O envelhecimento é um processo natural da vida, mas nem por isso deixa de trazer consigo uma série de desafios e angústias. Podemos compreender essa angústia como uma reação diante da percepção da finitude e das transformações que ocorrem no corpo e na mente ao longo do tempo. Fora isso também há o fato de que, socialmente, a juventude é valorizada como o suprassumo da vida, enquanto a idade mais avançada é vista de maneira marginalizada. Em uma sociedade e cultura, como a brasileira, que reverencia a juventude, envelhecer traz dores e sofrimentos.

Quando nos aproximamos da velhice, muitas vezes nos deparamos com a sensação de que o tempo está passando rápido demais, e isso pode desencadear um sentimento de perda profundo. Esse sentimento é alimentado pela observação de que a juventude está ficando para trás, juntamente com a vitalidade e a energia que lhe são atribuídas.

Além disso, o envelhecimento traz consigo uma série de mudanças físicas e emocionais. O corpo já não responde da mesma forma, surgem doenças e limitações que antes não existiam. Essas transformações podem causar um profundo desconforto, pois confrontam a imagem que temos de nós mesmos e nos confrontam com a nossa própria fragilidade e impotência diante dos processos naturais. Nunca é confortável se dar conta de que temos uma data de validade e que por mais que possamos estende-la, ela ainda assim chegará.

Por exemplo, imagine alguém que sempre foi muito ativo e independente, mas que, ao envelhecer, começa a enfrentar dificuldades para realizar tarefas simples do dia a dia, como subir escadas ou se vestir. Essa pessoa pode se sentir impotente e desamparada diante das suas limitações, o que gera uma grande angústia.

Outro exemplo é o medo da solidão que muitas vezes acompanha o envelhecimento. À medida que os amigos e familiares vão partindo ou se distanciando, o idoso pode se ver cada vez mais isolado e desamparado, o que contribui para o aumento da angústia.

No entanto, é importante ressaltar que o processo de envelhecimento também pode ser encarado de outras formas que não negativas. A psicanálise nos ensina que, mesmo diante das limitações e das perdas, é possível encontrar novos significados e fontes de satisfação na vida ao envelhecer. Por tratar-se de um processo, cada um vai ter o seu modo particular de ir se recompondo e descobrindo novos caminhos que possam ajudar a se abrir a novos encantos de um outro ciclo de vida, desfazendo assim preconceitos para se disponibilizar às novas experiências. Ao invés de nos apegarmos à necessidade ilusória de uma eterna juventude, podemos aprender a valorizar a sabedoria e a experiência, bem como a liberdade de pensamento, que também pode vir com a idade.

A psicanálise, penso eu, é um excelente instrumento que permite um mergulho no interior de si próprio e que por isso mesmo pode contribuir imensamente para uma percepção mais refinada de si a cada momento da vida, principalmente quando temos que nos deparar com mudanças essenciais que pedem uma nova reconfiguração de como nos vemos e nos entendemos.

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A opinião do colunista não é, necessariamente, a opinião da Folha de Londrina