O encerramento frequente de contratos de prestação de serviços e a transferência do atendimento para outras prestadoras, às vezes até de outros estados, tornam o setor de call center um ambiente altamente dinâmico para as empresas, mas extremamente instável para os trabalhadores.

Imagem ilustrativa da imagem Só este ano, demissões no setor de call center passam de mil em Londrina
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Só neste ano, mais de mil demissões ocorreram no setor em Londrina - primeiro, os cerca de 1.100 funcionários da Vikstar, que prestavam serviços de contact center para a Telefônica, e depois, mais recentemente, os 83 funcionários da CTD (Companhia de Tecnologia e Desenvolvimento), vinculada à prefeitura, que foram desligados após o encerramento do contrato com a Sercomtel.

"Esse segmento de call center é muito dinâmico. É comum as empresas, tomadores de serviços encerrarem o contrato, impactando em demissões", afirma Rodrigo Bittencourt, advogado responsável pelo setor jurídico do Sinttel (Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações do Paraná). Este ano, segundo ele, Londrina é que concentrou o número mais relevante de demissões do setor no Estado, devido aos casos da Vikstar e do CTD.

CTD

A diretoria da Companhia de Tecnologia e Desenvolvimento de Londrina confirmou a demissão de 83 dos seus 316 funcionários no final do mês passado, devido ao término do contrato de prestação de serviços em teleatendimento com a Sercomtel Telecomunicações em julho de 2020.

Intitulada "CTD, um novo momento", a nota diz que, com o fim do contrato, a empresa iniciou um processo de reestruturação organizacional, já noticiada pela FOLHA no mês passado. Segundo a CTD, os 83 funcionários desligados faziam parte da equipe que atendia a Sercomtel diretamente.

"Neste novo cenário, a CTD está tomando decisões difíceis e fazendo ajustes no seu corpo funcional. Dos nossos 316 funcionários, 83 estão nos deixando neste momento – a expressiva maioria atuava diretamente para atender aos serviços prestados à Sercomtel Telecomunicações", diz a nota.

De acordo com a companhia, seriam garantidos aos funcionários desligados todas as verbas rescisórias que são de direito - como salário, aviso prévio indenizado, férias, 13º Salário, FGTS acrescido de verba indenizatória e guias do seguro-desemprego -, e a empresa está buscando junto à Secretaria do Trabalho, Emprego e Renda a recolocação dos trabalhadores no mercado de trabalho.

"Antes disso, a companhia já havia feito um programa de reciclagem profissional para aproveitamento de parte dos colaboradores em novas funções, já que, a partir deste momento, ela muda de foco no mercado, deixando de ser uma empresa exclusivamente de call-center e voltando-se para o oferecimento em serviços de tecnologia e inovação tecnológica", continua a nota.

SERCOMTEL

Antes disso, no começo do ano, a Sercomtel desligou em um PDV (Plano de Demissão Voluntária) cerca de 160 funcionários, de acordo com Bittencourt, em função da reestruturação da empresa após o seu controle acionário ser transferido para o Grupo Bordeaux.

VIKSTAR

Em meados de maio, a contact center Vikstar desligou todos os seus 8 mil funcionários espalhados em unidades em Londrina, São Paulo e no Piauí. Só em Londrina, cerca de 1.100 trabalhadores foram afetados. As demissões ocorreram depois que a Telefônica rescindiu o contrato de prestação de serviços com a Vikstar, em março.

Um PDI (Plano de Demissão Incentivada) foi oferecido aos funcionários, porém, nem todos os conseguiram entrar no plano e nem receberam as verbas rescisórias da Vikstar. Calcula-se que cerca de 10% dos demitidos estejam nesta situação.

Segundo o advogado do Sinttel, há um procedimento relacionado a este caso tramitando no MPT (Ministério Público do Trabalho) que tem chances de ingressar com uma ação civil pública para resguardar os direitos dos trabalhadores. Os ex-funcionários também estão entrando com ações individuais contra a Vikstar.

'O impacto social é enorme'

Diante das demissões muitas vezes inevitáveis, resta ao sindicato tentar minimizar o impacto sociais dos desligamentos, ressalta o advogado do Sinttel, Rodrigo Bittencourt. "O papel do sindicato é primeiramente buscar a preservação dos empregos. Não sendo possível, tentamos mitigar o impacto social."

No caso do CTD, por exemplo, a empresa havia sinalizado que haveria 130 demissões. Em audiência através do MPT, entretanto, Bittencourt afirma que foi possível reduzir as demissões e estabelecer critérios para os desligamentos, a fim de preservar funcionários mais velhos, com necessidades especiais ou com crianças pequenas, por exemplo.

Os jovens compõem boa parte do quadro dessas empresas, já que as funções nos call center costumam ser porta de entrada para o mercado de trabalho. "O empregado quando inicia tem a perspectiva de trabalhar sem ter quebras de contrato, mas infelizmente demissões ocorrem. O impacto social é enorme. Há muitos trabalhadores jovens, de primeiro emprego, mas também tem quem tem filhos, mulheres", lamenta o advogado.

Mercado não consegue absorver todos

Prova de que o setor de contact center é um mercado dinâmico é o fato de que, neste mesmo ano, uma empresa gaúcha de atendimento, a Alô Atendimento, abriu as portas na cidade, gerando 230 empregos para a operação de atendimento da Copel. Mas, apesar de elevado, o número de vagas não consegue absorver todos os funcionários desligados em Londrina no setor este ano.

A SMTER (Secretaria Municipal do Trabalho, Emprego e Renda) de Londrina já identificou 42 vagas para operadores de telemarketing na cidade para oferecer para os trabalhadores demitidos. Além disso, a secretaria oferece cursos de qualificação próprios ou em parceria com o Senai e Senac para que os ex-funcionários possam se qualificar e se recolocar no mercado de trabalho, e dá direcionamento para quem quer empreender e ter o próprio negócio.

"A cidade vem dando uma resposta muito robusta na retomada da economia. Temos quase 5,5 mil de saldo positivo de empregos em 2021 e de uma forma muito heterogênea. Praticamente todos os setores da economia contribuíram com mais de mil postos de emprego para esse saldo", diz o secretário do Trabalho, Emprego e Renda, Gustavo Santos. "Sabemos que o volume de demissões na área de atendimento call center foi alto, mas o Caged demonstra que os outros setores têm absorvido mão de obra e, nesse momento, pode ser a oportunidade para esses profissionais trilharem uma nova carreira."

Os interessados nas vagas da SMTER podem entrar em contato com a secretaria pelo telefone (43) 3373-5708 e pelo e-mail [email protected].