acontecido sem o apoio do Sebrae Paraná, que ofereceu todo o suporte técnico, inclusiva para a conquista da Indicação Geográfica. “Fiz o treinamento, me esforcei e fizemos acontecer, mas só deu certo pelo cooperativismo e o trabalho dos produtores, da Cocenpp, e apoio da Apex e do Sebrae-PR”, ressalta.

Para obter a Indicação Geográfica, os produtores devem seguir uma série de exigências. Existe uma lista de produtos proibidos que não podem ser utilizados na lavoura e é obrigatório registrar tudo o que foi empregado para viabilizar o cultivo.

Dados como início da colheita e altitude da propriedade também são requisitados. Esse registro é um reconhecimento da reputação e da boa qualidade do café vinculado a um local. É uma comunicação ao mundo que o Norte Pioneiro do Paraná se especializou e tem capacidade de produzir algo diferenciado e de excelência (leia mais no quadro as características dos cafés especiais).

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| Foto: Folha Arte

Sonho

Para o cafeicultor Ricardo Batista dos Santos, um dos exportadores e presidente da Cocenpp, o envio direto dos cafés para a Espanha é um sonho realizado. Ele conta que já exporta café há muitos anos, desde 2013, mas sempre com a intermediação de traders.

“Agora, podemos dizer que nos tornamos exportadores. O lucro vai ficar dentro da cooperativa e para nós, produtores, a remuneração é muito boa. Recebemos o dobro do preço que teríamos aqui no mercado nacional”, comemora.

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| Foto: Saulo Ohara / 09/06/2016

Ele acrescenta que, para replicar esta experiência a outras regiões do Estado, é necessário inicialmente haver a união dos produtores.

“Para você exportar café hoje, você tem que ter volume. Para pagar um preço diferenciado, eles priorizam e pagam quando há uma exportação de produtores pequenos, da agricultura de subsistência. Tem que ter o cooperativismo, o pessoal se unir em associações e cooperativas, como é a nossa do Norte Pioneiro. Esse seria o caminho para as outras regiões, fazendo com que esse mercado seja alavancado”, destaca.

Sobre a exportação direta sem a participação do trader, o presidente da Cocenpp ressalta que a modalidade faz com que os produtores saibam por quanto realmente o café foi vendido lá fora.

“Isso dá um maior poder de barganha para o produtor, e ele é mais bem remunerado. E você valorizando o produtor, acaba incentivando ele a produzir ainda mais cafés especiais.”

Outro ponto é que o lucro fica com o trader e não com a cooperativa. “Então agora, como temos uma funcionária que consegue fazer essa exportação para a gente, acaba ficando o lucro dentro da cooperativa. Por outro lado, aumentam as responsabilidades.”

Novos mercados

Após a exportação para a Espanha, os cooperados da Cocenpp já miram novos mercados no exterior, como Itália e Rússia.

“Temos a Ficafé (Feira Internacional de Cafés Especiais do Norte Pioneiro do Paraná), que acontece uma vez por ano. Este ano foi on-line devido à pandemia. Tivemos muito mais parceiros, produtores e empresas participantes. O contato desses outros dois países foi via Ficafé. Como a Itália e a Rússia estão querendo café torrado e não moído, ainda teremos que alavancar um recurso para comprar o torrador, já que se trata de um mercado muito grande de café torrado. Isso vai agregar muito mais valor aos produtores. Esse mercado só tende a crescer. Você tendo qualidade, você vende”, destaca.

A Cocenpp conta hoje com 37 cooperados. “Pouco a pouco vamos recrutando mais produtores com essa mentalidade de produzir com qualidade e acredito que naturalmente deveremos chegar a 100 produtores em até dois anos.”

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| Foto: Valter Campanato/ Agência Brasil

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Ampliação

O consultor do Sebrae/PR, Odemir Capello, diz que a exportação direta deve ampliar muito o canal de relacionamento da cooperativa, que poderá conquistar mais clientes e ter mais lucros e melhores resultados.

“É algo que, até pouco tempo atrás, era considerado impossível, mas que se tornou viável graças ao cooperativismo e o trabalho para produzir cafés diferenciados e com registro de procedência”, avalia.

O Sebrae auxiliou na estruturação de todo o projeto de exportação direta. “Desde a capacitação do produtor em trabalhar a questão do café especial, a obtenção da primeira Indicação Geográfica do Paraná e uma das primeiras do Brasil, ou seja, foram diversas ações estruturantes que levaram a chegar nesse ponto”, conclui.

Os cafés enviados à Espanha serão comercializados para torrefações e também vendidos por uma plataforma de e-commerce direto para o consumidor final.