As fusões e aquisições na área de educação no Brasil começaram a crescer por volta de 2007, quando grande grupos do setor começaram a abrir o seu capital. O ano seguinte foi o período com maior número de transações do tipo, principalmente no Ensino Superior, segundo a consultoria KPMG.

Imagem ilustrativa da imagem Fusões e aquisições na área de educação migram para o ensino básico
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Em Londrina, casos de aquisição de universidades por estes grandes grupos não faltam. Em 2007, a Kroton anunciou a compra da Faculdade Metropolitana (hoje Pitágoras), por R$ 18 milhões. Em 2011, foi a vez da Unopar, pelo mesmo grupo. O valor da transação, de R$ 1,3 bilhão, foi considerado o maior do setor na época. Em 2017, o Grupo Positivo, de Curitiba, adquiriu a FAAT (Faculdade Arthur Thomas).

Com a consolidação cada vez maior desses grupos, as universidades com um grande número de alunos começaram a faltar no mercado. Além disso, o EaD (Ensino a Distância) começou a crescer exponencialmente, mais do que o ensino presencial.

"De 2009 a 2019, o Ensino Superior presencial cresceu 20% e o a distância 192%. Os grupos viram que não precisavam comprar universidades em certas regiões. Poderiam abrir polo e fazer aulas a distância", explica Marcos Bôscolo, sócio de auditoria e head do setor de educação e terceiro setor da KPMG no Brasil.

Agora, as fusões e aquisições começam a migrar para a educação básica. No início do mês, o Grupo Positivo anunciou a aquisição da escola St. James', mas as transações no segmento começaram mais cedo. Em 2017, o grupo também havia adquirido a Escola Berlaar Santa Maria, na Av. Maringá. Em 2019, o grupo Cognita comprou o Colégio Maxi, Colégio NeoDNA e NewMed.

Os grandes grupos pensam hoje a jornada do aluno como um todo, afirma Bôscolo. "O ensino básico tem 40 mil escolas privadas, tem muita gente para ser comprada e chance boa de se consolidar."

A aquisição de escolas de ensino básico se estendeu ao período da pandemia, em que as instituições viram suas receitas e margens de lucro caírem intensamente devido à inadimplência, aumento de descontos e evasão.

Douglas Oliani, presidente do Sinepe/PR (Sindicato das Escolas Particulares do Paraná), fala da situação delicada pela qual as escolas particulares passaram na pandemia. "A gente assistiu um monte de escolas quebrando, principalmente as particulares. Qual o tipo de empresa que tem o capital de giro para mais de 16 meses se não for uma multinacional? É como qualquer outra empresa, que tenha que cumprir com suas obrigações, sejam elas econômicas, financeiras, educacionais. Ficamos quase 18 meses com essa crise pra poder voltar."

Dos 55 milhões de jovens na Educação Infantil, Fundamental e Ensino Médio no Brasil, a iniciativa privada detém 16%, afirma Oliani. No Ensino Superior, esse índice é de cerca de 80%. Ou seja, há espaço para crescer na educação básica. "Grandes players estão vindo para o segmento para aproveitar o mercado que nesse próximo semestre será a alavanca do outro para voltar àquilo que era a normalidade, e com espaço bastante grande para esse movimento de 16% (de alunos nas escolas particulares) virar 18%, 20%."

A proximidade do retorno à normalidade nas escolas, após um longo período de pandemia, a perspectiva de reaquecimento da economia e o déficit educacional brasileiro, com possibilidade de retorno no futuro, fazem com que a educação básica se torne atrativa aos olhos dos investidores, opina o presidente do Sinepe/PR.

'Mercado educacional é investimento de longo prazo'

"O mercado nacional de educação é um mercado atípico quando se considera todo o mundo. Hoje estamos em um cenário mundial de baixas taxas de juros e o mercado educacional começa a ser de interesse do capital internacional, porque é um mercado visto como de frutos em longo prazo, não a curto prazo", afirma Fred Ganem, presidente do Grupo Bertoni, de Foz do Iguaçu, que adquiriu recentemente o controle do Elite Pré-Vestibular, especializado na preparação de alunos para o curso de Medicina de Porto Alegre (POA).

O investimento na operação é previsto em R$ 30 milhões para ampliar a atuação do curso pré-vestibular para o Ensino Médio em 2022.

Fundadora do Elite Pré-Vestibular junto com Daniel Lavouras, Vanessa Silva afirma que a incorporação do curso à Rede Bertoni faz com que o trabalho de ambos tenha mais impacto. "Vejo como positivo porque é agregar forças. Todo o trabalho que historicamente fazíamos em unidades individuais, com esse novo formato há a possibilidade de ter mais força, conseguir ter mais impacto."

Ganem afirma que o grupo Bertoni, que já conta com quatro unidades no Brasil e uma no Paraguai, em Ciudad del Este, tem vários negócios na educação básica se encaminhando, inclusive no Norte do Paraná, em conjunto com um fundo de investimento norte-americano. O primeiro que se efetivou foi do Elite em Porto Alegre. "Nossa meta é chegar até o final de 2022 com uma faixa de 20 mil alunos e consolidação de pelo menos 10 escolas", afirma o presidente do grupo.

O foco do grupo, formado em meados de 2000 por profissionais que atuavam no mercado de educação corporativa em São Paulo e no Rio de Janeiro, agora está no Ensino Médio que se destaca pela performance e na Educação Infantil e anos iniciais.

Consolidação de grandes grupos traz impactos à educação

O perfil das fusões e aquisições na educação básica costumam ser diferentes das que ocorrem no ensino superior, observa Cinthia Ribeiro, sócia-fundadora da BRS Partners, empresa especializada na assessoria de processos de fusões e aquisições que conduziu grandes transações na área de educação em Londrina. "Os grupos normalmente mantém a equipe, são total liberdade na gestão pedagógica porque as escolas e colégios geralmente são formadas por professores e pessoas que fundaram para criar educação de qualidade para seus filhos. Então eles são bons na parte pedagógica, e o grupos acabam agregando valor mais com a parte operacional, administrativa e de contabilidade."

Por outro lado, as escolas se preocupam com o legado que irão deixar, já que é comum que estas instituições não tenham sucessão. "São décadas de trabalho e você quer que haja continuidade. Esses grupos vêm trazer essa forma de perpetuar. E os grandes grupos ajudam bastante com a capacidade de investimento, principalmente agora com a pandemia.

Na visão de Marcos Bôscolo, head do setor de educação da KPMG no Brasil, a consolidação de grandes grupos educacionais, por um lado, permite que tecnologias pedagógicas sejam levadas a escolas de forma mais igualitária. "Os grandes grupos têm centros pedagógicos onde se consegue desenvolver conteúdo, plataformas tecnológicas e prover a todo mundo de forma igualitária. Levam a uma escola pequena, que foi comprada, soluções de tecnologia pedagógica que ela não teria se ficasse sozinha no mundo dela."

Ao mesmo tempo, a cada trimestre, os grandes grupos precisam prestar contas aos acionistas sobre os resultados das suas empresas. "Quando essas grandes corporações divulgam resultados, elas abrem um capítulo para falar como estão as suas avaliações no MEC, Enade, Enem para mostrar que não estão perdendo qualidade em detrimento do lucro."

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