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Folha 2 5m de leitura

Três mulheres de Londrina que fazem arte com muita identidade

No Dia Internacional da Mulher, a atriz Marina Stuchi, a MC Cleópatra e a artista plástica Elisabete Ghisleni falam de suas trajetórias

ATUALIZAÇÃO
08 de março de 2023

Walkiria Vieira
AUTOR

Imagem ilustrativa da imagem Três mulheres de Londrina que fazem arte com muita identidade

Na dramaturgia, nas artes plásticas ou na música, a presença feminina é uma realidade e uma inspiração. Para celebrar  o Dia Internacional da Mulher, a FOLHA entrevistou três mulheres que elevam a cultura e inspiram pessoas de diferentes áreas graças à forte identidade de seus trabalhos.

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A atriz e produtora cultural Marina Stuchi desenvolve o seu trabalho com base em conceitos do feminismo, experiências pessoais, memórias e lembranças. Tais conceitos são incorporados por uma estética híbrida denominada Performopalestra, numa poética que faz do depoimento, do relato pessoal e da teatralidade seus principais recursos.

Marina Stuchi: atriz leva ao palco a situação de violência cometida contra as mulheres em performances muito significativas
 

Assunto espinhoso, Stuchi colocou o tema da violência contra as mulheres em seu trabalho. No palco,  é evidente a sua habilidade ao abordar o tema com sensibilidade, mas sem embuste. Assim, o espetáculo  “Me chame pelo meu nome" ,  apresenta  características autobiográficas em forma de expressão onde lida com três aspectos:  dados estatísticos a respeito da violência de gênero; conceitos, termos e noções relacionados ao tema da violência e cenas elaboradas esteticamente para a revelação de acontecimentos da vida da atriz.

Nessa toada, o espetáculo humaniza e dá voz ao tema e, por isso, "Me chame pelo meu nome", é uma crítica direta a meros  números de estatísticas, uma vez que cada vítima de violência carrega traumas, dores e uma história que muitas vezes quer guardar para si.  O espetáculo traz  também, a importância de dar nome aos diversos tipos de violência de gênero, julgando que este feito gera uma melhor reflexão sobre o assunto e, a partir dela, busquem-se soluções efetivas para seu combate. 

O seu propósito é que as mulheres aprendam  a reconhecer, se proteger e entender o  quanto a violência está enraizada dentro de cada uma. “Às vezes a gente nem sabe que está sofrendo violência, não sabe o que está acontecendo porque está tudo naturalizado e também é muito importante que os homens  vejam e entendam o quanto reproduzem a violência, o discurso violento, o machismo, mesmo quando acreditam que não são machistas. Eles veem a peça e se reconhecem", observa. 

Confira o espetáculo "Me Chame Pelo Meu Nome", de Marina Stuchi

CLEÓPATRA NA BATALHA DE RIMAS

A música não é o fim. A música é uma constante na trajetória de Cleópatra, nome de batismo recebido assim que passou a participar das batalhas de rima, do movimento hip hop de Londrina, no ano de 2018. De lá pra cá, Cleópatra fez a corte e segue respeitada. Ela sabe suas origens e também onde deseja chegar. A londrinense Ligia Maria Braga, a Cleópatra, é MC e integra o movimento hip hop de Londrina, estudante de Psicologia na UEL (Universidade Estadual de Londrina),  considera que a música é uma forma de denúncia. 

 

A artista integra projetos educativos e culturais e suas referências musicais emergem do rap nacional e do samba de raiz que, para a jovem, está totalmente ligado à sua infância e enriquece o seu repertório. Ela conta que sua família tem influência em toda a sua formação cultural. "Minha família canta,  cresci ouvindo dentro de casa".  Então, naturalmente, essa influência é algo que está na essência de Ligia. 

Longe se sentir em ascensão ou como protagonista, reconhece que está sendo ouvida e isso faz bem a ela no que diz respeito á musicalidade. "Entendo que dentre tantas vozes, a  minha voz é uma voz que está sendo ouvida pelas pessoas,  em alguns ambientes,  mas eu não considero que esse movimento esteja acelerado, entendo como fruto de muito trabalho, apoio, e de carinho de muitas pessoas que desde o começo me incentivaram", reflete. "Felizmente,  consegui encontrar algumas dessas pessoas no meu caminho,  então acho que toda essa ascensão,  se for colocar nessas palavras, é fruto disso tudo acontecendo no tempo que tem que acontecer", pondera. 

A cantora tem alguns trabalhos gravados individuais,  a citar: "Um EP  lançado no início de 2022 e  o single "Guia",  solo e independente, no qual  apresento minhas referências,  caminhos que eu permeei do samba de raiz ao rap", comenta. Com atitude, Cleópatra considera que o papel da mulher no rap é fundamental e parte da perspectiva que é um estilo de música que denuncia e fala sobre realidades e experiências muitas vezes atravessadas pela violência. 

Suas letras abordam temas universais: "da nossa individualidade, da nossa subjetividade, sobre dores, sofrimentos, vivências e expectativas".

Cleópatra observa a sua volta, olha para o mundo, não por acaso, o curso de Psicologia não é algo isolado. "Ninguém é sozinho. Sozinho a gente não faz nada e estou sempre olhando em volta para ver o que está acontecendo: quem está morrendo,  quem  está sendo violentado. Por isso, as minhas letras conversam com minhas perspectivas pessoais e coletivas, com a cidade, com o cotidiano, mas também com muito afeto  e amor, pois eu já fui agraciada com muito afeto, com muito carinho e procuro passar isso para os ouvintes", divide. 

PRODUTORA RURAL E ARTISTA PLÁSTICA

A artista plástica e poetisa Elisabete Ghisleni considera que o seu processo criativo se assemelha ao psicanalítico. "Retrato pessoas com histórias, sou uma ouvinte e revivo as minhas memórias para capturar esses territórios , que são de fascinação".  Ghisleni prepara o terreno com elementos da natureza vivos e cheios de poder. Os 25 anos de vivência em uma fazenda a nutrem e, com as ferramentas que desenvolveu, faz uma colheita fértil e capaz de surpreender suas retratadas. Como mulher e produtora rural ela já passou por situações em que , na venda do gado, os compradores quiseram baixar o preço por estarem negociando com uma mulher. "O masculino no campo ainda domina muito." 

 

Na arte, os caminhos se abrem. Atualmente, uma de suas obras, "Espelho Invertido" -  aquarela, 57x70 - integra a exposição Internacional de Arte em homenagem aos 25 anos do Club Unesco Pirea e Ilhas, na Grécia. 

Natural de Paranavaí, Ghisleni também é fotógrafa e explica que no período da pandemia  da Covid-19, dedicou-se mais a pesquisar o processo da arte, sobretudo o traço e a cor. "Comecei a desenvolver uma perspectiva da figura feminina real, com expressão e dentro de um ambiente lúdico".  As obras cercam as mulheres junto às coisas da natureza, com animais exóticos, animais que não existem, insetos de um mundo surreal e o resultado é uma explosão de cores, sentimentos e formas. "Uma mulher tem que acessar todos os seus ângulos para saber atuar no mundo, sem colocar suas obras em uma gaveta", pensa. 

A artista que estudou Arquitetura e se formou em História, carrega em sua bagagem algumas influências.  A arte mexicana, a art noveau, Matisse, Gustav Klimt , Amedeo Clemente Modigliani são algumas de suas referências. "O universo feminino é múltiplo e esses artistas eu sempre revisito."

Muitas mulheres procuram a artista para serem "lidas" e terem sua essência registrada por uma artista autodidata. "Quando desenho,  lanço mão de arquétipos, da força  de Jung, medito e não há tempo para elucubração, é foco extremo. 

A artista explica que nada aparece de uma hora para outra, sua obra "é feita de silêncios profundos", conta. 

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