Imagem ilustrativa da imagem DEDO DE PROSA - O futuro te espera
| Foto: istock

Aos 15 anos, ganhei de um namorado, igualmente adolescente, um livro com o título “O Futuro te espera”. Não recordo o autor, mas acho que tinha cunho religioso, pois foi um grande amigo que lhe indicou para dar para a namorada (no caso, eu). Juntamente com o livro, as intenções sinceras do primeiro amor que acreditava no futuro, no “ juntos para sempre” e com final feliz.

O livro falava da evolução da moça para se tornar mulher, suas virtudes, descrevia o casamento como algo muito bom, tanto para o coração e para a alma, quanto para o corpo. E que a felicidade conjugal trazia tanta alegria aos casais que se tornava evidente em seus rostos.

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Na cultura machista da época, o livro superava, na linguagem espontânea, na sutileza, na inocência, deixando muitas perguntas que eu, menina-mulher, não tinha pressa em saber a resposta, apesar dos hormônios em alta e o coração acelerado. Tinha muito futuro pela frente...

Passado meio século, como todas as mulheres que chegaram até a velhice, que sentindo-se elas mesmas, verdadeiras, sem filtro, embora a sociedade as torne “ invisíveis”, após tantos anos vem a pergunta que não quer calar, não mais afirmando, mas questionando: “que futuro me espera? Qual é o futuro de uma mulher velha?”

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Muitas mulheres hoje, maduras, por terem ultrapassado os anos de trabalho e produção, que tiveram filhos, ou não, e, por diversos outros motivos, sentem, em relação ao futuro, alguns medos, entre eles, da solidão, do abandono, da invisibilidade, da inutilidade; não por se sentirem nessa situação, mas porque a sociedade e até a família estão vendo as pessoas mais velhas dessa forma.

Muitas vezes, a partir da sua idade e produtividade, as pessoas vão sendo catalogadas para o que ainda servem: cozinhar, cuidar de netos, rezar, fazer crochê, dançar em eventos de terceira idade, ir a bingos? Se não dominam o mundo digital, ai delas porque, a cada questionamento, a resposta é de impaciência, pressa. Se gostam e usam as redes sociais, têm que passar por um crivo rígido, chegando a desistir por se acharem ridículas ou simplesmente se recusam a aprender porque têm “medo” de errar, por gostar de coisas bobas, antiquadas, por serem bregas, enfim.

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Teríamos muito a aprender sobre e com as mulheres, se soubéssemos olhar para o passado, para o presente e para os lados. Se soubéssemos olhar com normalidade, retirando o termo pejorativo “velha” . São lindas histórias que ao longo da vida entraram em decadência porque não têm mais valor. Se assim elas próprias se enxergam, ou são vistas, perde-se o sentido pleno da vida, passando a buscar as mais diversas saídas ou então desistindo de viver, “esperando a morte chegar”.

Incluindo-me no grupo, penso que se nunca fomos velhas antes, estamos passando pela experiência e assim como experimentamos a infância, a adolescência, a juventude, a meia idade, sempre projetando um bom futuro e querendo chegar lá, hoje, o nosso diferencial é a experiência, a maturidade, o conhecimento e estes não estão sendo reconhecidos. É apenas uma velha!

A primeira vez que me dei conta de estar idosa, ou “antiga”, como prefere meu neto Antônio, foi quando, ao bater na porta de uma vizinha, suas netas gritaram: “Vó, tem uma velha te chamando”! Pronto! Cheguei lá no futuro. Sou, simples e somente velha, idosa, terceira idade. Tenho que me encaixar nas roupas e na moda, na vida e no modo de viver de uma pessoa velha.

E o que é ser velha? Voltando ao tema ,agora em forma de pergunta: “Que futuro me espera?” E comigo, toda essa geração de idosos que frequenta os shoppings, que vão às academias, viajam, vão à festas, são grandes consumidores, até sustentam famílias? O corpo foi mudando, as rugas aparecendo, os cabelos branqueando, vieram os óculos, algumas próteses, já não temos a mesma mobilidade, a mesma disposição. Mas tudo isso é externo, é exterior.

Às vezes as pernas não conseguem acompanhar a nossa força interna, das rugas só lembramos quando olhamos muito para nós mesmas, os cabelos podem ser de qualquer cor (isso é moda atual), as próteses são para nos dar conforto, os óculos nossos amigos e colaboradores. Somos pessoas completas, sábias, realizadas, felizes... a menos que nos proíbam de sermos assim.

Já ouvi muita amiga dizer: “Mas eu não me sinto velha!” Mas não existe mesmo esse sentimento; existe o “sentir-se nova”, “ o sentir-se um bebê”, “um adolescente"? Claro que não. Existe o sentir-se bem ou sentir-se mal, feliz ou infeliz, alegre ou triste. A velhice é mais uma etapa de nossas vidas e está em nós decidir como desejamos vivê-la da melhor maneira possível . Então, está em nossas mãos decidir que futuro nos espera: um futuro alegre, tranquilo, bem vivido e, principalmente, feliz.

Estela Maria Ferreira, leitora da FOLHA

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