O efeito da pandemia do novo coronavírus não afeta apenas a bolsa de valores, que tem registrado quedas constantes nos últimos dias. As estimativas para o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro também são de retração. O BC (Banco Central) revisou a projeção para o crescimento do indicador para zero em 2020. A expectativa de contração foi publicada no relatório trimestral de inflação, divulgado nesta quinta-feira (26). Já o banco Itaú trabalha com um cenário mais otimista. Apesar de prever a possibilidade de redução da projeção de crescimento do PIB de 1,8% para -0,7%, acredita em uma alta de 5,5% para 2021. Economistas, no entanto, veem com cautela qualquer estimativa feita neste momento e alertam que o futuro pode ser bem mais desafiador.

Imagem ilustrativa da imagem Crise do coronavírus reduz projeções para o PIB em 2020

O relatório anterior do BC, divulgado em dezembro de 2019, estimava alta do PIB de 2,2% para este ano, mas na semana passada o Ministério da Economia já havia cortado a projeção oficial para 0,02% de crescimento. “A alteração da projeção está associada, principalmente, a impactos econômicos expressivos decorrentes da pandemia de Covid-19. Adicionalmente, resultados abaixo do esperado em indicadores econômicos no final de 2019 e início de 2020 afetaram a expectativa de desempenho da atividade no primeiro trimestre”, diz o relatório.

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A projeção anual considera “recuo acentuado do PIB no segundo trimestre, seguido de retorno relevante nos últimos dois trimestres do ano”, segundo o documento do BC. O relatório aponta que até 17 de março, quando havia 291 casos confirmados de coronavírus no País e uma morte, os principais indicadores econômicos com frequência mensal ainda não refletiam os efeitos da doença.

Enquanto em fevereiro a maior preocupação era com potenciais problemas no fornecimento de insumos importados e com a demanda externa, ao longo da segunda semana de março a atenção se voltou para a retração da demanda doméstica e as consequências das restrições impostas para conter o avanço do coronavírus.

Também como efeito da pandemia, o BC reduziu as estimativas de inflação para 3% em 2020, 3,6% em 2021 e 3,8% em 2022. As expectativas levam em conta taxa básica de juros (4,25%) e câmbio (R$ 4,75) constantes. No relatório anterior, a inflação projetada era de 3,6% (2020), 3,7% (2021) e 3,9% (2022).

OTIMISMO PARA 2021

Mais otimista, o relatório de Perspectivas Econômicas desenvolvido e publicado pelo Departamento de Pesquisa Macroeconômica do Itaú Unibanco S.A. reduz a projeção de crescimento do PIB de 1,8% para -0,7% em 2020 devido aos efeitos negativos da pandemia de coronavírus, mas para o ano que vem, a projeção é de alta de 5,5% contra 3% da projeção inicial. A instituição financeira acredita que o nível do PIB entre o terceiro e o quatro trimestres de 2020 permanecerá o mesmo em relação ao que se projetava anteriormente, uma vez que o choque sobre a atividade econômica deve ser temporário.

“É um pouco de futurologia, mas a gente sempre usa alguns parâmetros para fazer a análise. Um olhar mais detido sobre o relatório do Itaú mostra que a taxa de desemprego ficou a mesma (11,4% ante 11,6% em 2019)”, analisa o economista Marcos Rambalducci, que acredita em uma taxa de desemprego bem mais acentuada. “Vamos perceber uma quantidade grande de micro e pequenas empresas fechando as portas. Vamos passar por um momento bastante depressivo em termos econômicos.”

CAUTELA

O relatório do Itaú, avalia Marcos Rambalducci, estaria subestimando a queda no PIB, que terá fortes reflexos no mercado de trabalho. “Teremos 13,3% a 13,4% de taxa de desemprego e isso significa menor consumo das famílias. Sem consumo, impacta o PIB.” O relatório, observa Rambalducci, apostando fortemente no crescimento da demanda chinesa porque o PIB da China está subindo em 2020 e de alguma maneira, essa projeção ajudaria a desovar os produtos brasileiros no mercado internacional. “Mas está muito recente para ser otimista. Deve aguardar para ser otimista daqui a 60 dias. O cenário que se avizinha não mostra que o PIB brasileiro vá ficar com um déficit tão pequeno assim (-0,7%). Eu acredito em um cenário bem mais desafiador, com uma contração de 1,5% a 2%.”

Economista e professor do Departamento de Economia da UEL, Sidnei Pereira do Nascimento também prefere adotar uma postura mais cautelosa neste momento. Apesar de as projeções estarem embasadas em características técnicas e modelos matemáticos, ainda é muito cedo para prever os reflexos das pandemia sobre a economia nacional, avalia ele. “Mas parecer ser evidente que vai haver uma queda no PIB nas projeções de crescimento do mundo inteiro, mas vai depender das políticas que os governos vão adotar para o trabalho e a renda, de quanto tempo nós vamos perdurar nesse confinamento. Parece razoável que na melhor das hipóteses nós teríamos uns três ou quatro meses de economia paralisada.”(Com Folhapress)

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