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Nos primeiros dias de janeiro, o mundo fervilhava com a possibilidade, ainda que remota, de uma Terceira Guerra Mundial. O conflito seria resultado da briga entre Estados Unidos e Irã, após um ataque de drones americanos vitimar o general Qasem Soleimani, considerado o segundo homem mais poderoso do governo iraniano.

Mas o mundo dá voltas e, três meses depois, virou também de ponta cabeça. Iniciado em dezembro na cidade de Wuhan, na China, um surto de pneumonia, sem causa identificável até aquele momento, ganhou o mundo, acelerado pelos efeitos da globalização e a grande circulação de pessoas entre países.

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Em semanas, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou estado de pandemia global. Batizado de Covid-19 pelos pesquisadores, o novo coronavírus faz parte de uma grande família de vírus que causam doenças respiratórias. Já infectou mais de 2 milhões de pessoas no mundo e o número de mortes supera os 140 mil.

Para frear a transmissão, países fecharam fronteiras, comércios e indústrias e decretaram medidas de isolamento social. O mundo não acabou, mas parou. Pelo menos por enquanto, a depender das diversas teorias que surgiram a reboque da pandemia — afinal, não há lockdown que interrompa a criação de memes e conspirações.

Trabalhadores vestem roupas de proteção para desinfecção das ruas de Nairobi, Quênia
Trabalhadores vestem roupas de proteção para desinfecção das ruas de Nairobi, Quênia | Foto: Luis Tato/ AFP

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"O apocalipse vem aí?"

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Para agitar ainda mais as redes sociais, a pandemia ganhou a “companhia” das erupções do vulcão Anak Krakatoa, na Indonésia, do incêndio florestal na região de Chernobyl, na Ucrânia, e de enxames de bilhões de gafanhotos na África, provocando danos em 200 mil hectares de plantações de nove países e deixando um milhão de pessoas em crise alimentar.

Achou pouco? Pois uma divisão da Nasa, responsável por monitorar objetos espaciais que se aproximam da Terra, identificou um asteroide de quatro quilômetros de diâmetro que deve chegar perto do nosso planeta em dia 29 de abril.

icon-aspas “As teorias conspiratórias sempre marcam presença em momentos de tragédia ou outros fatos marcantes, como num previsível efeito colateral"

A leitura foi automática: o apocalipse vem aí! “As teorias conspiratórias sempre marcam presença em momentos de tragédia ou outros fatos marcantes, como num previsível efeito colateral. É a constante necessidade do ser humano em querer respostas”, avalia a antropóloga Maria Cristina Neves.

Uma das teorias, resgatada da época em que o Papa Francisco foi escolhido, aponta que São Malaquias teria afirmado que o 112º homem a assumir o trono do Vaticano, depois de Celestine II, seria denominado "o Papa antes do fim dos tempos" e que "a cidade das sete colinas será destruída". Nos manuscritos, ele dá a entender que esse lugar é Roma, na Itália, um dos países mais afetados pela pandemia.

Vista aérea do incêndio em floresta próxima da usina nuclear de Chernobil, na Ucrânia
Vista aérea do incêndio em floresta próxima da usina nuclear de Chernobil, na Ucrânia | Foto: Planet Labs Inc. / AFP

Outra crença apontaria que o coronavírus é a prova de que o primeiro Cavaleiro do Apocalipse “começou a andar”. Em diversas interpretações da Bíblia, o primeiro cavaleiro é conhecido como Pestilência, associado a doenças e pragas. E mais uma tese invoca o livro de II Crônicas 7, versículo 15, trecho da Bíblia em que Deus diz a Salomão: "Quando eu cerrar o céu e não houver mais chuva, quando ordenar aos gafanhotos que devorem a terra, ou quando enviar a peste contra meu povo".

Coluna de fumaça e cinzas do vulcão Anak Krakatoa, na indonésia, chegou a 500 metros de altura
Coluna de fumaça e cinzas do vulcão Anak Krakatoa, na indonésia, chegou a 500 metros de altura | Foto: Handout / BPPTKG / AFP

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São sinais do fim do mundo? Para José Carlos Andrade, professor de Teologia, não. “Muitas pessoas tem conhecimento superficial da Bíblia, aí começam com essas interpretações forçadas em momentos tensos, como o que estamos vivendo agora. O objetivo pode até ser de buscar explicações, mas o resultado é apenas criar pânico e desinformação”, critica. Como contraste, ele cita outro trecho da Bíblia. “Mateus 24, versículo 36, nos traz um alerta de Jesus sobre o fim do mundo: ‘Quanto àquele dia e àquela hora, ninguém o sabe, nem mesmo os anjos do céu, mas somente o Pai, nem mesmo o Filho’. Prefiro ficar com essa passagem, sem alarmismo”, aponta.

icon-aspas "A coisa é tão volátil, tão surreal que vai mudando para se encaixar na narrativa, para confirmar aquela verdade que a pessoa busca"

Nuvens de gafanhotos devoram a vegetação da África e ameaçam produção de alimentos
Nuvens de gafanhotos devoram a vegetação da África e ameaçam produção de alimentos | Foto: iStock

Para Maria Cristina Neves, outro elemento para se destacar é como as teorias são adaptadas para se encaixar na realidade do momento. "Por exemplo, Nostradamus teria previsto que um 'papa negro' assumiria antes do fim do mundo. Assume o Papa Francisco, que não é negro, aí passam a dizer que o 'negro' na verdade se referia à batina preta da Ordem dos Franciscanos, e não à cor da pele. Então a coisa é tão volátil, tão surreal que vai mudando para se encaixar na narrativa, para confirmar aquela verdade que a pessoa busca. É uma maneira de passar o tempo talvez, de se entreter, mas não dá para levar a sério”, sugere a antropóloga.

icon-aspas “Ao invés de paranoias desnecessárias, de medo de fim do mundo, que tal uma avaliação das coisas que são realmente importantes para a nossa vida?"

Notícias falsas vincularam previsão da pandemia de coronavírus a Nostradamus
Notícias falsas vincularam previsão da pandemia de coronavírus a Nostradamus | Foto: iStock

O que fazer então? De acordo com José Carlos, o momento pode sugerir uma reflexão da forma como vivemos. “Ao invés de paranoias desnecessárias, de medo de fim do mundo, que tal uma avaliação das coisas que são realmente importantes para a nossa vida? Uma conexão melhor com a espiritualidade, com a bondade, com a família, os amigos, com o amor ao próximo, o respeito. Acredito que há coisas mais positivas, e que fazem mais bem em uma hora como essas, a se pesquisar, compartilhar e buscar, do que martelar teorias que nada acrescentam”, destaca o teólogo.

Já a antropóloga Maria Cristina Neves sugere leveza. “Cada um reage de uma forma. Tem quem vai fazer o meme, brincando que o calendário Maia estava errado e o fim do mundo não era em 2012, e sim 2020. E também tem aquele que vai sacar uma teoria conspiratória, seja política, seja religiosa, para tentar explicar o presente e prever o futuro. E tem vários outros perfis também. O ser humano quer respostas e vai continuar buscando, é uma condição inerente à nossa vida. Que essa busca seja leve e com elementos concretos, verdadeiros, porque o momento já nos apresenta muitas dificuldades para enfrentar”, analisa.

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