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Sylvio do Amaral Schreiner - Mundo Vivo 5m de leitura

Como você lida com sua dor?

Para muitas dores há remédios eficientes e recomendáveis, para outras dores não há química possível

ATUALIZAÇÃO
06 de abril de 2023

Sylvio do Amaral Schreiner
AUTOR

Imagem ilustrativa da imagem Como você lida com sua dor?

Dá para se notar que é alto o número de pessoas que fazem uso de remédios psiquiátricos. Praticamente dentro de toda família tem alguém ou até mesmo mais de um que toma remédios psiquiátricos controlados. Antidepressivos, ansiolíticos, estabilizadores e mais isso e aquilo. Nunca essa classe de medicamentos foi tão usada e abusada quanto agora e isso merece uma boa reflexão. Vejo que há dois motivos para esse excesso.

O primeiro deles é que hoje em dia há toda uma evolução nesses remédios que antes não existia. Há remédios muito mais eficientes e que quando bem usados podem fazer um divisor de água nas vidas de muitas pessoas que sofrem com diversos tipos de distúrbios. Temos que ser honestos e justos: os remédios psiquiátricos também são aliados importantíssimos para muitos casos e sem eles muitas pessoas não teriam o mínimo de qualidade de vida. Ninguém precisa sofrer desnecessariamente se há recursos válidos para ajudar alguém a ficar bem ou pelo menos melhor em seu sofrimento. Então, vamos deixar claro que para muitas situações esses remédios são instrumentos que viabilizam uma qualidade de vida imprescindível. E por isso mesmo, por haver vários tipos de remédios eficientes, eles acabam sendo mais utilizados do que jamais foram

No entanto, quero chamar atenção para outro lado bem obscuro e preocupante. Quando esses mesmo remédios não são usados simplesmente, mas são abusados. Viram a panaceia para todos os males. O que temos aqui é algo de outra natureza. Não tem mais a ver com tratamento sério e eficaz, mas com escapismo simples e puro. O ruim é que vivemos atualmente uma epidemia de abusos desses medicamentos e isso é muito prejudicial.

Para muitas dores há remédios eficientes e recomendáveis, para outras dores não há química possível, mas necessita-se de outra abordagem para tratar delas. Muitos dos nossos sofrimentos psíquicos não podem ser “varridos” e “eliminados” das nossas vidas com ajuda farmacêutica, porém podem ser elaborados e transformados através da mente para que fiquemos mais fortes e capazes nessa vida para lidar com tantas adversidades. Sem desenvolver uma mente por mínima que seja ficamos incapacitados para lidar com a vida, com o que sentimos, com nossos desejos e angústias.

Tornar-se humano tem a ver com desenvolver uma mente que dê conta de pensar as experiências de vida, de digeri-las. Quando digo mente não me refiro à mente lógica, intelectual, mas a mente que nos possibilita pensar de fato a vida. Há muita gente bem inteligente que não tem mente desenvolvida e sofrem muitos sofrimentos intensos e que minam suas vidas.

O grande problema é que entrar em contato com a dor da vida é algo que dá medo e assusta. Não é à toa então que os remédios psiquiátricos são utilizados indiscriminadamente para entorpecer e assim não nos deparamos com aquilo que é nosso e precisa ser enfrentado, com tudo aquilo que é humano e que se pensado nos enriqueceria muito. Todos querem evitar as dores, mas não compreendem que nem toda dor é uma inimiga em si. Ela pode ser algo que nos leve a mudar, a transformar muitas coisas em nossas vidas. Mas se alguém está ‘anestesiado’ não vai poder pensar a própria vida e ficará sempre refém da medicação.Precisamos reavaliar como lidamos com nossas dores.

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A opinião do colunista não é, necessariamente, a opinião da Folha de Londrina

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