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CIDADANIA 5m de leitura

Reta final de um ano letivo cheio de desafios

Educadores, alunos e responsáveis relatam como foi o ano de aulas online e apontam perspectivas para 2021

ATUALIZAÇÃO
23 de novembro de 2020

Walkiria Vieira - Grupo Folha
AUTOR

Imagem ilustrativa da imagem Reta final de um ano letivo cheio de desafios

Prestes a concluir o ano letivo de 2020, educadores e familiares torcem por um futuro promissor e ao olhar para atrás e ver tudo o que superaram durante a pandemia, o sentimento é de dever cumprido. Lutar contra a evasão, entregar material impresso na casa dos alunos e fazer as aulas serem mais atrativas entrou na grade curricular de um ano tão marcante do ponto de vista científico como cheio de aprendizados para a vida. 

Para atrair a atenção dos alunos,  Rosirene Matos,  do Centro Municipal de Educação Infantil Yolanda  Salgado Vieira Lima , criou atividades especiais
 

Equipada em vários cômodos da casa, a professora do Centro Municipal de Educação Infantil Yolanda  Salgado Vieira Lima, Rosirene Matos, dá provas de que ama ensinar.  Ciente de que os seus alunos na faixa dos quatro anos de idade precisam de atenção diferenciada, não se limita ao básico para fazer a mensagem chegar à turminha. "Nós da Educação Infantil tivemos que repensar e aprender outra forma de ensinar, foi tempo de  unir forças, de aprendizado para a família e para criar uma rotina dentro do dia a dia.  Para dar conta do recado, empenhou-se. "Enquanto profissional, procurei me qualificar participando de cursos à distância na área da tecnologia, cursos que a Prefeitura já proporciona e nessa pandemia ampliou. Esse tem sido um momento de pensar mais ainda no coletivo e de se preocupar com o outro."

Matos admite que sente falta da sala de aula. "Nunca mais seremos os mesmos e as pequenas evoluções serão muito mais valorizadas. A transformação digital que vivemos seguirá em 2021 e nós, professores, mais do que nunca estamos abertos para novos aprendizados", expõe.

Na Escola Municipal Jadir Dutra de Souza, no Patrimônio Selva, uma força-tarefa foi posta em prática para manter os 139 matriculados do P4 ao 5º ano do Ensino Fundamental na ativa. De acordo com a coordenadora da unidade, Rosangela Andréa Uhlmann, o sistema remoto foi desafiador na escola que em 2020 completa 65 anos.  "Tivemos dificuldades como toda escola e alguns alunos precisaram de adaptação, pois não estavam dando o devido retorno para as atividades propostas", explica. "Literalmente, corremos atrás dessas crianças em suas casas, oferecemos atendimento individualizado, que é a consulta pedagógica e sabemos que diante da realidade de muitos pais que não sabem ler e escrever, planejamos atividades em que o aluno tivesse autonomia para realizar e com o máximo de didática", relata. 

 

De acordo com  Uhlmann, houve casos de alunos que chegaram a ficar 30 dias sem realizar atividades e entraram na chamada Rota 3 ou Rota Vermelha, conforme monitoramento da Secretaria Municipal de Educação. "Eram dois casos e felizmente conseguimos recuperar com o apoio dos pais e avós", alegra-se. Professores, diretores e secretários se desdobraram e, segundo a coordenadora, o resultado foi melhor que o esperado.  Diante da escola praticamente vazia e da situação atípica, a coordenadora aposta na descoberta da vacina e a vida retornando ao normal. "Quero ver as crianças brincando no pátio e sobre o aprendizado vamos realizar avaliações para entender de que ponto devemos partir com os alunos", diz. 

Para os 620 alunos da Escola Municipal Miguel Bespalhok, localizada na região leste de Londrina, a evasão foi zero. Do ponto de vista das coordenadoras da unidade, Cilene Caldas Piccinin e Cristiane dos Santos Silva, o ano letivo de 2020 pode ser definido como um ano de descobertas. "Desenvolvemos outras possibilidades e estratégias de como chegar aos alunos, de renovar o sistema de ensino e sabemos que houve um grande avanço na área tecnológica", admite.

 

Se por uma lado as coordenadoras temiam que num futuro distante a escola não seria mais como nos modelos atuais e a tendência do Ensino à Distância gerasse assombro, a experiência trouxe uma outra resposta. "Percebemos que nada substitui o afeto, o relacionamento humano e a pandemia mostrou que estamos mais fortes e somos necessários para as crianças", revela. Durante entrega dos PEDs- Planos de Estudos Dirigidos -, as coordenadoras recordam como os pais relatavam a saudade e até pediam um aceno para o filho que estava no carro. "Nunca ganhamos tanto presente no Dia dos Professores como nesse. Os pais quiseram externar como somos importantes", afirmam. "Essa aprendizagem, principalmente nos primeiros anos está entrelaçada. Tomávamos leitura por videochamada, mantivemos o vínculo e confirmamos que somos insubstituíveis", fala.  

Uma lição de casa e tanto

Com quatro filhos em idade escolar em casa, a pedagoga Juliana Tobias de Carvalho dos Santos é uma referência de dedicação e citada por diversos professores  que reconhecem seus esforços. Caio tem 8 anos, Lara, 6, Lis, 4 e Isis, 3. Organizada, dinâmica e extremamente cautelosa em relação aos cuidados para evitar a contaminação da família com o Covid-19, Juliana fez papel de professora, inspetora e embora acreditasse que o distanciamento fosse durar apenas 40 dias, optou por manter os filhos na rotina. "Acordavam às 6h45, faziam intervalo e a aula terminava ao meio-dia, revela. Firme nas rédeas, mas dócil como a maioria das mães que passa o dia todo com os filhos em casa e precisa fazer concessões, ela atribui ao esposo, Giailson, grande parte do mérito. "Ele virou o diretor da escola e graças a seu jeito de saber estabelecer horários, seguimos firmes até agora. Algo que nunca imaginei foi ensinar um filho meu a ler", emociona-se. 

Para dar ritmo às aulas em casa e não deixar a rotina cair na mesmice, Juliana foi atrás de material complementar, variou os ambientes para os filhos e até caçula, Isis, que não estava matriculada em 2020, entrou na lista de chamada. "Ela queria acompanhar, assistia às aulas e tive até que comprar um caderno - os irmãos zombavam dizendo que era o cadernos de rabiscos." Seguindo o modelo dos irmãos, após a tarefa realizada, Isis entregava o caderno para a mãe fotografar e comprovar o feito.  Os conteúdos dos  estudantes chegavam todos via WhatsApp e Juliana transformou  seu celular em ferramenta de estudo. "Era por revezamento e enquanto um usava o celular, os outros faziam as tarefas no livro ou caderno", explica. No período oficial de férias, Juliana conta que deu as férias para as crianças e considera a experiência gratificante. "Fomos firmes pensando no andamento do próximo ano e preparando-os para quando as aulas presenciais retornarem", expõe  Juliana. 

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