'Como eu pago por isso?', perguntou um americano ao se deparar com a conta de US$ 4 mil referente ao atendimento médico para ele e a filha de 3 anos durante quarentena nos Estados Unidos em razão da suspeita de infecção pelo coronavírus.

Assim como no Brasil, dezenas de americanos que estavam na China retornaram ao país de origem após o início da pandemia em Wuhan. Esse foi o caso Frank Wucinski e a pequena Annabel. O relato do americano feito ao jornal The New York Times está entre os fatos que repercutiram nas últimas semanas nas redes sociais de brasileiros com a hashtag 'vivaosus'.

No Brasil, os valores referentes à quarentena dos que retornaram da China foram custeados pelo Governo Federal e as milhares de pessoas com suspeita da doença que não possuem plano de saúde estão recebendo atendimento público gratuito.

Imagem ilustrativa da imagem #vivaosus - Internautas exaltam Sistema Único de Saúde no enfrentamento à pandemia

Nos Estados Unidos, a situação ainda gera dúvida. Frank Wucinski e a filha tiveram as suspeitas de contaminação descartadas e o hospital informou ao The New York Times que a cobrança teria sido enviada por engano. No entanto, há outros relatos de contas enviadas aos americanos após atendimento médico.

Especialistas temem que pessoas com suspeita da doença deixem de procurar os serviços de saúde por medo dos valores. As leis trabalhistas também não oferecem suporte necessário para afastamentos por motivo de doença.

O 1º vice-presidente da Comissão Nacional Pró-SUS do Conselho Federal de Medicina, Donizetti Giamberardino Filho, destaca que as ações do sistema atendem pacientes da rede pública e privada por meio de ações da vigilância sanitária.

“O SUS é um sistema universal. O modelo existe na Inglaterra, em Portugal e no Canadá, mas o SUS ainda está em construção. Como sistema, ele tem que ser defendido porque defende o cidadão. Hoje se nós considerarmos uma população de 200 milhões de brasileiros, ele faz a parte assistencial de 150 milhões e os outros 50 milhões têm planos de saúde. Ainda assim, na prática, considerando a vigilância sanitária e outras medidas como vacinação, a cobertura do SUS chega aos 200 milhões. Muitas ações sanitárias que pertencem ao SUS têm cobertura para toda a população, seja para aqueles socialmente mais privilegiados, seja para os menos privilegiados”, afirma.

Apesar do atendimento gratuito no Brasil, o profissional reconhece que os desafios são muitos. “Há uma diminuição histórica de leitos hospitalares e, em situações como essa, quando você tem por um determinado período de tempo a necessidade maior de leitos, você fica com dificuldades de gestão. O próprio coronavírus, por exemplo, está se desenhando mais grave nas pessoas de mais idade. A dificuldade dele é que são pacientes que não têm alta médica fácil. Na hora que você tem uma permanência em leitos de UTI por vários dias, podem até faltar leitos porque normalmente um leito internaria três ou quatro pacientes por mês e passa a internar um. Isso é uma coisa que, provavelmente, vai nos atingir em maio.”

O SUS foi criado por meio da Constituição Federal de 1988. Porém, apesar dos mais de 30 anos, muitos itens permaneceram apenas no papel. “Ainda não conseguimos entregar tudo o que prometemos. Com certeza, por mais críticas que nós tenhamos ao SUS, quando perguntamos aos brasileiros se eles apoiam o SUS, há uma quase unanimidade que sim. O nosso SUS com dificuldades é muito melhor para o cidadão menos privilegiado do que antes de 1988”, defende.

Giamberardino Filho explica que, antes da implantação do sistema, uma pequena parcela da população possuía plano de saúde. As demais pessoas eram consideradas indigentes e atendidas por favor. No entanto, a demanda crescente de atendimentos nas últimas décadas não acompanhou a quantidade de investimentos realizados pelo Governo Federal.

“Temos problemas de financiamento e muitos leitos sendo fechados. Temos uma tabela SUS que não atrai e que traz prejuízos. Após algumas medidas feitas em 2016 houve maior restrição no orçamento da saúde e da educação. As regras mudaram. Temos falta de dinheiro. Não há estímulo para que a sociedade privada abra leitos para o SUS.”

A gestão e a corrupção também preocupam. “Seria necessária uma interação de redes muito bem organizada. Cabe aos municípios a atenção primária nas unidades de saúde e nas UPAs. No segundo plano, há a questão chamada secundária que são os hospitais mais simples. Em um terceiro nível, na alta complexidade, por exemplo, há centros de transplante, de cirurgias cardíacas e oncologia. Tudo isso deveria conversar e estar organizado de forma hierarquizada. No nosso país, isso não acontece. Há muita ineficiência”, aponta.

“O pouco dinheiro que nós temos não é gasto da melhor forma também. Em geral, o ministério e os órgãos governamentais não cumprem sequer a metade do que está empenhado. Então eles empenham e não gastam. Além disso, tem esse problema de desvio de verbas e de gastos não apropriados tecnicamente para eficácia e eficiência”, completa.

Os profissionais da saúde também não são estimulados para ingressar na carreira no sistema público e atender pacientes em cidades de menor porte. A falta de acesso é uma das principais críticas da população.

“Nosso povo deveria defender cada vez mais o SUS porque ao defendê-lo está defendendo a si mesmo e os seus descendentes. Os deputados e os prefeitos eleitos têm que ser pressionados com esses direitos sejam eles da saúde e da educação. Acho que isso é a base para a construção de um futuro melhor. Só vamos melhorar tratando bem o nosso cidadão desde a sua infância”, finaliza.

A advogada e presidente da Comissão de Direito à Saúde da OAB-PR, Renata Farah Castro, acrescenta que há muito desconhecimento sobre a quantidade de procedimentos e de medicamentos disponíveis no sistema público.

“Muita gente critica, mas nenhum país por mais desenvolvido e rico que seja oferece de forma gratuita e universal tantos benefícios de tratamentos de saúde à população sem uma contraprestação. Claro que pagamos impostos, mas vários países do mundo têm serviço de saúde com coparticipação ou com muitos limites para o tratamento de algumas doenças.”

Segundo ela, em alguns casos, a judicialização ainda se torna necessária. Porém, é preciso que as informações sobre o SUS sejam amplamente divulgadas para que os próprios profissionais do setor possam adotar os procedimentos mais adequados.

“Nosso SUS é um sistema que as pessoas acabam não conhecendo e, muitas vezes, dizem que é ineficaz. Existem médicos que desconhecem o quão amplo é, quantos medicamentos e tratamentos o SUS fornece. Existe uma lista chamada Rename (Relação Nacional de Medicamentos Essenciais) com mais de 900 medicamentos gratuitos para toda a população. O sistema tem falhas, mas, muitas vezes, as pessoas acabam nem procurando saber como ele funciona. É um exercício de cidadania ir atrás dessas informações”, reforça. No site do Ministério da Saúde (saude.gov.br) é possível obter mais detalhes sobre o Sistema Único de Saúde.

A SAÚDE PELO MUNDO

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