Quando papai e mamãe moravam em seu pequeno sitio, na roça, havia um tipo de trabalho coletivo para solucionar uma necessidade que levava um dia todinho para ser realizada. Isso porque era impossível para um casal realizar tais atividades sozinho. Tratava-se do Puxirum, Muxirão e até Peixerão, nomes com os quais o pessoal de Reserva (Paraná) denominava o mutirão. Tratava-se de uma troca de favores entre os sitiantes.

Esse mutirão, que dependendo do lugar recebe outras variantes para o nome, era um trabalho coletivo que podia acontecer das mais diferentes formas: capinar e manter limpa a roça, matar porcos/vacas/etc., fazer pães/bolos/doces para preparo de uma festa de casamento ou comemoração de nascimento, construir uma casa, fazer a colheita de frutas ou o plantio da lavoura e outros tantos trabalhos mais.

No dia marcado, madrugadinha ainda, lá vinham as famílias todas com seus homens, mulheres e crianças para trabalhar. Todos traziam seus instrumentos de trabalho.

Como era praxe, os donos da casa onde aconteceria o mutirão ofereciam o café da manhã. Depois de bem recebidos e já alimentados os trabalhadores eram divididos e todos punham mãos à obra.

Se fosse matança de animais, os alimentos do almoço e jantar já tinham as carnes garantidas.

Quase sempre os sítios tinham rio em seus limites, de modo que havia dias em que alguns homens pescavam e os peixes, produtos da pesca, eram assados e servidos em refeição para todos.

Já para os cafés da tarde as mulheres e crianças confeccionavam pães, bolos, doces e refrescos de frutas da época.

Às crianças se reservavam “trabalhos” fáceis e prazerosos como ajudar as mães, aprender a fazer uma coisa ou outra, cuidar dos bebes e dos irmãozinhos menores e outras brincadeiras mais. Conhecer e brincar com crianças dos sítios vizinhos também era atividade constante e prazerosa para os pequenos.

Quando os trabalhos do mutirão terminavam, todas as famílias recebiam algo em troca. Se fosse colheita recebiam uma parte dela, se fosse matança de animais poderiam receber partes das carnes dos bichos mortos (linguiça, defumados, etc.). Se fosse colheita de milho verde recebiam pamonhas/curau/bolo de milho/broas. E assim por diante. De forma que nos sítios de todos ocorria da mesma forma, ou seja, ninguém utilizava dinheiro para a paga dos serviços, mas todos eram “pagos” com produtos dos trabalhos realizados.

Pensou que chegou ao fim este relato? Não! O fim, a melhor parte dos mutirões, sempre vinha com o termino de todos os trabalhos e, depois da trabalheira toda, ali mesmo os pais se reuniam rapidamente e marcavam um piquenique com as famílias. Escolhia-se um rio bem bonito para “acampar” e um dia especifico que era quando cada família deveria levar um tipo de comida. Então o dia estava finalizado e todos seguiam para seus lares depois de terem cumprido mais um dia de mutirão.

Chegado o dia marcado para o piquenique, todos das famílias levantavam-se cedinho para carregar os carroções onde se aboletavam as pessoas e onde eram colocados todos os utensílios a serem utilizados.

Ao chegarem no local, eram retirados paus e pedras do espaço escolhido que, depois, de limpo, recebia as mesas e tudo o mais que estava nos carroções. A seguir, enquanto os homens pescavam e/ou caçavam, as mulheres conversavam e arrumavam todas as coisas, cuidavam de seus filhos e até cantavam! Tendo chegado os homens a festança acontecia!

Lá pelo inicio do entardecer, juntavam-se todos os tarecos trazidos e, com a confecção de uma fogueira, acontecia uma cantoria de parte de todos ao som da gaita de fole, violas e violões trazidos por alguns. Dai sim o arrasta-pé acontecia para valer e para descontrair. Essas festas, além de trazerem a alegria a todos os envolvidos, também propiciavam que moças e moços solteiros conhecessem suas almas-gêmeas entre as famílias conhecidas.

O coroamento da festa era quando os carroções poloneses (comumente usados para carregar famílias, compras e equipamentos a serem utilizados na roça) que eram puxados por mulas, eram recarregados. Logo apagava-se a fogueira, subiam as pessoas nos carroções e... lá se iam todos comentando as horas e acontecimentos, satisfeitos e contentes enquanto que as crianças iam dormindo e sonhando felizes.

Assim é que aqueles mutirões não apenas cumpriam sua finalidade de ajudar o próximo, mas também promoviam os laços de amizade ou amor, de desestressamento de todos e, bem por isso, agradavam a todos.

Marina I. Beatriz Polonio é leitora da Folha.

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