A crítica aos agrotóxicos é uma constante, principalmente de parte dos países mais desenvolvidos, que podem valer-se de outras estratégias para enfrentar as adversidades agrícolas causadas pelas pragas, doenças e plantas daninhas. Sem a proteção dos agrotóxicos, a produção de alimentos sofreria um enorme impacto negativo e possivelmente não conseguiria suprir os alimentos que a sociedade global demanda, cada vez em maior quantidade.

Mas, a pressão mundial sobre os malefícios dos agrotóxicos quando utilizados inapropriadamente, tem motivado os cientistas, mundo afora, a procurar alternativas para o manejo das contrariedades sanitárias das lavouras. Nessa busca, identificaram-se produtos que impactam menos o ambiente. São os biodefensivos; produtos que protegem as lavouras contra adversidades sanitárias, causando pouco ou dano algum ao ambiente. Está na moda pelo mundo, o uso desses insumos de origem natural, onde os ingredientes ativos que promovem o controle sanitário, são organismos ou substâncias extraídas do próprio ambiente.

No Brasil, um dos países onde mais cresce a utilização de bioinsumos no controle de pragas e doenças das lavouras ou de inoculantes promotores de crescimento das plantas, o mercado movimentou R$ 1,7 bilhões na temporada 2020/2021; 37% de aumento sobre o ciclo anterior, segundo informa a Business Inteligence Panel (BIP), da Spark Inteligência Estratégica.

Os bionematicidas lideraram as vendas com 43% do total, seguidos pelos bioinseticidas (25%) e biofungicidas (9%). Embora os inoculantes não sejam biodefensivos, eles são produtos biológicos de suma importância, principalmente para leguminosas como a cultura da soja, que dispensa o uso de fertilizantes nitrogenados químicos, quando suas sementes são inoculadas com bactérias do gênero Bradyrhizobium.

Ainda, de acordo com a BIP, a adesão de agricultores no uso de biodefensivos saltou de 5% para 13% no milho safrinha e de 28% para 67% no algodão, no correr das últimas três safras. O mercado de biológicos cresceu 40% ao ano entre as safras 2018/19 a 2020/21, indicando consolidação dessa ferramenta no manejo fitossanitário das principais lavouras e sugerindo enorme potencial de crescimento para os próximos anos, dada a febre desenvolvimentista de produtos biológicos em marcha, no país.

A crescente demanda por sistemas alimentares mais sustentáveis impulsiona esse mercado no mundo, estimado em US$ 10 bilhões para 2025, segundo Jorge Gandulfo, diretor de marketing da UPL (uma das cinco maiores empresas de soluções agrícolas do mundo). Segundo ele, o mercado de bioinsumos para proteção de cultivos cresceu três vezes mais rápido do que o de agroquímicos, traduzindo o desejo do setor produtivo e da sociedade em geral por alimentos mais saudáveis para a saúde humana, animal e ambiental. Seguindo essa linha, a União Europeia e outros países do chamado Primeiro Mundo, têm guiado um processo de adoção de produtos com baixa toxicidade, promovendo uma agricultura mais sustentável, onde moléculas químicas como paraquate, acefato e carbendazin, entre outros, foram banidas.

Nesse cenário é importante que o agricultor brasileiro esteja antenado na adoção de biopesticidas e bioestimulantes, pois os mercados mundial e interno irão demandar alimentos com maiores restrições ao uso de agrotóxicos, com a finalidade de garantir baixo risco à saúde humana e ambiental, tornando cada vez mais importante a utilização desses produtos na agricultura.

As biossoluções tendem a constituir-se em mola mestre da sustentabilidade do planeta.

Amélio Dall’Agnol, pesquisador da Embrapa Soja